Continua a confusão no poleiro dos tucanos
Com a estagnação da candidatura presidencial de Geraldo Alckmin, FHC passou a patrocinar o nome de Luciano Huck, visto por Lula e Bolsonaro como "o candidato da TV Globo"
O PSDB está numa encruzilhada, e ainda é possível que o partido repita mais uma vez a sucessão de derrotas em eleições presidenciais, que vem registrando desde 2002.
As duas vias que os tucanos têm pela frente se chamam, de um lado, Geraldo Alckmin. De outro, uma solução tida como milagrosa: Luciano Huck, sob o amparo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A estagnação do governador de São Paulo nas pesquisas de intenção de voto é um dos mistérios que especialistas não conseguem muito bem explicar.
Pelo Datafolha, ele é avaliado como ótimo ou bom por 34% dos eleitores paulistas, e como regular por 38%. A fatia que o considera ruim ou péssimo, de 25%, cobre, como o esperado, o eleitorado potencial do Partido dos Trabalhadores.
Em 2006, quando foi derrotado por Lula no segundo turno, Alckmin foi criticado pela falta de carisma. Mas se esse atributo fosse fundamental, ele não teria sido, em seguida, eleito e reeleito governador.
Até maio de 2016, Alckmin ainda tinha como adversário interno o senador Aécio Neves (MG), beneficiado pelo recall das eleições de 2014.
Mas Aécio derreteu como personagem político depois da divulgação da gravação de uma conversa, em que ele pedia R$ 2 milhões para Joesley Batista, do grupo J&F.
O atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, também aspirante à candidatura tucana ao Planalto, não é uma ameaça ao governador de São Paulo.
Embora com a reputação de excelente quadro do partido, articulado e bom administrador, Virgílio quer em verdade juntar um capital político para voos futuros.
HUCK, UMA SOLUÇÃO EXTERNA
Mas com Alckmin há cinco meses estagnado, FHC se torna porta-voz de uma solução externa, a de Luciano Huck, um nome que, se desse certo, não deixaria os tucanos por mais quatro anos ao sereno.
Huck não se diz candidato, e até segunda ordem continua válida sua declaração, no final de novembro, de que não mais pretendia disputar o Planalto.
Mas o nome dele cresceu a partir do momento em que Lula se tornou inelegível, ao ser condenado em segunda instância, em Porto Alegre.
O próprio novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luiz Fux, afirmou que não havia como registrar a candidatura de um político que escorregou na Lei da Ficha Limpa, que, ironicamente, foi o próprio Lula, como presidente, que promulgou.
Pois é nesse quadro de possibilidades que Huck tende a ressuscitar de um falecimento político que nunca chegou, verdadeiramente, a ocorrer.
Se fosse para levar em conta apenas a política, Alckmin derrotaria Luciano Huck por algo próximo a um 7 a 1.
A questão, no entanto, é saber se apenas um político mais experiente teria condições de desempenhar todas as atribuições de um presidente, sobretudo dialogar com o Congresso.
Mas tudo é uma questão de assessoria e da escolha de bons operadores para preencher essa montanha de tarefas.
HUCK E OS FUSÍVEIS
Quando era presidente, FHC também destacava a necessidade de ter em seu círculo imediato articuladores que funcionassem como fusíveis.
Em caso de curto-circuito, a eletricidade seria freada pelo dispositivo e não atingiria o gabinete presidencial.
Huck, caso dispute a eleição e venha a ser eleito, precisaria de uma quantidade e de uma qualidade excepcionais de homens com esse perfil.
Mas ele pode justamente contar com o estoque humano oferecido por sua base inicial de apoio, que seria – em caso de a articulação de FHC funcionar – com o próprio PSDB.
O curioso está no fato de, mesmo sem ser (ainda) candidato, Huck já estar esboçando a mais díspare das coalizões contra seu nome. Dela fazem parte Lula e também o deputado Jair Bolsonaro (RJ).
O ex-presidente petista acusou o empresário e apresentador de TV de ser o instrumento pelo qual a Rede Globo dispensaria intermediários e passaria a mandar no país por conta própria.
Bolsonaro declarou que Huck seria “o candidato da TV Globo”.
De qualquer modo, nada indica que, com esse roteiro, os tucanos poderão emplacar um novo mandato presidencial.
O que existe é a potencial realização de algo que tenha o mesmo perfil político. Nas eleições municipais de 2016, contrapondo-se ao fracasso eleitoral do PT, foi o PSDB que recebeu os maiores lucros.
As presidenciais de outubro de 2018 serão as eleições seguintes. Mas com condimentos que não são mais os mesmos.
Há em primeiro lugar o aumento (a seguir ligeiramente recuperado) do desprestígio do presidente Michel Temer, com o qual os tucanos mantêm uma relação mais que ambígua.
Abriram mão de dois ministérios importantes que tinham (Cidades e Articulação Política), mas mantêm o Itamaraty.
Caso fizessem oposição ao governo, os tucanos teriam provavelmente crescido. Mas eles estavam presos a uma lógica pela qual não poderiam renegar as reformas das quais foram sempre defensores.
O único risco que não existe é de o PSDB ser confundido com correntes da esquerda não-petista. Marina Silva, Ciro Gomes ou Roberto Requião circulam em outra faixa política.
Mas o risco que existe é de a candidatura tucana se confundir com algum grande nome liberal. Mas esse nome simplesmente não existe.
Rodrigo Maia (DEM), o presidente da Câmara dos Deputados, é um nome por enquanto figurativo. E Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda, estancou entre 1% e 2% das intenções.
É por isso que ainda se leva o PSDB a sério. Com concorrentes tão fracotes, os tucanos estarão por enquanto em condições razoáveis na disputa.
FOTOS: Wilson Dias (Fotos Públicas); Wikmedia Commons e Gilberto Marques (A2img-Fotos Públicas)