Para se firmar como hub, Santos precisa receber navios maiores
Os desafios são grandes, envolvem dragagem constante e adequações nos acessos para facilitar as manobras das mega embarcações
Para que o Porto de Santos se consolide como um hub de contêineres competitivo, precisará se estruturar para receber navios maiores, como os da classe New Panamax, com pelo menos 366 metros de comprimento.
Essa é a opinião do engenheiro João Acácio Gomes de Oliveira Neto, diretor-presidente da DTA engenharia, empresa que faz a dragagem do porto paulista. Mas ele é cético quanto a essa possibilidade.
“A vocação natural de Santos é ser um hub, mas não vamos esperar que entrem navios maiores, como os de 400 metros que já operam no mundo, com capacidade para 24 mil TEUs (um contêiner de 20 pés equivale a 1 TEU)”, disse o engenheiro durante reunião do Comitê de Usuários de Portos e Aeroportos (Comus), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizada na última quinta-feira, 16/09.
Segundo ele, receber navios maiores exigiria um trabalho de dragagem constante para aprofundar os canais de entrada do porto, e dragar é oneroso porque depende de equipamentos importados, como as dragas hooper.
E não se trata apenas de um problema de calado (referência à parte submersa dos navios), mas também de sinuosidade e estreitamento dos canais, o que dificulta as manobras de embarcações grandes.
“Existe espaço para dobrar a capacidade de Santos em contêiner e para receber navios pequenos, dedicados à cabotagem (navegação entre portos brasileiros). Mas entrar navios acima de 366 metros, já acho difícil”, disse Oliveira Neto.
No início do ano, Santos foi homologado pela Marinha do Brasil para receber navios de 366 metros. As opiniões das autoridades que administram o porto paulista são diferentes das do engenheiro.
Em julho, em reunião anterior do Comus, Dino Antunes Dias Batista, diretor do departamento de Navegação do Ministério de Infraestrutura (Minfra), disse que Santos lidera o processo de estruturação para receber essas embarcações maiores.
"No Brasil, os portos estão se preparando para isso, e Santos está na vanguarda desse processo ao receber embarcações com capacidade de 20 mil TEUs” afirmou o diretor na ocasião. Navios com essa capacidade de carga normalmente possuem 400 metros de comprimento.
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De fato, os números mostram que navios maiores são cada vez mais frequentes no porto. Entre janeiro de 2008 e janeiro de 2020, enquanto a movimentação de contêineres cheios aumentou 40,7%, as atracações de navios reduziram 37,8%.
Quanto maior a capacidade de carga de um navio, menores os custos da operação. O custo por contêiner transportado por embarcações da classe Post Panamax (com capacidade média de 8 mil TEUs), que normalmente atracam no porto paulista, chega a ser 70% maior do que um contêiner transportado pelos New Panamax.
Caso Santos vire um destino seguro para esses navios maiores, mais cargas poderiam ser concentradas no local e levadas por meio da cabotagem para outros portos do país - aí sim em embarcações menores. Isso é algo que já ocorre, mas em escala menor que a desejada.
O caminho ainda é longo para que o terminal paulista consiga acompanhar a evolução de porte das embarcações. E caso isso não aconteça, para Oliveira Neto, outros portos do país acabarão assumindo a vocação de hub.
Para José Cândido Senna, coordenador do Comus, antes de se pensar em estruturar Santos para os maiores navios em atividade, é preciso chegar ao limite da capacidade atual.
“Temos que bater nos limites da escala atual para então se pensar em como chegar nas demais, numa abordagem crescente, dos atuais Post Panamax para os New Panamax”, defendeu Senna.
O Comus tem realizado reuniões mensais com diferentes atores do Porto de Santos para entender os desafios e ajudar a viabilizar o porto paulista como um concentrador de contêineres.
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