Na Rua Teodoro Sampaio, lojas de móveis estão às moscas

Faturamento real do varejo de móveis, que cresceu 5,5% entre 2011 e 2015, deve cair 7% neste ano, de acordo estudo do IEMI

Fátima Fernandes
27/Jun/2016
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Na Rua Teodoro Sampaio, lojas de móveis estão às moscas

Quem mora em São Paulo e precisa renovar o mobiliário, muito provavelmente, pensa em dar uma passada na Rua Teodoro Sampaio, no bairro de Pinheiros, zona Oeste de São Paulo.

Há décadas, dezenas de lojas de móveis - e para todos os bolsos - estão espalhadas entre os quarteirões que vão da rua Fradique Coutinho até a avenida Henrique Schaumann.

Esse trecho da Rua Teodoro Sampaio costuma ser uma espécie de termômetro do setor, até porque muitos lojistas, ali reunidos, são também fabricantes de móveis.

“Nosso cliente está preocupado, sem dinheiro. Parece que, com o afastamento da presidente Dilma, surgiu alguma esperança de melhora. As vendas estão muito ruins”, afirma Inês Andrade, funcionária da Ilustre, loja que está há 25 anos na rua.

Pela primeira vez, os irmãos Lígia e Erich Vas, que tocam a loja Cintubro, especializada em linha country, fundada há 45 anos, quase chegaram a atrasar o aluguel, de R$ 17 mil. “Era difícil ter imóvel para alugar na rua. Aqui perto há duas lojas para locação”, diz Ligia.

“Estou há quase 40 anos no setor de vendas de móveis e há quase 20 anos na Rua Teodoro Sampaio. Nunca vi uma crise como esta. O faturamento desta loja era de R$ 800 mil por mês. Hoje, não chega a R$ 300 mil”, diz uma vendedora que prefere não se identificar.

Se a Rua Teodoro Sampaio pode ser considerada um termômetro do setor, por esses depoimentos, é possível ter uma ideia de como anda o mercado de móveis no país. Na última terça-feira (21/06), as lojas estavam às moscas. No shopping Casa & Móvel, que reúne 30 lojas, alguns espaços pareciam abandonadas. Estavam vazios até de vendedores.

Pedro Wajnsztejn, consultor contratado para ‘repaginar’ o shopping, fundado há 25 anos, e que agora opera como outlet de móveis, diz que há três lojas saindo do local. Os comerciantes que, em sua maioria, são também fabricantes, de acordo com ele, esperam uma melhora nos negócios a partir do segundo semestre deste ano.

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Assim como o setor produtos eletroeletrônicos, o de móveis foi um dos que mais sofreram com a crise. Os dois são fortemente dependentes de crédito - agora bem mais restrito.

Estudo que acaba de ser concluído pelo IEMI - Inteligência de Mercado revela que o setor moveleiro brasileiro sofreu um tombo no último ano.

A produção da indústria caiu 8,9%, o pessoal ocupado, 7,9%, e o consumo de móveis, 8,8% em 2015, na comparação com 2014. Para este ano, a estimativa é de uma queda de mais 4,6% na produção, de 5,1% no consumo em relação a 2015 e de mais demissões no setor.

O faturamento real do varejo de móveis e colchões, que cresceu 5,5% entre 2011 e 2015, deve cair cerca de 7% neste ano, de acordo estimativa do IEMI.

Marcelo Prado, diretor do IEMI, diz que o setor começou a sentir os efeitos da crise no segundo semestre do ano passado, época em que, tradicionalmente, o faturamento das empresas chega a crescer 60% em relação ao primeiro semestre.

“No ano passado, o aumento de vendas no segundo semestre em relação ao primeiro foi da ordem de 17%, causando um baque no setor. Muitas empresas não resistiram e fecharam.”

Com um faturamento da ordem de R$ 1,2 bilhão por ano, a rede de lojas Zema, especializada em móveis e eletroeletrônicos, foi forçada a encolher.

No último um ano e meio, a empresa fechou 67 lojas. Hoje, a Zema possui 480 pontos de venda no interior de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Bahia e Espírito Santo.

Romeu Zema, sócio-proprietário da rede, diz que o faturamento real da empresa caiu 12% de janeiro a maio deste ano, na comparação com igual período do ano passado.

“Se o mercado parar de piorar, vamos manter o número atual de lojas e o quadro de pessoal.  Se não, pode ser que alguns pontos não vão mais se justificar”, afirma ele.

DRAMA

A crise no setor tem reflexos extremos. O empresário Luís Antônio Scussolino, de 66 anos, dono da Luizzi Estofados, de Rio Claro (SP), foi encontrado morto na fábrica, com uma corda no pescoço.na terça-feira passada (21/06), depois de demitir 223 empregados devido à queda de vendas.

LAFER: EXPORTAÇÃO AJUDA A MANTER O NEGÓCIO

“Cada empresa está fazendo o que pode para aguentar a travessia nesta tempestade”, diz Percival Lafer, diretor técnico da Lafer, uma das mais tradicionais indústrias de móveis do país.

Na comparação com 2013, quando a economia ia bem, o faturamento da empresa caiu 14% e, a rentabilidade, 63%.

Fundada há 89 anos por Benjamin Lafer, pai de Percival, a Lafer não reduziu a produção nem fechou nenhuma de suas cinco lojas.

“Nunca diminuímos o esforço para exportar em razão da subida ou da descida da taxa de câmbio”, diz ele. Agora, com a crise no mercado interno, a empresa colhe os frutos.

De acordo com o estudo do IEMI, as exportações de móveis, que caíram 7,1% no ano passado em relação a 2014, deverão crescer 5,7% neste ano, principalmente por causa de uma taxa de câmbio mais favorável para as vendas externas.

DESCONTOS NAS LOJAS CHEGAM A 70%

Para incentivar as vendas no país, as lojas de móveis estão chamando a atenção dos clientes com descontos que chegam a 70% e parcelamento do pagamento em até dez vezes no cartão.

Percival diz que há um ano, a sua rede de lojas nem pensava trabalhar com prazos tão longos. O costume era parcelar em até três vezes no cartão. Agora vende em até dez vezes, sem juros.

O orçamento apertado do consumidor também fez a empresa a pensar em designs de móveis mais econômicos. A empresa acaba de lançar uma poltrona que custa 12% menos do que a peça mais em conta da loja (R$ 4.900).

A rede Zema também está mais agressiva nas promoções e nos prazos de pagamento, em um esforço conjunto com fabricantes. Na Rua Teodoro Sampaio é difícil ver uma loja sem placas de promoções.

A Spazio Eco, há 25 anos na rua, aproveitou a crise para comprar um estoque de peças com descontos – uma mesa de madeira com quarto cadeiras usta menos de R$ 1.000.

Assim que os produtos foram colocados na loja já começou a ter mais movimento de clientes, de acordo com Márcia Bispo, gerente da loja, que parcela a compra até 12 vezes no cartão e no cheque.

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Foto: Fátima Fernandes

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