"Quermesse" de Davos deve pressionar Temer por reformas

Fórum Econômico Mundial, entre 23 e 26 de janeiro, reúne desde 1971 a elite política e empresarial do planeta. Presidente brasileiro, pela primeira vez no encontro, mostrará país pós-crise

João Batista Natali
17/Jan/2018
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"Quermesse" de Davos deve pressionar Temer por reformas

O Fórum Econômico Mundial é uma grande vitrina do capitalismo, e o Brasil, depois de quatro anos sem estar representado por seu presidente, envia este ano Michel Temer, e será cobrado sobre a consistência de seus planos de reforma.

O encontro ocorre em Davos, cidadezinha suíça de apenas 11 mil habitantes, que desde 1971 reúne a elite política e empresarial para debates e conferências, desta vez entre 23 e 26 de janeiro.

Em geral, Davos convida todos os governantes do G-20, grupo dos países mais industrializados.

Mas este ano as vedetes deverão ser os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Emmanuel Macron, da França.

Temer entra na agenda temática reservada à América Latina, onde seis países realizam em 2018 eleições presidenciais.

Os presidentes dos grandes grupos presentes têm fontes que os informa sobre os solavancos das reformas no Brasil e o encalhe provisório da Reforma da Previdência.

Mas Davos funciona como um lobby de encorajamento e pressão.

Não é por causa do Fórum que as coisas andarão mais rapidamente no Brasil. O governo brasileiro, no entanto, conseguirá avaliar a importância de sua agenda para a comunidade política e dos negócios. E Temer deverá intervir pessoalmente em favor do crescimento de investimentos estrangeiros.

O Fórum, que também funciona como instituição de pesquisa, com sede em Genebra, é financiado por mil empresas que têm, cada uma, faturamento anual superior a US$ 5 bilhões.

Pois bem, Temer fará sua conferência na manhã da quarta-feira, dia 24, iniciando em seguida uma agenda de curtos encontros com demais governantes e líderes empresariais.

O FANTASMA DE LULA

A programação brasileira foi agendada de tal forma que não coincida com o julgamento, no mesmo 24 de janeiro, do ex-presidente Lula, em Porto Alegre. A Suíça tem três horas a mais de fuso horário. Quando por lá são 15h, em Brasília é ainda meio-dia.

Para Davos, Lula não é apenas um dirigente da oposição. Em 2010 o Fórum deu a ele o título de “estadista do ano” e ainda o nomeou para uma das copresidências do encontro Marcelo Odebrecht, numa dupla deferência ao Brasil.

Agora, no entanto, como disse a O Estado de S. Paulo o presidente do Fórum, o norueguês Borge Brende, o processo contra o ex-presidente gerou “um clima de incertezas”.

Mas o relevante, argumenta Brende, é que o Brasil tem emitido nos últimos meses sinais positivos. “Estamos vendo empresas importantes voltando a ter um melhor desempenho e investindo, como é o caso da Petrobras e da Vale”.

Para ele, “a economia vai crescer e Temer compartilhará sua visão sobre como garantir que esse crescimento também seja mais inclusivo”.

Como o Brasil é sempre um dos focos de atenção e, para tanto, o país não se fará representar apenas por Temer, pelos ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Fernando Coelho (Minas e Energia), Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Marcos Pereira (ex-ministro da Indústria e Comércio).

Estarão também presentes CEOs de peso, como Pedro Parente, da Petrobras – ele fará uma conferência sobre o futuro do mercado de energia – Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Cândido Botelho Bracher (Itaú-Unibanco e Paul Bulcke (Nestlé).

ATÉ O DORIA ESTARÁ LÁ

O prefeito de São Paulo, João Doria, também é um dos debatedores. No mesmo dia 24, participará de uma mesa sobre as mudanças políticas na América Latina.

Estarão ao lado dele o presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, o secretário-geral da OEA, Luiz Almadro, o ministro do Comércio do Equador, Pablo Campana, e Delia Rubio, da Transparência Internacional.

O Fórum Econômico Mundial, com governantes e executivos circulando com seus crachás ao pescoço, se assemelha de vez em quando a uma grande quermesse em ambiente fechado. A temperatura externa, nessa época do ano, é em média de 6 graus célsius abaixo de zero.

Há um auditório principal, para os chefes de Estado ou de governo, e ambientes paralelos em que se discute energias renováveis, questões culturais ou políticas públicas diferenciadas.

Na agenda deste ano, por exemplo, o cantor Elton Jones discorrerá sobre “as cinco lições de liderança para meus momentos mais sombrios”, um economista sírio falará sobre a dimensão econômica da crise dos refugiados, e um painel abordará os erros cometidos pela agricultura no século passado.

A lista de participantes é uma espécie de Who´s Who das celebridades da política, como os primeiros-ministros Narendra Modi (Índia), Paolo Gentilloni (Itália), Justin Trudeau (Canadá), Theresa May (Reino Unido) e o presidente Maurício Macri (Argentina).

 

FOTO: Valeriano Di Domenico/World Economic Forum (Fotos Públicas)

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