O passivo da educação

Os passivos sociais, se não atacados com urgência, acarretarão enorme perda e comprometerão o futuro do país

Marcel Solimeo
12/Abr/2022
Economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo
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O passivo da educação

Há alguns meses escrevi texto para chamar a atenção de que não era hora de discutir reformas, mas de adotar medidas para, ao menos, reduzir os passivos social e sanitário provocados pela pandemia, que atingiu especialmente a camada mais pobre da população.

Escrevi naquela oportunidade que o mais urgente no momento, no entanto, é compensar os enormes passivos social e sanitário acumulados nesses dois anos, cujo maior custo foram as mortes de milhares de pessoas.

Esses passivos resultaram, inclusive, na desestruturação de famílias que perderam seus mantenedores, no aumento da pobreza, da fome e da desnutrição, sequelas de muitos atingidos pelo vírus que precisam ser tratadas, acúmulo de exames e tratamentos de outras doenças, e distúrbios das condições emocionais de imensa parcela da população.

Apontei naquele texto que na educação talvez estivesse o maior problema, pois comprometia o presente e o futuro de toda uma geração.

Importante artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 10 de abril, pelo professor Mozart Neves Ramos, intitulado “Os desafios da educação pós-pandemia”, apresenta números que mostram o impacto da pandemia e do fechamento das escolas durante esse período, que precisam ser analisados para que se adotem medidas específicas que compensem as perdas ocorridas.

Estudo do INEP revelou que as escolas ficaram fechadas 279 dias no primeiro ano da pandemia. Os resultados do SAREST revelaram que um estudante da rede estadual paulista terminou o ensino médio com uma defasagem de quase seis anos em matemática e quatro anos em língua portuguesa. Isto, em São Paulo, Estado mais rico da federação.

Outros dados revelam que as perdas foram ainda maiores nas crianças, que regrediram ainda mais.

No meu artigo, embora não dispusesse de dados a respeito, chamava a atenção para a necessidade de se fazer um balanço abrangente desses enormes passivos social e sanitário, para elaborar estratégias específicas para cada um deles e, paralelamente, fazer um programa de curto e médio prazos.

Dizia ainda que o ataque a esses passivos precisa ser iniciado com urgência para que não se perca toda uma geração - as crianças e jovens de hoje -, que já sofreu tanto durante a pandemia. Para que ela não tenha também seu presente e futuro comprometidos pelo descaso, a demora ou a omissão.

Propunha que na educação, um plano de emergência deveria se concentrar em oferecer uma dose de reforço nos vários níveis, de português, matemática e inglês durante o período de férias, ou com aumento do número de horas-aula, utilizando, se necessário, estudantes universitários, devidamente treinados, para procurar repor o aprendizado perdido.

Considerava que essas matérias são básicas para que se possa avançar para outras fases e, também, para o ensino profissional.

Um ponto não abordado pelo professor Mozart em seu artigo, mas que considero fundamental, é a necessidade de atenção especial aos que desistiram da escola, seja por necessidade, por desinteresse ou qualquer outra razão, para que não se crie um contingente de “nem-nem”, que não trabalham, nem estudam, que serão um peso para suas famílias e para a sociedade.

Defendia que essa imensa tarefa deve ser articulada e realizada pelos três níveis de governo, mas, também, contar com o apoio e participação de toda sociedade”.

Acredito que os dados e informações apresentados devem servir para a mobilização da sociedade para exigir dos governantes medidas para sanar esses passivos sociais, que, se não atacados com urgência, acarretarão enorme perda para uma imensa legião de crianças e jovens, e comprometerão o próprio futuro do país.

LEIA MAIS: Educação deve ser prioridade

 

IMAGEM: Thinkstock

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