Glossário do empreendedor: o que é canvas
Método simplificado e prático de criação de modelo de negócio é indicado para pequenas empresas e startups, como a Melhor Câmbio, especializada na intermediação e negociação de moedas estrangeiras
Em meados de 2015, o mineiro Stéfano Assis (à dir. na foto acima), junto aos sócios Alexandre Monteiro (no centro) e Felipe Amaral, iniciava o planejamento de sua quinta startup, a Melhor Câmbio, plataforma de comparação e negociação de câmbio turismo.
A exemplo do que ocorre com outros empreendedores que estão dando seus primeiros passos à frente de uma empresa, havia uma série de perguntas que rondavam a cabeça dos jovens.
No início, a proposta de valor do negócio era fornecer os melhores preços de moedas estrangeiras para os internautas, num formato similar ao do Buscapé. Eles acreditavam que poderiam gerar receita cobrando acesso a plataforma. Ao tempo, pensaram em vender espaço publicitário para marcas dentro do site.
No decorrer dos primeiros meses de planejamento, essas ideias se mostraram insuficientes. Ser apenas um comparador de preços resolveria apenas metade do problema do usuário, uma vez que ele teria de entrar em contato com casas de câmbio e fazer a negociação por conta própria.
Cobrar do usuário também não daria certo, poucas pessoas pagariam para ter acesso ao comparador, sendo de uma empresa desconhecida e que não resolvia todos os problemas da jornada do cliente.
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Foi nesse ponto que a Melhor Câmbio ajustou seu modelo de negócio. Além do sistema de comparação de preços, foi incluido na plataforma um sistema de leilão, em que o usuário se cadastra e diz quanto deseja comprar ou vender em moeda estrangeira.
O anúncio é disparado para uma rede de casas de câmbio, que escolhem se aceitam ou não a oferta. Quanto maior o volume a ser comprado, maior é o poder de barganha do consumidor.
O faturamento da startup provém de uma comissão cobrada das corretoras - o valor varia de acordo com as transações. Desde a fundação, a Melhor Câmbio já transacionou em sua plataforma cerca de 3 bilhões de reais.
Mensalmente, 1 milhão de usuários acessam o site para conhecer preços de moedas de 750 casas de câmbio. “Nossos usuários já economizaram quase R$ 240 milhões com negociações no site”, afirma Assis.
Ano passado, a Melhor Câmbio cresceu 247% (a startup não revela o faturamento). A rápida evolução só foi possível devido os sócios terem utilizado o método Canvas (Business Model Canvas), ferramenta que serve para planejar de forma simples e dinâmica um pequeno negócio.
A ideia é apresentar, em apenas um quadro, de forma bem visual, os aspectos essenciais de uma empresa e as suas relações.
O quadro do Canvas consiste em oito blocos, campos que o empreendedor precisa preencher. São eles:
• Proposta de Valor. O motivo pelo qual um cliente pagaria pelo produto ou serviço da empresa. Não é a descrição do produto em si, mas o conjunto de benefícios e vantagens que a marca entrega. Em uma loja de roupas, pode ser um estilo de vida contemporâneo e confortável.
• Segmento de Clientes. O público-alvo da empresa, que pode ser descrito com personas, perfis de faixa etária, classe social, interesses e comportamentos.
• Canais. A maneira como a empresa vai distribuir seus produtos, como atingirá o cliente para converter vendas.
• Relacionamento com Clientes. Como a empresa vai atrair, manter contato e fidelizar os clientes. A estratégia de comunicação.
• Atividades Principais. As tarefas que a empresa terá que desenvolver para sustentar sua proposta de valor. Por exemplo, numa loja de eletrônicos, as atividades podem ser adquirir produtos a preços para venda competitivos, treinar os funcionários de atendimento e fornecer manutenção em caso de defeitos.
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• Recursos Principais. É similar ao item acima, mas baseado no que a empresa precisará em termos de estrutura física, pessoal, equipamentos e insumos. Pode entrar desde energia elétrica a material de escritório.
• Parcerias Principais. A lista de fornecedores e apoiadores que o negócio demanda e quais serviços e produtos esses parceiros vão entregar para a empresa.
• Receitas. Como a empresa será monetizada, como vai conseguir dinheiro para manter um crescimento sustentável e não deixar que a produção morra.
• Estruturas de Custos. Quais custos e despesas a empresa terá para dar os primeiros passos. Entra desde compra de fornecedores, pagamento de pessoal e gastos com comunicação. Uma estrutura cara, requer mais investimentos e, talvez, menor margem de lucro.
NO PAPEL OU DIGITAL
A forma mais clássica de preencher o Canvas é imprimir o quadro e utilizar post-its. Isso se dá devido o plano ser modelável e simples.
Ou seja, o empreendedor pode realocar os post-its conforme vai pensando num modelo de negócio ideal. Assim como aconteceu com a Melhor Câmbio, o canvas pode (e deve) ser reajustado conforme o empreendedor valida hipóteses – o que não deu certo pode ser retirado ou melhorado – e, assim, sucessivamente.
Esse dinamismo é característico de pequenos negócios, que precisam fazer ajustes de maneira rápida, com planejamento e mão na massa de forma simultanea.
“O canvas dá um norte para a empresa”, afirma Assis. “À medida que a execução do plano de negócio é feita, é possível fazer ajustes enquanto a operação continua avançando”.
Há também versões digitais de quadro de canvas, que operam na mesma lógica, mas em plataformas virtuais, como a oferecida pelo Sebrae, totalmente em português (veja aqui).
ORIGEM
O método Canvas foi desenvolvido pelo suíço Alexander Osterwalder. Em 2010, ele publicou o livro Inovação Em Modelos de Negócios (Business Model Generation).
A obra é um trabalho de cocriação que reúne quase 500 autores de todo o mundo, que aborda ideias, experiências práticas e dicas de empreendedores e especialistas em negócios.
Desde então, os conceitos apresentados no livro têm sido encarado como divisores de agua no mundo do empreendedorismo. O livro já foi traduzido para 30 idiomas, com tiragem estimada em mais de 1 milhão de exemplares.
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