BNDES prioriza energia solar e deixa de financiar térmicas
As novas regras de financiamento para o setor de energia elétrica foram divulgadas nesta segunda-feira (3/10) pela instituição financeira, no Rio de Janeiro

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) decidiu ampliar o apoio a projetos de energia solar de até 70% para até 80% dos itens financiáveis em Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), usada pela instituição em suas operações e atualmente em 7,5% ao ano. O banco também extinguiu o financiamento a usinas térmicas a carvão e a óleo.
As novas condições de financiamento para o setor de energia elétrica foram divulgadas hoje (3/10), pela instituição, no Rio de Janeiro, e já valem para os próximos leilões de energia, programados para outubro e dezembro próximos.
A Associação Brasileira de Carvão Mineral (ABCM) criticou a decisão anunciada nesta segunda-feira, 3, pelo BNDES, que retira qualquer tipo de apoio a investimentos em termelétricas a carvão e óleo combustível.
O presidente da ABCM, Luiz Fernando Zancan, está em Brasília justamente para tratar de medidas de apoio à renovação do parque instalado de usinas a carvão no País. "Não houve nenhuma discussão conosco sobre isso. Por conta da crise hídrica, o governo voltou a apostar nas térmicas. Agora, vem uma decisão dessas? O BNDES dá um sinal contrário ao que se busca e contraria a política de governo", disse.
O BNDES informou que não concederá mais empréstimos-ponte para empreendedores do setor elétrico. Há exigência de participação mínima de 20% de recursos próprios do investidor nos projetos, com possibilidade de emissão de debêntures (título de crédito representativo de empréstimo que uma companhia faz junto a terceiros), das quais o BNDES se compromete a adquirir até 50%, visando reduzir o risco, principalmente na fase de construção do empreendimento.
A diretora de Infraestrutura e Sustentabilidade do BNDES, Marilene Ramos, informou que as decisões foram tomadas em consenso com o Ministério de Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O objetivo é privilegiar, dentro dos recursos de TJLP, projetos de fontes de energia alternativas que mostram maior retorno social e ambiental. Haverá ainda espaço para financiamentos a taxa de mercado, buscando maior participação do setor privado na emissão de debêntures, segundo Marilene.
Marilene Ramos disse que a priorização para energia solar está ligada ao fato de que essa é uma tecnologia em fase de desenvolvimento no Brasil e é preciso consolidar o segmento no setor de energia brasileiro.
O banco manteve em até 80% sua participação em projetos de eficiência energética, definindo o mesmo nível de financiamento para projetos de iluminação pública eficiente.
“Acreditamos que este setor vai crescer muito, porque são projetos de grande viabilidade. Financiados dessa forma, e com prazos de pagamentos relativamente curtos, podem representar uma enorme economia para cidades e prefeituras.
Além disso, têm um impacto social muito grande, na medida em que as cidades mais iluminadas são mais seguras e permitem opções de lazer noturno. Propiciam também a instalação aqui de uma cadeia de produção de todos os equipamentos”, afirmou Marilene Ramos”, destacando que este é um mercado que gera empregos de alto nível e qualidade.
O BNDES decidiu manter em até 70% em TJLP sua participação nos itens financiáveis nas demais fontes alternativas, entre as quais eólica, biomassa, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e cogeração renovável.
O intuito é dar incentivos à participação dessas fontes na matriz energética nacional. Para energia eólica, em especial, o prazo de financiamento é de 16 anos, “tendo em vista a vida útil do equipamento”, observou a superintendente da Área de Energia, Carla Primavera.
Para as demais energias alternativas, o prazo de financiamento é de 20 anos.
A diretora de Infraestrutura disse que as novas condições de financiamento à energia elétrica estão alinhadas com o compromisso assumido pelo governo brasileiro no Acordo de Paris, em dezembro do ano passado, para aumentar a participação das energias alternativa na matriz. Foi o que provocou a decisão do banco de não financiar mais usinas termelétricas a carvão e a óleo, responsáveis pela maior emissão de gases poluentes na atmosfera.
Dentro da meta de ampliar a participação privada nos setores de geração de energia de grandes usinas hidrelétricas, linhas de transmissão e distribuição, o BNDES promoveu alterações, prevendo participação maior do mercado privado.
No caso das hidrelétricas, por exemplo, o banco reduziu a parcela em TJLP dos itens financiáveis de 70% para 50%.
Marilene Ramos lembrou, porém, que assim como todos os demais setores, a participação do BNDES poderá se elevar até 80% do valor total dos itens financiáveis, incluindo a emissão de debêntures a serem emitidas pelo empreendedor.
No caso do setor de distribuição de energia, o banco manteve o financiamento em 50% dos itens financiáveis, sendo que a metade disso será com recursos em TJLP e a outra metade em taxas de mercado.
No setor de transmissão, ocorreu alteração maior, onde a participação do banco chega a até 80% dos itens financiáveis, mas integralmente a custos de mercado.
Nessa área, o banco alongou o prazo de financiamento para 20 anos, prevendo a possibilidade de emissão de debêntures.
Marilene Ramos informou que a decisão de deixar as linhas de transmissão sem crédito mais barato ou subsidiado, representado pela TJLP, objetiva evitar distorções em relação à geração.
“Uma linha de transmissão muito longa, financiada a TJLP, acaba mascarando a maior ou menor viabilidade de um projeto de geração que está localizado em regiões mais distantes, em detrimento de outro que poderia ser mais viável.
A ideia é que dentro do financiamento de linhas de transmissão, essa condição é totalmente internalizada na modelagem, antes do leilão. Com isso, você vai ter uma visão mais realista do que efetivamente custa transmitir energia no país, e não diluir parte desses custos para o conjunto geral dos consumidores”.
A meta é definir seus custos reais, completou.
TÉRMICAS DE CARVÃO
A diretora afirmou que a decisão do BNDES de não financiar mais térmicas a carvão e a óleo, com o objetivo de promover a participação na matriz de fontes de energia limpas, não impede que haja projetos com carvão no país, desde que sejam financiados pelo mercado em geral.
A superintendente de Energia, Carla Primavera, acrescentou que os projetos relativos a leilões passados respeitam as condições divulgadas pelo BNDES antes de sua realização.
“Eventualmente, se existir algum projeto dentro da casa para aprovação, que foi objeto de um leilão passado, as condições passadas serão respeitadas”.
EMPRÉSTIMO-PONTE
O banco não concederá mais empréstimos-ponte para empreendimentos do setor elétrico.
“Mas estamos trabalhando para dar agilidade ao processo de financiamento interno, para que o empreendedor possa contar rapidamente com financiamento de longo prazo. Assim, evitará situações em que, estando o projeto bastante avançado, se consegue aprovar financiamento de longo prazo. Nós queremos substituir o empréstimo-ponte por mais agilidade. Esse é o nosso objetivo”, ressaltou Marilene Ramos, acrescentando que não há impedimentos para que o investidor faça também empréstimos pelo mercado.
Imagem: Thinkstock
Com Estadão Conteúdo