'Só a capacitação tem o poder de fortalecer a mulher empreendedora'

À frente do CMEC da Facesp e da ACSP, Ana Cláudia Badra Cotait (acima) faz um balanço de 2020 e mostra como iniciativas para reconhecer e qualificar as 'donas do negócio' fazem toda a diferença. Mesmo em cenário adverso

Karina Lignelli
28/Dez/2020
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'Só a capacitação tem o poder de fortalecer a mulher empreendedora'

Mais do que 'ano da pandemia', 2020 foi o ano da capacitação. Pelo menos no âmbito do empreendedorismo feminino e das atividades do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação da Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp). 

Sob a coordenação geral de Ana Cláudia Badra Cotait, o CMEC conseguiu triplicar sua atuação ao longo de 2020, com iniciativas focadas em capacitação e reconhecimento às mulheres empreendedoras que precisaram recomeçar ou alterar drasticamente a rota dos seus negócios neste cenário adverso de pandemia.

Entre essas iniciativas, o lançamento do Profis Online, primeiro marketplace que oferece cursos profissionalizantes gratuitos ou de baixo custo não só para as mulheres, mas para sua família ou qualquer pessoa em busca de uma nova chance no mercado empresarial ou de trabalho. 

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Ou a parceria com grupos de empreendedoras do Brasil, como o Mulheres Que Decidem e Rede Mulheres Empreendedoras, e do exterior, para trocar experiências, fazer negócios e também capacitar, claro.

E ainda, o prêmio Tarsila do Amaral, que reconhece, valoriza e premia micro, pequenas e médias empresárias com foco em transformação social - e ainda oferece chance de qualificação e mentoria com especialistas.   

"Capacitadas, essas mulheres se tornam capazes de sair de qualquer situação vulnerável, ou ocupar posições de alto posto em qualquer empresa. A capacitação tem o poder de fortalecer a mulher para que ela consiga chegar lá", afirma, do alto de sua experiência de mais de 30 anos como funcionária de carreira do Senado Federal, onde coordenou projetos culturais e atuou como chefe de gabinete, entre outras funções. 

Em entrevista ao Diário do Comércio, Ana Cláudia, que é casada com Alfredo Cotait Neto, presidente da ACSP e da Facesp, faz um balanço amplo das atividades do CMEC em 2020, e traça um panorama dos projetos e atividades do conselho com foco em empoderamento e empreendedorismo femininos para 2021.  

Em cenário de pandemia, como a senhora avalia o mercado para a mulher empreendedora? 

O mercado se abriu muito, e a mulher conquista seu espaço independente da situação econômica do país. Ela tem o seu lugar, mas antes não tinha: empreendia em casa, e o marido aparecia como provedor. Hoje, por cuidar da casa e dos negócios, sai fortalecida como empreendedora, com espaço garantido na economia.

Ela é muito versátil. Mesmo com a economia difícil, com as coisas mais complicadas, é mais difícil ela deixar a peteca cair. Se olharmos para o mercado empreendedor, o percentual de mulheres é muito grande justamente porque elas são muito persistentes e perseverantes. Portanto, o cenário não é o pior para nós, não. 

Como a mulher conquistou seu espaço, a sociedade respeita e aceita empresárias e empreendedoras pois elas se colocam no mercado em pé de igualdade. Na pandemia, observamos que a maioria delas persistiu, não fechou negócios e abriu outros, que proliferaram mesmo nesse cenário trágico que a gente viveu.  

Sob sua gestão, o CMEC tem várias iniciativas voltadas à capacitação dessas mulheres. Fale um pouco sobre a importância dessa capacitação para o dia a dia delas:

Em primeiro lugar, capacitadas, essas mulheres descobrem que podem sair de um 'negocinho' para montar um negócio. Essas iniciativas são uma forma de exercer a sororidade, uma palavra que está tão na moda, unindo forças para ajudar e promover essas mulheres. Sempre falo isso: ao capacitar e qualificar a mulher para empreender, ao estimular o empreendedorismo feminino ajudando a descobrir o seu poder de realizar várias coisas, seu negócio começa e se fortalecer, e a autoestima dessa mulher fica elevada.

Capacitada, ela se torna capaz de sair de qualquer situação vulnerável, ou ocupar posições de alto posto em qualquer empresa. A capacitação tem o poder de fortalecer a mulher para que ela consiga 'chegar lá'.  

Falando nisso, a plataforma de cursos Profis Online foi um dos grandes lançamentos do CMEC em 2020. Detalhe um pouco mais como surgiu essa iniciativa: 

O Profis surgiu na pandemia para ajudar as pessoas nesse momento difícil, quando muita gente precisou fechar empresa ou foi demitida. E as mulheres foram a grande massa nessas demissões, pois não tinham onde deixar os filhos quando as escolas fecharam. Fiquei pensando como ajudar, principalmente no Interior, pois vi que a necessidade não era só das mulheres, mas da família como um todo, do marido ou dos filhos que perderam o emprego, ou das que tinham um comércio familiar que fechou, por exemplo.

Então criamos o Profis como um produto da ACSP, para capacitar e qualificar pessoas rapidamente para que elas entrem no mercado de trabalho preparadas para um novo começo. 

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Os cursos não têm nenhum custo para os alunos? 

A maioria dos cursos é gratuita, e os pagos têm preços mais baixos, direcionados a todas as classes. No seu lançamento, criamos uma experiência de 90 dias para dar tempo de incluir novas plataformas nesse 'marketplace' de cursos profissionalizantes.

E ele oferece uma variedade muito grande para atrair a família inteira, homens, mulheres, idosos e adolescentes que podem se capacitar como profissionais ou aprendizes.  

Quais as parcerias que o CMEC fez para conseguir esses benefícios? 

Primeiro, incluímos os cursos livres da FAC, da ACSP, e fizemos parcerias com a ProEducar Brasil EAD, que oferece cursos baratinhos e atua em prefeituras. Também fizemos com o IMLabs, que criou a plataforma, com o portal de cursos profissionalizantes IDEA e com o Sebrae, que oferece mais de 120 cursos gratuitos. Nosso objetivo é conseguir oferecer mais de 500 cursos, e há várias outras empresas querendo entrar no Profis. Mas como estamos concluindo o processo de implantação, queremos fazer ainda mais experiências.   

Fale sobre os planos para a plataforma em 2021. 

Somos o primeiro marketplace de cursos profissionalizantes dentro de uma instituição como a ACSP, que pode ser direcionado inclusive para outras associações comerciais espalhadas pelo estado. Claro que, quando você abre uma plataforma on-line, você abre para todo o Brasil e para o mundo; mas a ideia, a princípio, é que as associações comerciais ofereçam descontos para associados, e de janeiro a junho, nossa meta é atingir pelo menos 1,5 mil alunos em São Paulo. Também queremos incluir palestras e depoimentos de cases de sucesso para influenciar mais pessoas, estimulando-as a se reinventarem e crescerem cada vez mais no mercado. 

Está no radar a criação de um espaço para vagas de emprego?  

Sim, a ideia é, futuramente criar um banco de empregos, e isso está previsto para acontecer a partir de junho.

Em 2020, o prêmio Tarsila do Amaral chegou à 2ª edição. Fale sobre a categoria Empreendedora Revelação, criada esse ano (ganha por Débora Pierretti, do Instituto Amor Em Mechas): 

Na realidade, a ideia inicial do prêmio, criado em 2019, é que elas concorressem com regulamento e tal. Na 1ª edição, lançada no 19º Congresso da Facesp, só homenageamos empresárias e mulheres que se destacaram nos negócios e na arte no Brasil, como a Beatriz Mendes Gonçalves Pimenta Camargo, primeira mulher a presidir o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e uma das maiores colecionadoras de arte do país, a Luiza Helena Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza, e a consagrada atriz Eva Wilma. 

Mas neste ano, eu pensei: não basta homenagear, temos que criar algo para colocar as empreendedoras em ação. Por isso, para concorrer, elas tiveram de enviar vídeos mostrando sua criatividade e dinamismo, e a premiação seria uma forma de estimulá-las a continuar a empreender. O dinheiro é simbólico (R$ 400 a R$ 3 mil), mas um incentivo que pode ajudar e muito a melhorar algum aspecto dos seus negócios. 

As vencedoras do prêmio também ganham bolsa de estudos da FAC. Está prevista alguma espécie de 'acompanhamento pós-premiação' dessas empreendedoras? 

Fizemos essa parceria com a Faculdade do Comércio para qualificar ainda mais as empreendedoras, que terão mentoria com a Alessandra Andrade (vice-presidente e coordenadora do Conselho de Inovação da ACSP).

Essas empreendedoras são mulheres muito batalhadoras, e o prêmio é uma forma de ajudá-las e estimulá-las, capacitando e dando visibilidade. E não vamos esquecer delas não, porque temos outro projeto para dar continuidade e apoio a todas que participaram. Não é só orientação pós-prêmio, mas mentoria mesmo: vamos contatar uma por uma para saber como poderemos ajudar a alavancar seus negócios futuramente. 

Prêmio Tarsila, Profis Online, campanhas do agasalho e de doação de livros e brinquedos com ajuda das distritais da ACSP, que bateram recordes em plena pandemia... Faça um breve balanço da atividades do CMEC em 2020, e aponte as perspectivas para 2021: 

Temos tanto projeto para o ano que vem... As distritais, bem coordenadas, acenderam uma luzinha nesse ano que não permitiu muitas ações presenciais nesse perfil social, mas fizeram on-line e bateram recordes. 

As associações comerciais do Interior também tiveram uma atuação monstruosa: tínhamos oito conselhos da mulher, criamos mais 100, e agora temos 108. Uma ideia para 2021 é criar pelo menos 250 programas de televisão do CMEC pelo estado para incentivar as atividades locais da mulher empreendedora.


Esses projetos também incluem atividades voltadas à cultura?

Há um projeto fantástico em formatação, uma espécie de roteiro cultural em 10 regiões do estado - como Santa Bárbara do Oeste, por exemplo, que acolheu norte-americanos na guerra. Esse projeto de cultura também apoiará bibliotecas, que ficaram de lado com o on-line, para incentivar a leitura. E em todo lugar que tiver escola, promoveremos apresentações, espetáculos e exposições. Esperamos dar conta de tudo! 

Também fizemos termos de cooperação com grupos internacionais de empreendedoras da Índia, com países de língua portuguesa e outro só com Portugal, para trocar experiências e fazer negócios. Estávamos criando um com o Líbano, pois o presidente Cotait também comanda a Câmara de Comércio Brasil-Líbano, mas parou (com a pandemia e a explosão do porto de Beirute, em agosto). Pelo menos por enquanto. 

Mesmo com a pandemia, o CMEC foi bastante ativo. Quais os aprendizados que esse ano atípico deixou para as mulheres empreendedoras? 

Fizemos confraternização virtual de fim de ano, e vou repetir exatamente o que eu ouvi: o CMEC foi a luz de muita gente na pandemia. Muitas pessoas se sentiram perdidas, em especial as mais velhas, nos últimos meses. Eu mesma vou confessar: se eu não tivesse o CMEC para cuidar, acho que teria ficado maluca. 

Foi impressionante que, mesmo em condições adversas, trabalhamos triplamente. A pandemia nos deu a chance de realizar mais, de todas as integrantes do conselho se dedicarem mais, e fico muito feliz de encerrarmos este ano difícil com tantas conquistas. O CMEC foi nossa luz, nosso guia, e graças a ele pudemos manter atividades que impactaram positivamente a vida de muitas pessoas ao longo de 2020. 

FOTO: Paulo Pampolin (abertura) e Daniela Ortiz

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