Educação deve ser prioridade

A melhor qualidade da educação e da formação é que pode determinar a melhora da renda, contribuir para a distribuição da riqueza e reduzir as desigualdades

Marcel Solimeo
30/Dez/2021
Economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo
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Educação deve ser prioridade

A redução da pobreza e das desigualdades exige, no curto prazo, medidas emergenciais para garantir condição mínima de subsistência para ampla parcela da população.

Os vários programas desenvolvidos com esse objetivo, no entanto, não se preocuparam em apresentar “portas de saída”, isto é, medidas que permitissem aos beneficiados se libertarem da dependência, e “caminhar” por conta própria.  

Como a perda de renda ocorrida durante a pandemia provocou aumento da pobreza e, inclusive, da miséria absoluta, que havia sido erradicada, essa deve ser prioridade no curto prazo, mas para reduzir a desigualdade, em um segundo momento, é preciso atuar na área da educação.

Do ponto de vista estrutural, os economistas consideram a educação um dos principais fatores que podem explicar os diferentes graus de desenvolvimento entre as nações, mesmo quando dotadas de iguais recursos naturais. Isso porque a educação propicia maior produtividade no uso dos recursos disponíveis e, consequentemente, para a riqueza das nações.

A educação também pode explicar grande parte das diferenças de renda entre as pessoas. A rápida mudança que vem ocorrendo no mundo em direção à economia do conhecimento e da tecnologia torna o papel da educação ainda mais relevante para as nações, mas, também, permite aos indivíduos se beneficiarem do progresso de seus países.

A melhor qualidade da educação e da formação é que pode determinar a melhora da renda, contribuir para a distribuição da riqueza e reduzir as desigualdades.

Para isso, no entanto, é preciso oferecer às camadas menos favorecidas a mesma qualidade de ensino oferecida às demais, para que elas possam competir em condições de igualdade no mercado de trabalho.

Esse processo precisa começar pelo ensino fundamental, para que os estudantes avancem sem carregar defasagens de conhecimento que prejudicam as etapas seguintes, até chegar ao mercado de trabalho.

Depois do grande salto quantitativo do País na área educacional nos últimos anos, com forte expansão do número de estudantes, é preciso investir na qualidade do ensino, não apenas para colocar o Brasil em condições de igualdade no mercado internacional, mas, principalmente, para assegurar distribuição mais equitativa dos frutos do progresso.

Agora é o momento desse salto ser complementado pelo investimento na qualidade. Para isso, não basta aumentar o volume dos recursos dirigidos ao setor educacional. É preciso um programa articulado e abrangente para utilizar melhor os recursos, e direcioná-los para elevar a qualidade do ensino.

A cidade de Sobral, no Ceará, mostrou ao Brasil, e ao mundo, pois foi objeto de ampla análise por parte de organismos internacionais, que isso é possível.

Exige liderança e vontade política, envolvimento da sociedade, uso da tecnologia da educação disponível, foco, e avaliação permanente. O papel do diretor é fundamental para coordenar e, quando for o caso, cobrar mais recursos. Mas apenas aumentar as disponibilidades financeiras sem um programa e foco não resolve.

Atualização dos currículos, modernização das técnicas pedagógicas, ampliação do número de horas de aula, melhora das instalações físicas são indispensáveis, mas não suficientes. A preparação e valorização do professor é fundamental, para que ele possa usar a tecnologia para ensinar e preparar os estudantes para um mercado de trabalho que exige flexibilidade e atualização permanente.

Adicionalmente deve transmitir ao estudante valores como respeito, patriotismo, ética, disciplina, solidariedade e civismo para o Brasil formar cidadãos.

As eleições do próximo ano representam grande oportunidade para cobrar dos candidatos ao Executivo e ao Legislativo compromissos claros sobre a questão da educação, mas é preciso considerar que a responsabilidade pela sua melhora não é apenas dos governantes, mas da família e de toda sociedade.

LEIA MAIS: Resgatar o passivo social

 

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