Resíduos sólidos poderiam levar eletricidade 6 milhões de domicílios
Centralização do setor elétrico inibe iniciativas que transformariam mais lixo em energia. Barueri (SP) tem projeto de usina
A inexistência de um planejamento adequado para geração de energia a partir de resíduos sólidos faz com que o Brasil desperdice potencial equivalente a uma usina de Furnas.
Esse potencial se torna mais eloquente em razão da crise hídrica e da possibilidade de racionamento num conjunto de hidrelétricas que estão, na região Centro-Sul, com reservatórios bem abaixo do nível habitual do verão.
O levantamento, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), mostra que os aterros do país poderiam reunir uma capacidade instalada de 1,3 GW de energia, o equivalente ao fornecimento adicional de aproximadamente 930 mil MWh/mês. O volume, diz a entidade, é suficiente para abastecer 6 milhões de residências. Furnas tem potência instalada de 1,22 GW.
O levantamento prevê capacidade potencial de 536 MW a partir do biogás e 742 MW via recuperação energética de lixos sólidos. Esse número considera que apenas 17% da composição dos resíduos sólidos urbanos são rejeitos, o equivalente a 13 milhões de toneladas por ano.
"É uma estimativa bastante conservadora. Falamos de resíduos sólidos urbanos com poder calorífico elevado e que não possuem destinação adequada", diz o diretor-presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho. Não entram na conta os produtos recicláveis.
A situação brasileira começará a mudar em 2017, quando deve entrar em operação a primeira unidade de tratamento térmico de resíduos do Brasil, no município de Barueri, na Grande São Paulo. A unidade de recuperação energética (URE) a ser instalada no local terá capacidade de 17,3 MW, com potencial de geração de 15 MW médios, volume suficiente para abastecer 80 mil residências. O projeto também contribuirá para o tratamento de 825 toneladas de lixo por dia.
A construção da unidade deve ter início em maio, diz o diretor de Novos Negócios da Foxx Haztec, Alexandre Citvaras. A empresa é a administradora do empreendimento, fruto de uma parceria público privada (PPP) do município de Barueri.
O empreendimento está avaliado em R$ 280 milhões e contará com financiamento da Caixa. "Este é um projeto cuja rentabilidade é compatível ao nível de risco que este tipo de projeto tem", afirma Citvaras, sem revelar detalhes.
O sigilo a respeito dos números envolvendo o projeto de Barueri tem explicação. Até então ignorados, os empreendimentos de geração de energia a partir de resíduos sólidos devem ganhar relevância nos próximos anos, o que abrirá nova opção de geração em relação ao atual aproveitamento de biogás.
A geração de energia a partir da decomposição de lixo é considerada uma fonte atrativa em termos energéticos, mas a produtividade é menor do que no caso de projetos abastecidos com resíduos sólidos. Caso optasse pela geração de energia a partir de biogás, a Foxx Haztec teria um projeto com capacidade inferior a 5 MW, compara Citvaras. O volume representa menos de um terço da geração esperada a partir do tratamento térmico dos resíduos sólidos em Barueri.