Porto de Santos só será eficiente com a participação do mercado
Em visita à ACSP para fechar acordo de cooperação, Anderson Pomini, diretor-presidente da Autoridade Portuária de Santos, defendeu a abertura de capital do Porto e parcerias com a iniciativa privada

Há quase cinco anos, o Porto de Santos atua no sentido de se consolidar como um hub "concentrador de contêineres", status que deve ser alcançado com o leilão para atrair R$ 12,5 bilhões em investimentos, que serão destinados à ampliação do Tecon-10 (Terminal de Contêineres), no segundo semestre de 2025.
Tendência mundial para reduzir os custos das operações de comércio exterior, a expectativa é que, como hub, o porto consiga diminuir o problema da falta de 'janelas', o congestionamento e a saturação da infraestrutura das operações, que afetam a competitividade das exportadoras. Também espera-se que a transformação do porto paulista e sua descarbonização ajudem a melhorar este cenário.
Em conversa com o Diário do Comércio, Anderson Pomini, diretor-presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), falou sobre a situação atual do Porto, a greve dos auditores, que afeta as operações, e como usar parcerias para facilitar atividades dos empreendedores que operam no comércio exterior - como a assinada nesta quinta-feira, 08/05, com o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Roberto Mateus Ordine, visando ganhos de competitividade de produtos importados e exportados em contêineres.
O acordo de cooperação técnica para desenvolvimento do projeto "Consolidação do Porto de Santos Concentrador de Contêineres”, elaborado pelo Comitê de Usuários dos Portos e Aeroportos do Estado de São Paulo (Comus), da ACSP, inclui racionalizar operações logísticas em percursos porto a porta (desembarques) e porta a porto (embarques), medição e controle das emissões de gases de efeito estufa e difusão entre os usuários do Porto da ideia de descarbonização e inserção do Complexo em corredores marítimos verdes em diversos continentes.
A seguir, confira a entrevista com o diretor-presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS):
Diário do Comércio - A transformação do Porto de Santos em concentrador de contêineres será uma estratégia para melhorar ou pelo menos minimizar o problema da falta de janelas, que tem provocado grandes perdas para os empreendedores do comex?
Anderson Pomini - As cargas lutam entre si, e é uma luta absolutamente normal, que ocorre em todo o mundo. O pessoal do contêiner luta com o pessoal do grão, que luta com o pessoal da celulose, com o suco de laranja... A nossa função, enquanto autoridade portuária, é conciliar essa luta de acordo com o interesse nacional, pois todas as cargas nos interessam.
Ao mesmo tempo, nós temos o dever de oferecer uma infraestrutura adequada. Por isso, planejamos um porto pensando 20 anos à frente. Nós faremos agora o maior leilão, para o maior terminal de movimentação de contêineres do hemisfério Sul, que é o Tecon 10.
Hoje, o Porto movimenta 6,5 milhões de contêineres. Em 2024, foram 5 milhões, nós passamos do teto. Este terminal final ampliará sua capacidade para 10 milhões de contêineres, ou seja, dois anos à frente, nós teremos um porto com capacidade superior ao dobro da de hoje.
Dobrar a capacidade deve resolver a questão dos acessos?
Pensando justamente nesse gráfico, é importante que o porto planeje não só a ampliação da capacidade de movimentação de cargas, mas, em especial, dos acessos. De nada adianta ter uma boa infraestrutura para a chegada de produtos sem pensar no que vem depois.
Tem que ter uma sinergia, investimento no modal ferroviário, rodoviário, hidroviário, que nós não exploramos ainda, mas estamos fazendo agora. Então, é natural que os empresários estejam focados em carga e tragam as suas queixas, porque forçam o poder público a agir.
Acontece que, nos últimos anos, o setor público ficou muito focado em um debate que não tem razão de ser, que é sobre gestão portuária: qual o melhor formato de gestão, pública ou privada? O melhor formato é um porto eficiente, com a participação do mercado.
Por isso o senhor tem defendido a abertura de capital.
Isso, estamos estudando a possibilidade de abertura de capital do Porto Santos, porque é uma das empresas públicas mais importantes para o país, ao lado do Banco do Brasil, da Petrobras, da Caixa. Se conseguirmos abrir o capital, traremos investimentos e atribuiremos ainda mais eficiência para nossa governança. É um estudo, mas o Porto de Santos já conta com boa infraestrutura para, em um futuro próximo, listar o seu capital aqui na B3 de São Paulo.
O que o Porto de Santos tem feito para minimizar os efeitos da greve dos auditores da Receita Federal, que já dura mais de cinco meses, no dia a dia das operações?
Esse é um problema das democracias como um todo, porém mais acentuado no Brasil. O instituto da greve muitas vezes é utilizado de forma excessiva. Claro que, entendendo o lado dos trabalhadores também, é a ferramenta que eles têm para pleitear os seus direitos.
Mas o que a gente percebe é que, muitas vezes, os trabalhadores e as entidades acabam destacando os seus interesses em prejuízo de algo maior. O governo também tem que valorizá-los. Alguns setores, sempre que chamam a greve para pleitear os seus direitos, precisam tomar cuidado para não prejudicar o país e quem empreende na importação e na exportação.
Há estimativas sobre cargas paradas, dos prejuízos causados pela paralisação?
Nós estamos muito atentos a esses movimentos, é fruto de debate inclusive para a reforma da Lei dos Portos, para que nós não tenhamos insegurança nas operações para o futuro. Sempre tem carga parada, sempre que um setor estratégico chama uma greve e trabalha de forma alternada, a movimentação das cargas e o fluxo natural do controle de mercadorias ficam prejudicados. Toda a logística sofre, o Brasil sofre, o comércio, não só os trabalhadores.
O ideal agora é sentarmos à mesma mesa e encontrarmos solução para os trabalhadores saírem valorizados e não existir prejuízo na movimentação das cargas brasileiras. Não temos números, mas já pedimos à Associação Comercial de Santos para nos ajudar a fazer esse levantamento.
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IMAGEM: César Bruneli/ACSP