Menos emoção e mais razão

Nestas próximas semanas, os depoimentos de delação premiada de indiciados esclarecerão muitas coisas

Aristóteles Drummond
16/Mar/2016
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Realmente o ex-presidente Lula foi muito mal assessorado no trato de seus assuntos particulares.

Na verdade, fica cada vez mais complicado negar as propriedades do sítio de Atibaia e do tríplex do Guarujá, imóveis de bom nível, mas nada que ele não pudesse ter adquirido.

No entanto, negar, depois de ir ao sítio 111 vezes com a segurança que tem direito como ex-presidente, de ter mandado para lá parte de sua mudança quando deixou o Palácio da Alvorada.

Após ter tido instalada uma antena-pirata de celular, de ter tido obras de vulto pagas por empreiteira e uma cozinha moderna realizada por outra, de visitar o imóvel, de ter admitido que foi proprietário e que desistiu, mas fora do prazo legal dado aos cotistas do fundo, do testemunho de empregados do condomínio, de tantos amigos vizinhos.

Enfim, são indícios demais para não ser verdade. E, para piorar, os donos oficiais nunca frequentaram o local.

Com isso tudo, o ex-presidente acaba se enrolando nas demais acusações. Em algumas, percebe-se um fundo de verdade e em outras, um poço de ressentimentos de antigos amigos.

E essa política do confronto não costuma ser acolhida pelos brasileiros. Apressa um ostracismo, cruel por suceder anos de glória, no Brasil e no mundo.

O presidente Barak Obama chegou a declarar que Lula “era o cara”, com manchetes em todo o mundo.

A reação ao depoimento com possibilidade de coerção perdeu o sentido por ter se dado dias depois de ele apelar para a Justiça no sentido de não depor em outro processo. Logo, a sua disponibilidade para fornecer informações não é assim como procurou fazer crer.

Nestas próximas semanas, os depoimentos da delação premiada de meia dúzia de indiciados esclarecerão muita coisa.

O importante neste momento é conter as manifestações contra e a favor do ex-presidente dentro da ordem, da lei, do respeito. Embora não esteja entre seus correligionários – apesar de ter votado nele numa eleição, já que o opositor era pior –, venho condenando a falta de respeito com que, nas redes sociais, um ex-presidente da República é tratado.

O próprio também tem se deixado levar pela emoção, inclusive no uso de palavras de baixo calão, inapropriadas a quem ocupou tão alto cargo.

Vale lembrar que a crise na economia, paralela a política, vem se agravando, provocando desemprego em massa, alta de preços e, portanto, penalizando os menos favorecidos. É preciso mais cuidado, menos emoção e mais razão para a superação deste momento tão delicado. E perigoso!

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