Lojistas de shoppings já esperam taxas maiores após reabertura
Comércio da cidade de São Paulo está autorizado a funcionar por 4 horas diariamente. Limitação de horário é criticada por empresários
O volume de vendas do varejo restrito nacional deve recuar 8,3% ao final deste ano, segundo projeções feitas pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP). A pandemia do novo coronavírus impossibilitou qualquer reação do setor, que ainda sentia os efeitos da crise econômica de 2014.
Desde então, o varejo esteve à espera de uma reação mais efetiva dos indicadores de emprego e renda, decisivos para o reaquecimento do consumo, o que não aconteceu. Depois de crescer apenas 1,8% em 2019, o setor deve experimentar um tombo histórico em 2020.
A crise atual, causada pelo novo coronavírus, vai além dos aspectos econômicos, envolve questões sanitárias que obrigaram as lojas a baixarem as portas por meses. Vender para um consumidor já retraído só mesmo por meios antes considerados secundários, como o delivery.
Salvo exceções dentro do setor, como os supermercados, autorizados a abrir desde o início da crise, a maior parte dos varejistas teve queda média nas vendas acima de 50%.
Segundo um representante do varejo que participou de reunião do Comitê de Avaliação da Conjuntura da ACSP realizada nesta quinta-feira, 25/06, pequenos varejistas de vestuários e utensílios domésticos de São Paulo acusam diminuição de até 70% nas vendas, mesmo após a flexibilização das restrições, que permitiu às lojas abrirem por 4 horas diárias.
Historicamente os participantes desta reunião da ACSP pedem para que seus nomes não sejam divulgados.
Entre os pequenos lojistas de shoppings, segundo a fonte varejista, há problemas adicionais.
Com a reabertura, ainda que parcial, os descontos dados pelos administradores dos centros de compras em cobranças de aluguel, condomínio, fundo de promoção, entre outros, devem ser retirados. O boleto de julho provavelmente chegará com aumento para os lojistas instalados em shoppings.
Pelas contas dos empresários, os custos para manter uma loja em shopping, que antes da pandemia era equivalente a 10% das vendas mensais, deve chegar a 30% considerando o nível das vendas atual.
Os empresários presentes à reunião de Conjuntura criticaram a limitação de 4 horas diárias imposta pelo governo paulista ao comércio. Segundo eles, a estratégia aumenta o risco de aglomerações e não resolve o problema de caixa dos lojistas.
Sem conseguir vender, muitos buscaram socorro nos bancos para não fecharem definitivamente as portas. Grande parte volta de mãos abanando, segundo os empresários presentes à reunião da ACSP.
O entendimento deles é que o governo precisa ampliar os mecanismos de garantia para as instituições financeiras, já que em meio a uma crise com essas proporções, os riscos de calote aumentam.
A dificuldade de acesso ao crédito aumenta entre as micros e pequenas empresas, que não dispõem de garantias reais para oferecer. Mesmo programas como o Pronampe, que resguarda as instituições financeiras por meio de um Fundo Garantidos que cobre até 85% das perdas da carteira, parece não empolgar os bancos.
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O Pronampe disponibiliza R$ 15,9 bilhões para capital de giro às micros e pequenas empresas desde o dia 10 de junho. Mas, até agora, só a Caixa Econômica Federal se habilitou para operar essa linha.
INDÚSTRIA
A dificuldade de acesso ao crédito não se restringe aos empresários do comércio. Um industrial presente à reunião de Conjuntura da ACSP informou que 75% da cadeia industrial envolvida no segmento de transportes não consegue crédito desde que a pandemia começou.
Com a queda da demanda interna e a dificuldade de exportação, a produção industrial recuou 27,2% em abril na comparação com igual mês do ano passado.
A indústria automotiva está em uma situação particularmente delicada. A Anfavea, a associação dos fabricantes do setor, espera queda de 40% nas vendas deste ano.
Com a produção de automóveis praticamente parada – caiu 84% em maio na comparação com igual mês de 2019 -, fornecedores das montadoras também enfrentam problema, a exemplo da indústria extrativa de borracha.
AGRONEGÓCIO
Tirando casos específicos, entre eles os da extração de borracha e cultivo de flores, este último afetado pela impossibilidade de realização de eventos, o agronegócio vai bem.
A safra atual de grãos deve superar as 250 milhões de toneladas. Segundo um empresário do setor rural que participou da reunião da ACSP, somente a produção de milho deve chegar a 105 milhões de toneladas ao final da safra que inicia agora em julho.
O segmento de proteína animal vai bem, assim como o de açúcar e álcool.
Mas também há alguns problemas no agronegócio. Os empresários do setor reclamam dos juros agrícolas, que consideram hoje no patamar mais elevado da história se levada em consideração a baixa inflação atual.
Outro problema é o endividamento do setor. Para crescer, o agronegócio brasileiro acumulou uma dívida estimada em R$ 600 bilhões, que se formou desde o início da década de 1990. O setor negocia com o governo a possibilidade de repactuar essa dívida.
IMAGEM: Karina Lignelli/DC