Tucanos estão à beira de um ataque de nervos
A candidatura de Geraldo Alckmin não decola em intenções de voto. Ex-governador ainda não reverteu a desvantagem para Bolsonaro no interior de São Paulo

Roberto Cardoso Alves (1927-1996), deputado federal paulista e ex-ministro de Sarney, tinha como reduto o Vale do Paraíba. Contava que, certa madrugada, telefonaram-lhe de Mogi das Cruzes para informar a morte de um cabo eleitoral.
“Robertão” ajeitou o despertador, madrugou e às 6h30 estacionou na frente da casa do morto. Mas Geraldo Alckmin havia chegado um minuto antes dele e já ajudava a descarregar o caixão que providenciou para a família.
“Impossível concorrer com um sujeito como esse”, comentava Cardoso Alves, em referência ao ex-prefeito de Pindamonhangaba e desde 1986 deputado federal.
Alckmin, hoje com 67 anos, conheceu três derrotas nas urnas e não se desmotivou. Tentou por duas vezes ser prefeito paulistano (2000 e 2008) e uma vez presidente da República (2006).
Mas compensou esses insucessos com três vitórias expressivas para o governo de São Paulo (2002, 2010 e 2014).
A questão é agora saber se ele chega ao Planalto ou veste precocemente o pijama. O partido do qual é presidente nacional, o PSDB, está nervoso e não muito otimista.
A constatação essencial é bastante simples: Alckmin não decolou.
Sua candidatura, que vinha há meses em banho-maria, levou um grande susto com a última pesquisa do instituto MDA (14/5), que registrou com relação a março uma queda de 8,6% para 5,3% das intenções de voto.
Ao mesmo tempo, também caiu o potencial de brasileiros que disseram poder futuramente votar nele: 38% para 31,9%.
UM CENÁRIO DE APREENSÃO
São números decepcionantes, sobretudo depois da desistência do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, cuja candidatura presidencial circulava por um perfil de eleitores que muitos acreditavam estar próximo ao dos tucanos.
Essa perda de apoio com o paralelo aumento da rejeição podem estar ligados ao noticiário da Lava Jato.
Depois que se desincompatibilizou do governo do Estado e perdeu o foro especial no início de abril, Alckmin passou a ser ruidosamente associado à Odebrecht, cujos delatores informaram sobre doações em caixa-dois de R$ 10,7 milhões, para as campanhas dele em 2010 e 2014.
Desse montante – em troca de favorecimento em obras do metrô e saneamento básico - R$ 2 milhões teriam sido entregues, em cédulas bancárias, ao cunhado do ex-governador, Adhemar Ribeiro.
Alckmin nega que tais fatos tenham ocorrido. Mas para um deputado federal do partido, o grande temor está hoje na hipótese de o cunhado ser preso e partir para uma delação.
A rigor, para quem disputou uma vez o Planalto e três vezes o palácio dos Bandeirantes, doações lícitas e ilícitas de campanha seriam consideradas como um pecado menor, já que o dinheiro não foi incorporado ao seu patrimônio pessoal.
É um roteiro bem mais ameno que o da tempestade que pode vitimar, por exemplo, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, que, segundo a Polícia Federal, teria embolsado uma parte do caixa-dois que recebeu.
O fato, no entanto, é que a Odebrecht e outros episódios gerados por políticos do PSDB acabaram por corroer uma imagem que Alckmin precisava manter intata.
UM JOGO DE ALTERNATIVAS
Ao se candidatar a presidente, Alckmin sabia que seu adversário de 2006, o ex-presidente Lula, estaria fora da disputa. Um ficha suja, hoje preso.
Teoricamente, seria mais fácil disputar uma eleição sem precisar polarizar com o PT. A realidade, no entanto, não era bem essa.
Recente pesquisa qualitativa informou que o nome de Alckmin estava associado à mesma ideia de “velha política” que hoje desprestigia o presidente Michel Temer.
Algo decepcionante para o ex-governador, que se preparava para transformar em propaganda seus feitos administrativos – equilíbrio fiscal paulista, que evitou a tragédia do Rio de Janeiro ou de Minas Gerais, combate bem-sucedido à crise hídrica, em 2015, bons números na segurança pública e assim por diante.
Mas a notícia realmente ruim veio do interior de São Paulo, com a dianteira de Jair Bolsonaro sobre o representante tucano. O ex-capitão e candidato do PSL invadira um segmento de eleitores – proprietários rurais, católicos muito religiosos, pessoas inseguras com a criminalidade – que havia sido de seu quintal.
O plano estava, então, em reconquistar o interior –o que Alckmin tenta fazer de forma obsessiva, mobilizando prefeitos e ex-prefeitos – e trabalhar para polarizar com Bolsonaro no segundo turno de outubro.
Seria um cenário onírico, pois receberia o voto útil de um arco da sociedade que vai dos liberais à esquerda.
O problema, no entanto, é saber –a exemplo do que aconteceu nas duas ocasiões em que disputou a prefeitura de São Paulo –se a candidatura dele terá fôlego para não ser desclassificada no primeiro turno de 7 de outubro.
É o novo “x” da questão. Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) tendem por enquanto a crescer com a ausência de Lula. Se aos dois se juntar Bolsonaro, Alckmin repetiria o cenário de 1989, quando o tucano Mário Covas precisou se contentar com a quarta colocação.
Dentro do próprio PSDB – onde nenhum outro nome ocuparia a parte frontal da cena, a não ser que Alckmin jogue a toalha – há uma compreensível preocupação.
Candidato a cargo majoritário com pouca opção de voto acaba enfraquecendo os candidatos a cargos proporcionais (deputados federais e estaduais).
É isso que provoca intrigas entre os tucanos, com gente que gostaria de ver novamente o ex-prefeito paulistano João Doria na disputa pelo Planalto – ele é hoje candidato a governador – e ainda, com menor força, aqueles que propõem substituir Alckmin pelo senador tucano Antonio Anastasia (MG), candidato ao governo de Minas.
É nesse pé que todos estão torcendo para que a Copa do Mundo gere boas oportunidades de gafes, que façam os adversários perderem espaço nessa fragmentada disputa eleitoral.
FOTO: Divulgação/Governo de São Paulo