Já conhece a Uber das encomendas?
A Cabenocarro, fundada por João Paulo Albuquerque e Marlon Pascoal (na foto), se vale de motoristas em trânsito para simplificar entregas
A ineficiência logística é um dos grandes entraves para a produtividade no Brasil. De acordo com a pesquisa da Fundação Dom Cabral realizada em 2015, os custos logísticos consomem atualmente 11,73% das receitas das empresas.
Não é coincidência que diferentes startups se dediquem a melhorar o transporte de pessoas e cargas. A Cabenocarro, do empreendedor Marlon Pascoal, é uma delas.
Após vender sua primeira startup, um aplicativo de entrega de comida, Pascoal decidiu fazer uma viagem pela América do Sul.
Ao chegar a Corumbá, na fronteira entre Brasil e Bolívia, ele percebeu que estava sem o passaporte ou documento de identidade, necessários para ultrapassar a divisa.
Para seguir viagem, Pascoal precisava fazer com que seus documentos fossem transportados de Londrina até a fronteira. Um detalhe: era fim de semana, portanto, as transportadoras e o os serviços de entrega dos correios não estavam disponíveis.
Após se conectar com diversas pessoas e empresas, ele conseguiu transportar o documento e colocar o pé na estrada.
Pensando em pessoas que enfrentaram problemas similares, Pascoal e João Paulo Albuquerque, seu sócio, fundaram a Cabenocarro.
“Pessoas que se locomovem regularmente e podem ganhar um dinheiro extra”, afirma Pascoal. “Há também pessoas que precisam entregar objetos de forma rápida e segura”.
Com modelo similar ao da Uber, a plataforma conecta motoristas que fazem percursos entre cidades ou estados e pessoas que precisam realizar entregas de documentos ou encomendas.
Assim como os aplicativos de carona, o usuário é submetido a uma análise da documentação do veículo e carteira nacional de habilitação (CNH).
Para garantir a segurança dos motoristas, todas as encomendas devem ter a caixa aberta para garantir que nada ilícito será transportado. As encomendas são asseguradas em até R$ 2 mil em caso de danos e extravios.
O preço final é extraído por uma fórmula que calcula tamanho da encomenda e distância a ser percorrida. A Cabenocarro cobra uma taxa de 20% do valor.
“As entregas são até 60% mais baratos do que nas empresas de transporte tradicionais”, afirma Pascoal. O serviço pode ser utilizado tanto por pessoas físicas quanto por pequenas empresas.
ENTREGA COLABORATIVA
O Engenheiro eletricista Italo Marton é um dos usuários da plataforma. A primeira vez que utilizou o Cabenocarro foi quando precisou trocar uma peça de sua motocicleta.
Ele tinha pressa, o veículo tinha que estar pronto para um encontro de motociclistas que aconteceria dois dias depois.
Morador de Maringá, cidade do interior do Paraná, ele teve que encomendar a peça em uma concessionária em Curitiba, a mais de 400 quilômetros de distância.
Com ajuda da plataforma, ele entrou em contato com um motorista que estava indo de Curitiba até Londrina. Depois com outro que fez o trajeto até Maringá, em menos de um dia e meio a peça estava nas mãos de Marton. O preço total foi em torno de R$ 40.
“A experiência foi muito boa. Se tivesse optado por uma transportadora o valor seria mais alto”, afirma Marton.
NOS ESTADOS UNIDOS
A Roadie, uma empresa similar, atua nos Estados Unidos há cerca de três anos. O site calcula que somente naquele país 250 milhões de carros pegam estradas todos os dias, o que representa mais de um bilhões de metros quadrados em espaço desperdiçados.
A startup americana recebe investimento da United Parcel Service (UPS), umas das maiores empresas de logística do mundo, e tem parcerias com e-commerces para a entrega de produtos. No total, são mais de 50 mil motoristas que realizam entregam em quase 4 mil cidades americanas.
No Brasil, a Cabenocarro ainda esbarra em um grande problema: a segurança. “O brasileiro ainda tem muito medo de deixar seus objetos na mão de estranhos”, afirma Pascoal. “Nossa principal dificuldade é reverter esse pensamento e mostrar que a entrega pode ser feita de forma segura”.
Por enquanto, a empresa procura novos usuários em grupos de carona. O Cabenocarro não tem intenção de que os motoristas dediquem horas livres para realizar as viagens, diferente do que acontece atualmente com a Uber.
“A ideia é que os motoristas, que já fazem percursos recorrentes, realizem as entregas sem que seja necessário alterar muito a rota original”, diz Pascoal.
FOTOS: Cabenocarro/ Divulgação