Franquia de calçados cresce num setor que encolhe

A Constance, marca mineira de calçados femininos, está na contramão do mercado, com expansão de 12,4% nas vendas neste ano, considerando as mesmas lojas. Veja como

Fátima Fernandes
28/Ago/2024
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Franquia de calçados cresce num setor que encolhe

Em 2022, a franquia inaugurou 36 lojas. Em 2023, 38. Neste ano serão 45, e, no ano vem, estão programadas mais 60. Hoje, são 281 unidades espalhadas pelo país.

O ritmo de expansão sugere uma marca de um setor também em alta, como o de supermercados, por exemplo, que cresceu 5,7% em um ano até junho, de acordo com o IBGE. Mas, não.

A franquia com números capazes de dar inveja a varejistas é a Constance, rede mineira de sapatos femininos, que pertence a um setor com desempenho negativo há algum tempo.

No primeiro semestre deste ano, por exemplo, o volume de vendas de calçados no mercado brasileiro caiu 0,3% em relação a igual período de 2023.

No ano passado, o número de pares comercializados já havia caído 4,9% em relação a 2022, de acordo com levantamento da consultoria IEMI – Inteligência de Mercado.

Aliás, todo o varejo de vestuário e calçados tem sofrido.

No primeiro semestre deste ano, o volume de vendas do setor caiu 0,5% sobre igual período de 2023 e 0,4% em 12 meses terminados em junho, de acordo com o IBGE.

CONTRAMÃO

Fundada há 20 anos pelo empresário Cássio Noronha, a marca mineira está na contramão do mercado com crescimento de vendas de dois dígitos neste ano.

No primeiro semestre, considerando as mesmas lojas, o faturamento da rede subiu 12,45% sobre igual período do ano passado.  No total de lojas, a alta foi de 26,7%, no período.

Em pares, de janeiro a junho, as vendas subiram 7% em relação a igual período do ano passado. Considerando os meses de junho até agora, a alta é de 18,7%.

O conceito do negócio é o de self shoes. Os modelos dos sapatos ficam expostos por numeração. As clientes tem autonomia para prová-los, sem ter de recorrer a uma vendedora.

Com origem no setor moveleiro, Noronha decidiu levar para Belo Horizonte (MG) a ideia de self shoes após visitar uma loja da Shoestock, em São Paulo.

A marca, que surgiu em 1990, foi adquirida pelo grupo Magalu em 2021. Agora, opera somente no e-commerce, com a oferta de sapatos, bolsas e acessórios.

Enquanto isso, a Constance ocupa o lugar da Shoestock com lojas físicas em todos os Estados do Brasil e Distrito Federal.

A pergunta que fica é: como a empresa cresce num setor com performance negativa? Quem responde é Gleisson Fernandes, diretor de expansão da Constance.

“O nosso alicerce é o chão de loja, fazemos pesquisa boca a boca para conhecer os clientes, escutamos os vendedores, os gerentes, os profissionais de marketing, comercial.”

Hoje, diz ele, é muito difícil uma marca se manter. “O grupo familiar tem a filosofia de crescer com solidez, de forma coesa e acompanhar de perto as operações, a gestão do franqueado.”

Das 281 lojas, 45 são próprias. O estoque é formado por cerca de 400 modelos por numeração, do 33 ao 42.

Desde o final de 2022, a atriz Deborah Secco é a embaixadora da marca, o que tornou a Constance mais conhecida, especialmente com divulgação em redes sociais.

“A Deborah representa a nossa cliente, uma mulher que é mãe, trabalha, versátil”, afirma.

Rodrigo Keiti, CMO da rede, acrescenta que o bom desempenho da marca também se deve ao aumento da taxa de conversão no último ano.

No primeiro semestre do ano passado, de cada 100 clientes que entravam na loja, 17 saíam com uma sacola na mão. Neste ano, o número subiu para 20.

“Estamos trabalhando fortemente com qualificação de equipes, com a criação da Universidade Corporativa, no ano passado, para qualificar os profissionais”, diz.

O programa acabou sendo chamado dentro da rede de ‘Netflix do Varejo’, pois conta com 18 capítulos em vídeo para vendedores e 20 para gerentes.

MODELO DE NEGÓCIO

Investir em uma franquia da marca exige um capital entre R$ 650 mil, para loja menor, e R$ 850 mil, loja maior, incluído o estoque
 
 
Além do bom desempenho da marca, diz Fernandes, o que tem atraído o interesse de franqueados é o modelo de parceria com o lojista.
 
“O perfil do nosso franqueado não é de investidor, é o de operador de loja, aquele que coloca a barriga no balcão, que vai se dedicar ao negócio. A pessoa tem de ter vocação comercial”, diz.
 
A partir da aprovação do franqueado, todo o processo até a abertura da loja é feito em conjunto, como escolha de ponto, arquitetura, inauguração e gestão do negócio.
 
Após uma entrevista preliminar, o franqueado e uma equipe da Constance verificam se o local escolhido para a instalação do estabelecimento está adequado.
 
Em seguida, a discussão segue para a parte financeira. Uma franquia da marca exige um capital de R$ 650 mil (loja menor) até R$ 850 mil (maior), incluído o estoque.
 
Além de arcar com o investimento, o franqueado paga uma taxa de franquia no valor R$ 65 mil, com validade de cinco anos para o uso da marca.
 
Neste momento, 12 franqueados estão dependendo da escolha do ponto para abertura de loja e 25 lojas estão em obras para serem concluídas ainda neste ano.
 
O público da loja, diz ele, é majoritariamente da classe B, mas tem produtos para todos os bolsos, como bolsas de R$ 289 a R$ 700.
 
A marca possui cerca de 300 fornecedores de sapatos, bolsas e acessórios.
 
Depois da pandemia, a Constance entrou no e-commerce, que representa cerca de 6% do faturamento.
 
“A loja física é muito importante, mas queremos atender o cliente no canal que ele preferir.”
 
PREÇO
 
Consultores de varejo atribuem o crescimento da marca também ao fato de ter um posicionamento de preço um pouco abaixo do praticado pelo principal concorrente, a Arezzo.
 
“Se dá para comprar um bom sapato por R$ 219, por que a cliente vai pagar R$ 300? A mulher brasileira entende muito bem o custo-benefício de um calçado”, diz Fernandes.
 
Conforme últimos números publicados em seus balanços financeiros, a Arezzo tem diminuído o número de lojas físicas.
 
No primeiro trimestre deste ano, a marca tinha 416 franquias. No mesmo período do ano passado, 430. No caso de lojas próprias, a redução foi de 23 para 17.
 
Outra marca do grupo AR&CO, que nasceu após a fusão da Arezzo&Co com o grupo Reserva, a Schutz, reduziu de 61 para 58 o número de franquias e de 22 para 19 as lojas próprias.
 
Já a marca Ana Capri, também do grupo, aumentou o número de lojas franqueadas, de 229 para 247, no período, e manteve as duas lojas próprias.
 
O que também tem crescido no grupo é o número de franquias AR&CO. No ano passado, eram 75 no primeiro trimestre. Neste ano, 91.
 
Consultores de varejo acreditam que pode estar tendo uma migração de lojas exclusivas da Arezzo para a AR&CO, que reúne várias marcas do grupo.
 
 
IMAGEM: divulgação

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