Um jeito diferente de criar, produzir e vender

Loja sem estoque, produção sob demanda e um modelo novo por semana: é desse jeito slow fashion que a gaúcha Vinci Shoes trabalha para não perder vendas nem gerar desperdício

Karina Lignelli
05/Fev/2018
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Um jeito diferente de criar, produzir e vender

Um modelo de negócio sem vitrine, sem estoque, com produção sob demanda e que não depende de coleções nem liquidações para lançar um novo produto.

É sob esse conceito slow fashion que trabalha a Vinci Shoes, marca gaúcha de calçados femininos do tipo flat (sem salto) “feitos à mão, com alta durabilidade e sem impacto ambiental na cadeia produtiva”, conforme detalha o site da empresa.

Entrando no quinto ano de operação e criada pelos colegas de faculdade Rodrigo Morsch, Bruno Henkel e Sara Lanzini, todos com 28 anos, a Vinci nasceu com foco no desperdício mínimo e modo de produção desacelerado e mais humano, dentro de uma cadeia produtiva “socialmente responsável.”

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“Somos uma empresa jovem, e desde o início a gente não se enxergava fazendo algo diferente”, afirma Morsch, diretor de branding da marca.

O minimalismo é a chave: produzidos numa fábrica parceira de Estância Velha (RS) -a Ethical Shoes -, os calçados são vendidos pelo e-commerce, ou em um dos dois showrooms (em Porto Alegre e em São Paulo, no bairro de Pinheiros), que servem como uma espécie de ambiente de experimentação da marca.

Sem trabalhar com estoque de produtos, mas só de matéria-prima – o que torna o processo mais rápido e mais barato, segundo Morsch -, a Vinci só manda produzir os calçados após serem vendidos pela internet.

Ou, se não tiver o modelo da numeração da cliente na loja: como não há estoque, cada unidade conta, em média, com 150 pares de modelos em exposição, com numerações que atendem mulheres que calçam do 33 ao 41.

“Ela escolhe o par e, se gostar, leva na hora”, diz Morsch. “Mas se não tiver para pronta entrega, encomenda e recebe em casa em até quatro dias.”

Um dos itens mais vendidos da coleção

Esse modelo de negócio, segundo ele, possibilita que a cliente tenha o sapato que ela quer, pois dá a agilidade para entregar no tempo necessário.

“O prazo é igual ao dos principais estoques do país”, afirma. Segundo Morsch, 85% das vendas da marca são realizadas pelo e-commerce, e mais de 50% das vendas feitas na loja entram através da loja virtual.

A opção por esse modelo de gestão faz com que a marca não dependesse de lançamentos de coleção ou estações para criar modelos novos - diferente das demais empresas, que criam coleções e geram estoques de coleções.

Além do risco, elas se tornam reféns desse estoque e tentam liquidar produtos o tempo todo - afinal, estoque parado é perda de dinheiro. “Aqui, lançamos um modelo novo por semana no site. Os que não funcionam, simplesmente eliminamos”, diz Morsch.

DESACELERADO, PORÉM RÁPIDO

Apesar do modo slow fashion de trabalho, a Vinci Shoes também acaba se tornando fast fashion quando se volta para os lançamentos, de acordo com Morsh.

Enquanto grandes marcas precisam de muitos passos para lançar uma nova coleção – criação, aprovação, produção em massa, distribuição por toda a cadeia de lojas e etc –, na Vinci o processo leva no máximo 20 dias, da ideia até o produto final.

Ou seja, após ser criado pela sócia Sara, a designer do grupo, o novo modelo é produzido e, após ser fotografado em estúdio, já fica disponível no site da marca. E em cada uma das duas lojas, que também passam a demonstrar a novidade.

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“A gente lança tendência muito rápido, mas não mudamos rápido”, diz o diretor. “E com isso, saímos na frente por entregar moda mais rapidamente”, acredita, fazendo referência às grandes do fast fashion, como a Zara, que trocam a loja inteira a cada dez dias, mas sempre precisam liquidar coleções.

Questionado sobre o preço final, que fica entre R$ 250 e R$ 430 –faixa de preço bem acima da média das fast fashion -, Morsch afirma que os sapatos são produzidos com “couro de origem e procedência de qualidade.”

E com o perfil da marca, que foi desenvolvido pensando em mulheres jovens, do mercado de trabalho, superatualizadas e que querem estar bem vestidas mas confortáveis, “com os pés no chão”, conforme diz.

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“Essa é a chave do nosso pequeno sucesso: entregar algo extremamente diferente para esse tipo de consumidora”, diz.

Sem revelar valores, ele afirma que, mesmo não participando dos tradicionais limpa-estoques de janeiro e fevereiro, a Vinci Shoes vem mantendo um bom tíquete médio e crescendo "cerca de 200% ao ano, sem perder vendas nem gerar desperdício."

Mesmo na crise? “Nós nascemos na crise, então até agora nossa realidade tem sido essa. E o mercado parece que está aquecendo”, afima Morsch, que diz que a Vinci estuda abrir mais uma loja no Rio de Janeiro ainda este ano.

FOTO: Divulgação

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