Como os brasileiros se alimentam fora de casa
Levantamento da Relp! aponta as preferências do consumidor. Também derruba o mito de que segunda-feira é dia de começar uma dieta
O mercado de alimentação fora do lar, que movimenta R$ 170 bilhões anuais no país, teve de se reinventar nos últimos anos.
O aumento da oferta, o surgimento de restaurantes especializados em culinárias diversificadas e o interesse do consumidor por novidades obrigaram muitos comerciantes a rever seus cardápios, abaixar os preços e apostar em promoções.
Embora o segmento tenha fechado 2018 com crescimento de 3,5%, de acordo com a Associação Nacional de Restaurantes (ANR), abaixo das expectativas para o ano (5%), o resultado trouxe algum alívio para um ano com Copa do Mundo – em que as pessoas preferem se reunir em casa, sem contar a greve dos caminhoneiros, que prejudicou os negócios em maio.
A boa notícia é que o setor de Food Service não costuma ser muito abalado pelo cenário econômico. Quem já tem essa disposição de comer fora pode encontrar opções mais baratas ou reduzir a quantidade de vezes que sai para comer. Estima-se que o segmento de food service represente 2,7% do PIB nacional.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os brasileiros chegam a consumir 25% de sua renda, por mês, comendo fora de casa.
A falta de tempo, a nova estrutura familiar (muitos casais sem filhos), o crescimento demográfico em regiões urbanizadas, e a crescente participação da mulher no mercado de trabalho são fatores que também ajudam a sustentar esses números.
OS QUERIDINHOS
De olho na mudança de hábitos e nos novos interesses dos consumidores, a Relp! Aceleradora de Restaurantes conduziu um estudo para entender o comportamento dos clientes que frequentam bares, restaurantes e padarias.
Dennis Nakamura, presidente da Relp! diz que ao analisar os dados, é possível identificar a forte influência da história e da cultura em nossas escolhas de consumo diárias.
A comida italiana figura como a preferida quando a decisão é sair para comer. Logo em seguida, vem a culinária japonesa, uma tendência de longo prazo que vem se estabelecendo cada vez mais pela dificuldade de preparo em casa e também pela tentativa de se optar por uma alimentação um pouco mais saudável.
Em terceiro lugar, está a culinária variada, com comida do dia a dia, normalmente servida por quilo em restaurantes self-service ou em formato de prato feito.
PREFERÊNCIA PELO QUILO
Neste contexto, a preferência dos brasileiros é pelos restaurantes por quilo (27%). A informação faz parte de uma pesquisa realizada no segundo semestre de 2018 pela Fiesp/Ibope.
De acordo com o estudo, o almoço é a refeição menos praticada no ambiente doméstico -53% da população almoça pelo menos um dia da semana fora de casa.
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT) mostram que o valor médio de uma refeição completa (prato principal, bebida, sobremesa e café) no Brasil é de R$ 34,14. Ou seja, para alguém que queira comer fora todos os dias úteis, o gasto pode chegar aos R$ 751.
Na avaliação de Cristina Souza, diretora-executiva da GS&Libbra, os brasileiros estão mais preocupados com o que eles ingerem. Além disso, a presença de comida brasileira e italiana entre as preferidas da população reflete bem a percepção de refeição completa que apreciam.
"Os lanches e o fast food já são considerados uma indulgência, ou seja, uma escapada da dieta. Enquanto isso, um prato de comida bem servido dá outra sensação, a de que o consumidor está realmente fazendo seu dinheiro valer", diz.
O clima também interfere nas escolhas feitas pelos clientes. Em geral, quanto pior o clima (chuva), maiores são as chances de optarem pelo cardápio italiano.
Outro ponto da pesquisa mostra o interesse por comida asiática, especialmente as menos conhecidas e disseminadas, como a coreana, que cresceu 3,91% ao longo de 2018.
Para Cristina, a ascensão desse tipo de culinária se deve ao jovens que possuem um paladar mais internacionalizado e têm forte poder de influência nos restaurantes que serão frequentados pela família aos finais de semana. "Eles (jovens) querem novos sabores", diz.
MITO OU VERDADE
Além de confirmar algumas preferências, o estudo indica alguns mitos e verdades sobre alimentação fora do lar. O dia oficial de enfiar o pé na jaca, por exemplo, é na quinta-feira e não na sexta. Já o dia da macarronada é aos sábados e não aos domingos.
A ideia de que segunda-feira é o dia oficial de começar a dieta também é mito. De acordo com a pesquisa, as pessoas têm 64,3% mais de chances de comer comida saudável nos dias de semana se comparado aos finais de semana, mas quinta-feira é o dia de maior procura por alimentação saudável fora do lar.
Por outro lado, a crença de que as mulheres preferem refeições mais “light” é verdadeira. O interesse delas por comidas mais saudáveis é 158% maior em relação aos homens.
Outro fato verdadeiro apurado é que a pizza é um prato para se compartilhar, preferencialmente nos finais de semana. A fome por pizza é 58% maior aos finais de semana do que nos dias úteis. O dia mais procurado é domingo.
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