Investidores-anjos emprestam dinheiro e inteligência a startups
Investidores aportam dinheiro, conhecimento, experiência e gestão em novos negócios
Por Quentin Hardy/ Fotos: Jim Wilson
Como muitos empreendedores da alta tecnologia, Joshua Reeves acredita que sua empresa pode mudar o mundo. E talvez ele tenha mesmo razão – tanto pela forma como foi financiada, quanto pelo produto que oferece.
No total, foram 56 investidores-anjos, quase todos ocupados com a gestão de suas próprias empresas. Isso é mais da metade do total de funcionários da ZenPayroll, que conta com uma equipe de 95 e foi inaugurada no fim de 2012. Entre os investidores da ZenPayroll estão pessoas que ajudaram a fundar e gerenciar empresas como Dropbox, Evernote, Instagram, Yelp, Yahoo e Twitter. Muitos são donos de centenas de milhões e até um bilhão de dólares, estimados ou reais.
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Reeves, que pediu valores entre US$ 25 mil e US$ 200 mil dólares para cada investidor-anjo, quer muito mais do que apenas dinheiro. A cada mês, ele pede a esses investidores que trabalhem em questões e resolvam problemas para ele e sua empresa, que oferece um software on-line que faz a folha de pagamento de empresas de pequeno e médio porte. Podem ser contatos para as vendas, informações sobre como criar uma cultura corporativa, ou uma troca de ideias sobre novos tipos de softwares.
"Eles nos pagam e também trabalham para a gente. São empreendedores que se veem como construtores de empresas e que gostam de resolver problemas", afirmou Reeves, de 30 anos, que subdividiu seus anjos em áreas de especialidade, como marketing ou tecnologia.
Tradicionalmente, os investidores-anjos eram simplesmente aquelas pessoas que acreditavam no sonho de alguém. Algumas vezes eram mentores, parentes ou amigos que davam dinheiro e iam embora, esperando apenas contatos e resumos de tempos em tempos, mas agora, Reeves encontrou uma forma de explorar os talentos de seus anjos.
Jeremy Stoppelman, um dos fundadores do Yelp, afirma que Reeves conversa com ele principalmente sobre a melhor forma de construir uma cultura forte para a empresa. Ele foi apresentado à empresa por Aaron Levie, um dos fundadores do Box, que Reeves usa para apresentá-lo a outros investidores. Elad Gil, que vendeu uma empresa, a Mixer Labs, para o Twitter e agora está trabalhando em uma startup de biotecnologia, afirma que recebe perguntas sobre questões como tecnologias para aplicativos móveis e operações de negócios.
"Somos operadores-anjos e transmitimos nossas experiências pessoais. Damos conselhos e descobrimos coisas que dão errado muito rapidamente, em áreas como a aquisição de usuários e o uso de tecnologias móveis. Os gestores financeiros não podem fazer isso pela empresa; seus serviços são muito mais genéricos", afirmou Gil.
Além disso, a ZenPayroll "está trabalhando em um problema real que encarei em minha primeira startup. Foi uma pena que não pude contar com eles naquela época".
Provavelmente, resolver problemas de folha de pagamento não seja a coisa que mais desperta paixões pelo mundo, mas estes são tempos improváveis para o financiamento de startups de tecnologia. Assim como Tom Sawyer convenceu outros garotos a pintarem uma cerca no lugar dele, pessoas como Reeves podem ter encontrado uma nova forma de construir uma empresa: recorrer às experiências do setor, despertar o interesse de outros empreendedores e expandir a rede de investidores com mentalidades parecidas.
O fato de ele conseguir reunir todos esses recursos humanos já diz muito sobre os valores no setor de alta tecnologia, onde o dinheiro custa pouco se comparado ao tempo e a experiência.
Os investidores-anjos têm se tornado uma parte cada vez mais importante de como o Vale do Silício funciona nos últimos anos, à medida que as pessoas ficam ricas cada vez mais cedo e ferramentas corporativas como softwares livres e recursos baratos de computação na nuvem derrubaram os custos iniciais das startups.
A AngelList, que coloca startups em contato com investidores-anjos, afirma já ter conseguido US$ 104 milhões de dólares de 2.673 investidores para ajudar a financiar 243 startups. Os investidores da AngelList precisam demonstrar que têm uma renda anual superior a US$ 200 mil nos últimos dois anos, ou mais de um milhão de dólares em dinheiro acima do valor de suas casas. Em alguns casos, a AngelList exige que o anjo comprove isso.
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As pessoas podem investir por conta própria, ou acompanhar o investimento de inúmeros executivos de tecnologia que participam do programa. Reeves é um dos investidores da AngelList, e já deu dinheiro (e, segundo ele, tempo) para startups como a Clever, que faz softwares educativos, e o Patreon, um serviço como o Kickstarter para financiar artistas.
Reeves dedica às empresas que financia o mesmo tratamento dos operadores-anjos que recebe de seus financiadores. "Buscar dinheiro deveria ser como procurar funcionários. De ambas as formas, você está trazendo alguém para dentro de sua empresa."
Graças a dois booms tecnológicos em apenas duas décadas, há vários executivos relativamente jovens com muito dinheiro. Muitos só investem nas áreas que conhecem bem, colocando milhões de dólares em redes humanas e de tecnologia com as quais estão acostumados.
Outros investidores mais velhos acreditam que ajudar pessoas como Reeves é uma forma de acompanhar o que está acontecendo hoje e contribuir com a experiência adquirida ao longo dos anos.
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"Tenho 37 anos e sou o cara mais velho da turma. É divertido tirar proveito daquilo que aprendi, ajudar no sucesso de outra pessoa e ver minhas sugestões sendo colocadas em prática. A maioria das startups não sabem aproveitar as pessoas que colaboram com elas", afirmou Stoppelman, um dos fundadores do Yelp.
Muitos dos anjos da ZenPayroll, que criaram empresas que utilizam os mesmos recursos de computação na nuvem, mobilidade e softwares abertos, se veem como parte de um movimento. Eles argumentam que essas tecnologias estão mudando a sociedade e gostam de fazer parte disso.
"Este é um momento de transcendência. Há quinze ou 20 anos as pessoas queriam o dinheiro, ou queriam mostrar que entendiam do assunto. Agora temos essa sensação visceral de que estamos mudando o mundo", afirmou Tien Tzuo, executivo-chefe e um dos fundadores da Zuora, que faz softwares para empresas que cuidam de sistemas de assinatura on-line.
Todo esse dinheiro nos estágios iniciais da empresa pode criar um nível de valoração implícito que talvez esteja contribuindo para o que muitos veem como a supervalorização das empresas de tecnologia. Depois dessas rodadas de investimento iniciais, quando as startups precisam de mais dinheiro e de conexões com o mundo corporativo por meio das firmas de capital de risco, elas já têm valores muito mais altos do que era comum antes da existência dos investidores-anjos.
Reeves afirmou que não teme que um colapso do mercado mude seus métodos. "Trata-se de empreendedores ajudando outros empreendedores, e isso sempre foi um dos principais segredos para o sucesso do Vale do Silício. Estou em busca de empreendedores que tenham uma missão. Eles sentem prazer em ouvir os meus problemas."