She Economy, um movimento da China para o mundo
Com maior independência financeira que seus pais e avós, as mulheres jovens na China estão desempenhando um papel mais visível do que nunca no mercado consumidor
Cosméticos, animais de estimação, cuidados pessoais e itens relacionados à saúde. Esses são os principais interesses de compra de um público que promete dominar o mercado de consumo nos próximos anos: o de mulheres nascidas após 1990.
Na faixa etária dos 30 anos, com maior independência financeira que as gerações passadas e a possibilidade de comprar coisas que aumentam sua felicidade, o movimento direcionado a essas mulheres foi batizado na China de She Economy - em português, economia feminina - e tem tudo para se expandir para o resto do mundo num momento pós-pandemia.
De acordo com pesquisa divulgada conjuntamente pelas consultorias chinesas Global Harbour e Jade International, espera-se que as mulheres com menos de 30 anos se tornem a principal força consumidora daquele país em breve.
Detalhes desse material mostram que elas têm uma dependência mais forte de cosméticos e gastam cerca de 20 minutos por dia em média aplicando maquiagem. Elas também se tornaram as maiores consumidoras do mercado de animais de estimação.
Jovens e trabalhando em grandes cidades como Xangai, hoje, as mulheres chinesas compõem o terceiro maior mercado consumidor do mundo – equivalente aos mercados de varejo combinados da Alemanha, França e Reino Unido – e reformularam a trajetória econômica do país asiático.
O estudo cita que "as mulheres chinesas, especialmente millennials e membros da Geração Z, estão gastando mais do que nunca em felicidade e auto-aperfeiçoamento".
Ocorre que o nível médio de educação e a renda das mulheres chinesas mais jovens também aumentaram. Hoje, a China tem mais de 400 milhões de consumidores do sexo feminino com idades entre 20 e 60 anos, que representam mais de 10 trilhões de yuans (US$ 1,5 trilhão) em consumo todos os anos, de acordo com um relatório de 2019 da Accenture, uma empresa de tecnologia da informação.
De acordo com o relatório da Accenture, os papéis tradicionais dos homens como chefes de família e mulheres como donas de casa tornaram-se obsoletos, já que 97% das mulheres chinesas urbanas têm renda. E na maioria das vezes, essas mulheres são responsáveis pelas decisões financeiras e compras.
O relatório acrescentou que a diferença de renda entre os gêneros deve diminuir ainda mais no futuro. A educação também desempenha um papel vital na formação de seus hábitos de emprego e gastos.
Outro fato relevante vem do mercado imobiliário da China que está vendo uma porcentagem crescente de compradores de casas do sexo feminino. Elas já são responsáveis por 48% das compras de casas realizadas no último ano, em 38 cidades chinesas, de acordo com o Beike Research Institute, maior agência imobiliária on-line da China.
Em Shenzhen, uma das metrópoles mais importantes da China, as mulheres estão envolvidas em 54% do total das compras de casas daquela localidade. Nas metrópoles chinesas emergentes, a proporção de mulheres que compram casas também apresentou rápido crescimento no ano passado. Um dos exemplos vem de Dongguan, outra província importante, onde as vendas lideradas por mulheres correspondem a 51%.
Outro relatório sobre os hábitos de consumo das mulheres chinesas, publicado recentemente, na semana do Dia Internacional da Mulher, pelo JD Research Institute for Consumption and Industrial Development, ajudou a detalhar o que representa esse aumento dos gastos.
"Elas não se deixam levar pelo consumismo. Em vez disso, procuram se expressar e se aprimorar durante o processo de consumo", diz o relatório.
O material da JD também observou um salto de quase 30% nos gastos das mulheres em compras para si mesmas, em comparação com as despesas dedicadas às suas famílias. Os investimentos priorizam educação, entretenimento e viagens, bem como serviços de melhoria da saúde.
As consumidoras também mostraram uma forte necessidade de fazer mudanças e se sentir empoderadas, de acordo com o relatório da JD, e isso se manifestou em seu crescente interesse por esportes como natação, esqui e equitação.
Em 2021, as mulheres na China compraram 8,4 vezes mais serviços e itens relacionados a esportes, em comparação com 2020, quando a pandemia afetou a economia do país e reduziu os gastos.
De acordo com o Anuário Estatístico da China 2021 do governo central, as mulheres representam 52,7% das pessoas com diploma de bacharel ou superior, entre adultos de 20 a 34 anos.
O movimento feminista global é um fator contribuinte. Ao falar sobre empreendedorismo feminino durante o Women Enterpreneur Forum (WeForum), realizado no último dia 17, em São Paulo, em um evento organizado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e seu Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), Natália Dias, presidente do Standard Bank no Brasil, citou a tendência e destacou que com igualdade de gênero, as mulheres poderiam dar um impulso de US$ 20 trilhões, cerca de R$ 101 trilhões, para a economia mundial, segundo um estudo da agência Bloomberg.
“A She Economy é uma grande tendência mundial. Tem visão muito curta quem não está se atentando a esse mercado”, diz Natalia.
Ao destacar que empresas lideradas por mulheres no Vale do Silício, por exemplo, têm receita 12% maior do que as lideradas por homens, a investidora Cris Arcangeli também falou sobre a importância do tema durante o WeForum.
A empresária está mentorando mulheres empreendedoras da periferia de São Paulo em um movimento que propõe liberdade financeira por meio do empreendedorismo e uma série de iniciativas que ajudam a incentivar e acelerar pequenos negócios de mulheres em comunidades.
“Proponho aceleração, educação, visibilidade de qualidade e investimento às empresas das mulheres selecionadas. Grandes negócios e produtos surgem a partir de uma demanda feminina. E chegamos a uma era em que além de trabalhar, elas podem comprar”, diz.
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