Nas mãos das baratas
O churrasco de presos numa penitenciária da Bahia, empunhando facões e bebendo cerveja, é uma metáfora da impunidade característica do atual governo federal
Seria ilógico imaginar que a maioria das coisas não anda no país.
Certamente que grande parcela dos atos e fatos da vida nacional tem sua sequência cotidiana dentro da normalidade.
Claro que, normalidade, de um país que se jacta “em desenvolvimento”, mas ainda se encontra refestelado na rastaquera esquina do terceiro mundo do planeta.
Faço essa consideração inicial diante do estupor que a foto publicada na primeira página da Folha de S. Paulo deste dia 2 causa.
Trata-se de churrasco dos detentos do presídio Lemos Brito, na Bahia, onde, facão na mão, os presos refestelam-se não só na preparação e consumo da carne e acompanhantes. Como ainda dispõem da liberdade interna que desejarem, com celulares e tudo mais, e prostitutas fazendo visitas íntimas na verdadeira casa da mãe Joana.
É só mais um retrato da realidade brasileira, onde o Estado, aqui entendido como o instrumento constitucional que define as funções da União, das unidades federativas e dos municípios, está abandonado pelas autoridades e entregue nas mãos das baratas, num mundo onde o crime organizado, as quadrilhas, os bandidos, os malfeitores, tomaram conta de quase tudo.
Digo quase tudo conforme a ressalva do parágrafo inicial, e porque ainda não dominaram, ao menos, minha mente e a do leitor. Espero na certeza que consegue ainda se indignar contra o descaso com que o Poder Público toma (ou não toma) conta do país.
Com medo de rebeliões, motins, seja lá o que for, as autoridades estaduais abrem mão do controle sobre os presídios de sua responsabilidade e transferem para as mãos das quadrilhas organizadas o controle da vida interna dos presídios. De onde, acrescente-se, seguem comandando o crime fora das grades também.
Um país tão grande e tão repleto de problemas como o nosso só consegue sobreviver no seu dia a dia, sem um caos permanente, porque a maioria da população, infelizmente, a mesma camada que elege maus governantes, ainda tem a índole boa e a mansidão dos inocentes.
Não fosse assim, e o Brasil ilha-continente de piratas sedentos, estaria já na lei das selvas do salve-se quem puder. Já está em alguns casos, situações.
Certamente a culpa é do FHC, na míope visão de quem ocupa o Planalto e considera que tudo é de sua propriedade. Se fosse mesmo, estaríamos perdidos de vez, tanta é a falta de competência para o exercício do poder. Sem falar na sede do enriquecimento às custas do tesouro público.
É por isso tudo, e muito mais, que, de forma pacífica, ordeira, a população precisa ir para as ruas no dia 15 de março, sem palavras de ordem por falsas lideranças e conflitos, mas, simplesmente, para mostrar, não só a Dilma, a Lula, aos petistas e aliado$ de ocasião, mas a todo tipo de autoridade constituída, que a paciência do brasileiro que trabalha e paga as contas de toda bandalheira, está esgotada.
A sensação que temos, eu pelo menos tenho e assumo, é de que estamos nas mãos das baratas.
Você não acha leitor?