Um corredor gastronômico no centro da capital
O movimento “Centricidade” colocou em prática um projeto para que a região se consolide como polo gastronômico, turístico e cultural. O problema ainda é a falta de segurança
Ramona, Paribar, Casa do Porco, Mandíbula, Drosophyla, Dona Onça, Apfel, Salada Record, Ponto Chic, Esther Rooftop, Tibiriçá, La Casserole, La Central, Santinho, Barouche, Buraco, Casa de Francisca, Mundo Pão do Olivier, e outros restaurantes, ou bares, que também mereciam fazer parte desta lista, têm algo que os identifica, além da notoriedade e de serem frequentados por uma clientela fiel.
Todos estão localizados no centro de São Paulo.
A maior parte tem endereços do outro lado do Viaduto do Chá. Quem é de São Paulo, sabe que do Viaduto do Chá para a região da Praça da República, é o centro novo -aquele quadrilátero formado pelas ruas entre a Xavier de Toledo e as avenidas Ipiranga, São João e São Luiz.
Do lado oposto, fica o centro velho, ou centro histórico –onde se situa o Pátio do Colégio, marco inicial da cidade de São Paulo -, e da Praça da Sé.
E é no centro novo que está a maior parte dos restaurantes e bares badalados.
A região entrou definitivamente no mapa gastronômico com as chegadas de chefs com o nome marcado na cozinha nacional e internacional, como Jefferson Rueda, da Casa do Porco, e Olivier Anquier, que ganhou notoriedade como apresentador de TV e comanda o Esther Rooftop e o Mundo Pão do Olivier.
A procura por uma mesa para almoçar ou jantar nestes estabelecimentos costuma provocar longas filas, especialmente nos finais de semana. O corredor gastronômico está consolidado.
Mas é preciso conquistar a confiança de um público que tem inúmeras restrições à região central.
“O centro nunca perdeu a sua pujança e a importância. Os pontos culturais, os bares e os restaurantes sempre foram muito procurados por brasileiros de outras regiões do país e pelos estrangeiros. Quem não costuma passear pelo centro é o próprio paulistano. Como o centro tem muito morador em situação de rua, ficou com fama de violento. Mas o centro é muito mais seguro do que outras regiões da cidade”, afirma Fábio Redondo, diretor da Rede Buenas de Hotéis.
CENTRICIDADE
Ele integra o movimento “Centricidade”, uma iniciativa para promover a área, criado por um grupo de empresários das áreas de cultura, gastronomia e hotelaria.
O “Centricidade”, além de Redondo, tem outros empresários como Leo Henry, da terceira geração do La Cassarole, Lilian Varella, dona do Drosophyla, Janaína Rueda, do Bar e Restaurante Dona Onça e Casa do Porco, Bruno Fischetti, do Ramona, de Rodrigo Alves e do quase centenário Ponto Chic.
O primeiro projeto criado pelo grupo é o Mapa Turístico do Centro de São Paulo, que auxilia o turista a encontrar bares, cafés, restaurantes, teatros, cinemas, hotéis, locais de compras, museus e bibliotecas. O guia também mostra opções de transporte público, como metrô e ônibus.
Redondo afirma que se trata de um movimento espontâneo, sem nenhuma ligação com partidos políticos ou o poder público.
“Nas reuniões que fizemos com o Prefeito da Sé, Eduardo Odloak, deixamos claro que o movimento visa trazer cada vez mais pessoas, turistas e também os paulistanos, para a região central. Quem tem de dar segurança às pessoas é o poder público”, disse Fábio Redondo.
Este é o grande problema da região central. O número de moradores em situação da rua é grande.
O cenário no entorno da Praça da Sé assusta os usuários do metrô e a todos que circulam pelas redondezas.
FALTA SEGURANÇA
Por conta disso, muitos comerciantes tiveram de fechar as portas nas ruas próximas, como a Anchieta, como mostrou reportagem do Diário do Comércio, em janeiro passado.
No início da noite, cerca de 500 moradores em situação de rua tomam a região da Praça da Sé. A maior parte deles se concentra em frente ao Pátio do Colégio, onde instituições religiosas distribuem sopas e lanches.
Os próximos passos do “Centricidade” são uma feira gastronômica e uma campanha de conscientização, com o público paulistano como alvo, para tentar fazer com que as pessoas que moram em outros bairros da cidade percam o medo de andar pelo centro.
“O paulistano tem uma barreira que o impede de visitar o centro”, diz Redondo.
Algumas ações para dar mais segurança à região já começam a ser implantadas. O Pátio do Colégio já conta com uma base da Guarda Civil Metropolitana – GCM – permanente. Na Praça da República, quem faz a segurança é uma base da Polícia Militar.
A Fonte dos Desejos, que fica na Praça Ramos de Azevedo, outro ponto turístico da Capital, foi reativada pela Prefeitura de São Paulo recentemente. Obras foram realizadas para restabelecer o fornecimento de água e energia elétrica para o monumento.
A “Fonte dos Desejos–Glória” integra o conjunto de esculturas do arquiteto italiano Luiz Brizzolara, foi entregue à cidade em 1922 e teve como inspiração a fonte homônima de Roma. Faz parte do Monumento a Carlos Gomes, com um conjunto de 12 esculturas e representa a música, a poesia e personagens das óperas mais famosas do compositor.
O centro, o novo ou o velho, tem história. O Edifício Copan é um dos pontos turísticos da Capital. Com 1.170 apartamentos de 1, 2 e 3 dormitórios, é o maior prédio residencial da América Latina.
É um dos símbolos das obras do arquiteto Oscar Niemeyer e teve o dramaturgo e jornalista Plínio Marcos, já falecido, como um de seus moradores, na década de 1980.
A ideia do movimento “Centricidade” é unir os três pilares - cultura, turismo e gastronomia -para levar as pessoas à região. "Na Praça Dom José Gaspar, por exemplo, além de ótimas opções para comer bem, os paulistanos e os turistas têm à sua disposição a Biblioteca Mário de Andrade”, lembra Rafael Freitas, da SP Free Walking Tour, que também faz parte do movimento.
Lilian Varella é dona do Drosophyla Bar, da Rua Nestor Pestana. O bar ocupa um casarão, que está exatamente igual como foi construído, na década de 1920.
“A casa ficou fechada 25 anos. Como foi tombada pelo patrimônio histórico, tem as suas características intactas. Pago um aluguel caríssimo, mas só o fato de estar no centro de São Paulo já me deixa feliz”, diz Lilian, uma mineira que tinha um bar em Belo Horizonte antes de vir para São Paulo, em 2002.
O Drosophyla já foi ponto de parada da Banda U2, na excursão do grupo irlandês ao Brasil, no ano passado. O vocalista Bono Vox caminhou da Praça da República ao bar, que fica na Rua Nestor Pestana. "Foi um arraso", diz Lilian, mostrando a foto da banda na parede da casa.
Para a empresária, a barreira que faz a maioria dos paulistanos evitar o centro de São Paulo tem uma explicação. “É o medo de explorar o desconhecido”, diz ela.
Pode ser, mas o fato é que há muito o que fazer na região, para que a população paulistana tenha segurança ao caminhar por suas ruas.
Foto: Thinkstock