Próxima parada: Estados Unidos

País, que está no melhor momento econômico desde a crise de 2008, reduziu carga tributária para empresas e tem despertado interesse de empresários brasileiros

Italo Rufino
13/Set/2018
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Próxima parada: Estados Unidos

Um país com taxa de desemprego de 3,9% – uma das menores dos últimos 18 anos – e que viu sua economia crescer 4,1%, somente no segundo trimestre deste ano.

No mesmo período, o gasto dos consumidores teve a maior alta dos últimos quatro anos. As compras de bens de consumo aumentaram 5,9%. Ao mesmo tempo, o setor de serviços cresceu 3,1%.

Já a inflação se mantém baixa. Em maio, a taxa acumulada dos últimos 12 meses foi de 2,2%. E as expectativas para o futuro são positivas. A economia deverá crescer 2,7% neste ano. Em 2019, a estimativa é de 2,9%.

Você deve estar perguntando que pais é esse (e certamente já sabe de que não se trata do Brasil).

O destino que enche os olhos do mundo dos negócios é os Estados Unidos. O país está no melhor desempenho desde a crise econômica mundial, iniciada em 2008.

De acordo com Steven Mnuchin, secretário do Tesouro do país, o PIB americano deverá crescer, anualmente, 3% nos próximos quatro anos. A última vez que o país ultrapassou a casa dos 3% foi em 2006.

ENCONTRO NA ACSP ABORDOU OPORTUNIDADES PARA
EMPRESAS BRASILEIRAS NOS ESTADOS UNIDOS (Foto: Italo Rufino)

A franca expansão ao norte da fronteira tem chamado a atenção de brasileiros.

De acordo com Carlo Barbieri, economista e fundador do Oxford Group, consultoria especializada em internacionalização de empresas, houve aumento de 40% no interesse de empresários daqui que desejam atuar lá.

“A internacionalização é fundamental para a sobrevivência de uma empresa”, disse o economista. “É uma alternativa para não deixar todos os ovos numa mesma cesta”.

Barbieri foi um dos palestrantes do seminário “Como inserir sua empresa no mundo global por meio da internacionalização”. Veja o vídeo da palestra, na íntegra, abaixo.

O evento aconteceu na última terça-feira (11/09), na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

O encontro foi organizado pela São Paulo Chamber of Commerce, braço de comércio exterior da ACSP, em parceria com FocoAmerica.com, Grupo Oxford USA, Preview Media Group (PMG), CECIEx e Advanced Corretora.  

Entre as facilidades de manter um negócio nos Estados Unidos, Barbieri destacou a recente redução de imposto de renda para pessoa jurídica. A alíquota recuou de 35% para 21%.

Outra medida do Governo Trump foi deixar de tributar o lucro de filiais internacionais de empresas com sede nos Estados Unidos que desejam repatriar os rendimentos. 

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O BEABÁ ANTES DE ARRUMAR AS MALAS

No início de 2015, a rede de hamburguerias Madero, que tem apresentado crescimento sólido no Brasil nos últimos anos, investiu US$ 1,5 milhão para abrir uma loja numa das mais importantes vias de Miami: a Ocean Drive, cenário de filmes famosos, como Scarface.

Três anos depois, a mesma loja fechou as portas. O motivo? O lucro ficou aquém das expectativas. A unidade faturava US$ 200 mil por mês. No entanto, fechou o ano de 2017 com Ebitda de US$ 140 mil.

VITALE E BARBIERI: PLANEJAMENTO PRÉVIO E APOIO
JURÍDICO E CONTÁBIL SÃO ESSENCIAIS (Foto: Italo Rufino)

Para comparar, as 123 unidades brasileiras da marca apresentaram Ebitda de R$ 91 milhões no primeiro semestre de 2018. A expectativa é que a operação nacional atinja um Ebitda de R$ 200 milhões até o fim do ano

Se uma empresa bem desenvolvida conseguiu ter baixo desempenho, pequenas e médias empresas correm ainda mais risco ao atuar fora do país. Então, planejamento é fundamental.

De acordo com Lineu Vitale, presidente da Preview Media Group, consultoria de implementação de negócios nos Estados Unidos, a lição de casa começa com um estudo de inteligência de mercado.

O empreendedor precisa buscar dados e informações sobre seu mercado de atuação, como tamanho, hábitos de consumo e tendências.

Esses dados são disponibilizados por empresas de pesquisa, órgãos governamentais e entidades de classe, por exemplo.

Depois, é necessário realizar uma análise de concorrência. O empreendedor tem que entender as forças e fraquezas do negócio e as ameaças e oportunidades do cenário.

Só depois entra em cena os trâmites para implementação da empresa, que requer bons parceiros contábeis e jurídicos, tanto aqui quanto lá.

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SONHE GRANDE, COMECE PEQUENO

Em 1997, a rede de churrascaria Fogo de Chão abriu sua primeira filial nos Estados Unidos. A cidade escolhida foi Addison, um subúrbio de Dallas, no Texas, que hoje possui pouco mais de 15 mil habitantes.

Há poucos meses, a empresa fundada por dois irmãos do Rio Grande do Sul foi vendida para a holding de investimentos Rhône Capital.

A transação atingiu US$ 560 milhões (aproximadamente R$ 2,3 bilhões na cotação atual). A rede já era controlada por investidores americanos desde 2012.

O que a empresa fez para expandir de uma pacata cidade para mais de 20 endereços nos Estados Unidos, sendo a unidade de Nova York um prédio de três andares, com 16 mil metros quadrados?

Para Vitale, o diferencial foi o foco em administração. Ao longo dos anos, a empresa investiu em gestão, manuais de atendimento, treinamento de funcionários e montou uma estrutura de abastecimento que sustentou a expansão.

“Todo negócio internacionalizado possui uma curva de aprendizado”, afirma o consultor. “E isso leva, no mínimo, dois anos”.

Outro fator crucial que pode determinar o sucesso ou fracasso de um empreendimento é entender a cultura local. E não há como brigar com ela: é necessário segui-la.

Em 2017, uma grande rede de restaurantes de origem cearense desembarcou nos Estados Unidos oferecendo pratos grandes, que serviam até três pessoas.

“O americano prefere pratos individuais”, diz Vitale. “A empresa teve de mudar o cardápio rapidinho para não ter prejuízos maiores”.

VÁ ALÉM DA COLÔNIA BRASILEIRA

FOGO DE CHÃO: DE SEDE EM CIDADE COM 15 MIL HABITANTES
A VENDA POR US$ 560 MILHÕES (Foto: Divulgação)

Há dez anos, a Forno de Minas passou a exportar pão de queijo para os Estados Unidos. O foco foi, e ainda é, atender os brasileiros residentes no país.

No entanto, com o passar do tempo, a marca abriu sua atuação para atingir também o paladar dos americanos.

Entre os motivos está o fato de que os imigrantes brasileiros representam somente 0,3% do total da população do país, de acordo com estimativas do Itamaraty.

Assim, ficar preso aos conterrâneos é se contentar com uma ínfima parcela de consumidores.

E não pense que o americano torce o nariz para o pão de queijo.

Em 2016, o site Eater, um dos principais de gastronomia dos Estados Unidos, afirmou que o quitute de origem mineira é a iguaria brasileira preferida do consumidor da terra do fast-food.

E a estratégia da Forno de Minas tem dado certo. Em 2017, a empresa registrou crescimento de 12% em volume de vendas nos Estados Unidos.

Em março passado, a McCain do Brasil Alimentos, subsidiária da canadense McCain, fabricante de batatas pré-fritas e congeladas, fechou acordo para adquirir 49% da Forno de Minas.

"A McCain vai nos ajudar no processo de globalizar as vendas do pão de queijo”, disse, na época, Helder Mendonça, presidente da Forno de Minas.

IMAGEM: Thinkstock

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