O que a Fábrica de Bares reserva para a reabertura do Girondino
Nova gestão quer resgatar a vocação artística do espaço por meio de parcerias com a Prefeitura e órgãos culturais. Em 2025, terá uma praça de atendimento no calçadão do Mosteiro de São Bento
Os rumores em torno do tradicional Café Girondino, no Centro de São Paulo, finalmente ganharam um desfecho. Depois de passar cinco meses de portas fechadas e em meio a muitos boatos, a casa foi adquirida pela Fábrica de Bares e será mantida no endereço em que está desde 1998, na esquina das ruas São Bento e Boa Vista. A reabertura já tem data para acontecer: no próximo dia 5 de novembro.
"Queremos encher o Centro de gente", disse Álvaro Aoas, diretor da Fábrica de Bares, ao anunciar o retorno do Café na última segunda-feira (30/9), ao lado de seu filho e sócio Cairê Aoas, e João Castro, também sócio-diretor do grupo.
Considerado um ponto icônico da região tanto para quem trabalha por ali quanto para quem chega para turistar, Álvaro destacou que o Café mantinha tradições importantes para a comunidade paulistana - e por isso, foi automaticamente associado a uma possível aquisição da Fábrica de Bares desde o anúncio de seu fechamento.
Especialistas na gestão e operação de bares e restaurantes, a família Aoas é dona do famoso Bar Brahma, na esquina das avenidas Ipiranga e São João, onde fizeram um trabalho de recuperação do negócio similar ao que será realizado no Girondino. Outros estabelecimentos tradicionais da cidade, como o Bar Léo, Riviera Bar e o Love Cabaret, antigo Love Story, também tiveram trajetórias similares.
"São negócios que nunca podem morrer, muito emblemáticos da noite paulistana, que em sua maioria sofreram com algumas questões financeiras mas sem dúvidas têm salvação", disse Álvaro.
Sem revelar o investimento para dar nova vida ao Girondino, nem datalhar os problemas financeiros que o levaram a encerrar as atividades, Cairê revela que a transação assumida pelo Fábrica fez frente aos compromissos financeiros que os antigos sócios do Café tinham no estabelecimento.
Em ritmo de retomada, a casa já está sob a liderança de uma nova chef de cozinha, e com a contratação de 45 novos funcionários praticamente finalizada. O Grupo não conseguiu recontratar nenhum dos 15 antigos colaboradores que já haviam sido contratados por outros negócios.
Porém, mesmo à distância, alguns desses ex-funcionários ajudaram com algumas receitas que não estavam registradas. O passo a passo e as medidas para o tradicional pudim, por exemplo, foram ensinados por telefone algumas vezes, até finalmente dar certo.
Cliente do Girondino há décadas, Cairê conta que outro carro-chefe que será mantido no menu é o arroz doce. O restante tem sido testado e avaliado. Mas ele já adianta que, diferente de antes, quando as opções eram ampliadas, o novo menu deve ser mais certeiro e resgatar um tom da culinária francesa, com boas opções de café da manhã e pratos executivos com "preço mais justo e qualidade superior a anteriormente".
Nas palavas de Cairê, além de alguns pontos de gestão, do impacto da pandemia e de uma certa queda no movimento do Centro, nos últimos anos, o estabelecimento já não sustentava mais a mesma qualidade de quando o negócio foi criado. Ainda assim, segundo o empresário, os preços foram mantidos ou até aumentados, e a percepção custo-benefício ficou prejudicada.
Inicialmente, a casa funcionará das 7h às 19h. Mas o desejo de Cairê é pouco a pouco ir 'forçando' o horário de fechamento da casa. Um dos planos é resgatar o histórico do ponto com happy hours que se estendem até meia-noite, de quinta a domingo. Para tanto, ele conta com a expertise da Fábrica de Bares em hospitalidade, entretenimento, e claro, bons drinks.
Aos finais de semana, a casa costumava receber mais de mil clientes para um cafézinho e, por isso, a ideia também é apostar na oferta de panificação e confeitaria - tudo produzido ali mesmo.
EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS
Mesmo com algumas renovações, Cairê afirma que a "alma do negócio" será mantida o mais próximo possível de quando o Café foi reaberto em 1998, prezando por alta qualidade e muitas atrações culturais e artísticas. "Algo bem parecido com o que fizemos com o Bar Brahma e o Bar Léo, quando assumimos as casas".
Do ponto de vista estético, a fachada irá ganhar toldos e novas jardineiras nas janelas. Internamente, terá novos pontos de iluminação, serviços de pintura e novos quadros. Mas em geral tudo deve ser mantido com pouquissímas alterações, disse Cairê. A vitrine mais próxima da porta principal será exclusiva para a confeitaria, "para mostrar a quem passa na rua as delícias que temos aqui dentro."
Para além dos quitutes, a vocação cultural da marca será explorada e deve movimentar o endereço por meio de parcerias com o Theatro Municipal, o Mosteiro de São Bento e o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Algumas imagens apresentadas por João deram uma prévia do que deve acontecer no terceiro andar do prédio do CCBB, que passará por uma reformulação para receber mostras temporárias do Museu do Café de Santos (ligado à Secretaria Estadual de Cultura).
A ideia é justamente dar destaque ao grão como elemento importante no estabelecimento e na construção da cidade de São Paulo, prevendo experiências imersivas e sensoriais, que permitirão aos clientes fazer um 'tour' por meio de realidade virtual por uma fazenda de café.
Outro plano previsto para ser entregue no primeiro semestre de 2025, quando o Girondino completará 150 anos, é a requalificação de uma praça em frente ao café e ao Mosteiro de São Bento, onde hoje há obras do metrô. O plano é criar uma estrutura que será chamada de Praça da Música, e que terá um balcão de atendimento do Girondino com mesas e cadeiras, além de uma espécie de coreto contemporâneo para apresentações musicais e uma área infantil com parquinho.
Para viabilizar o projeto, a Fábrica de Bares assinou um termo de cooperação com o poder público para utilizar o espaço em troca de investimentos em infraestrutura, manutenção e realização de eventos culturais no local.
Nesse período sem funcionamento na rua Boa Vista, o Girondino manteve a operação em andamento no Centro Cultural Banco do Brasil (o CCBB, também no Centro), onde há uma segunda unidade. O atendimento por lá será mantido.
IMAGENS: Divulgação