Comércio da capital paulista reabre atento aos protocolos sanitários
Lojistas buscam evitar novo endurecimento das medidas restritivas. Foram adotadas faixas para distanciamento entre clientes, aferição de temperatura e disponibilização de álcool em gel. Comércio funcionou das 11h às 15h
O comércio finalmente reabriu na cidade de São Paulo após quase três meses impedido de funcionar.
Ainda que com horário reduzido - tiveram permissão para abrir das 11h às 15h -, as lojas de rua voltaram a receber clientes na quarta-feira, 10/06, com as devidas medidas de distanciamento e higiene acordadas em termo de cooperação assinado pela prefeitura e a Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Os shoppings voltam a funcionar nesta quinta-feira, 11/06, também em horário reduzido, das 16h às 20h.
Com correntes ou faixas para controlar filas na porta das lojas, e marcação para distanciamento de clientes e funcionários, o mote foi "seguir o protocolo para não retroagir" ou, não correr risco de novo endurecimento das medidas restritivas, conforme anunciado pelo governo em outras regiões do estado.
Na 25 de Março e seu entorno, por exemplo, fechada para circulação de veículos durante a quarentena, o fluxo de pessoas ficou mais intenso. Em algumas lojas, provocou até filas, como no Armarinhos Fernando.
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Unanimidade local, com capacidade de atendimento de até 1,3 mil consumidores por vez, as duas lojas da rede na região distribuíram 500 senhas para dar conta de atender a todos dentro do horário permitido, segundo Ondamar Ferreira, gerente geral da matriz do Armarinhos.
“Pela quantidade de pessoas e pelo horário reduzido, vendemos 35% hoje do que venderíamos em um dia normal – um percentual bom e dentro da atual realidade.”
Por comprovar que vende produtos essenciais, e atender pequenos comerciantes que vêm de todas as partes do país para abastecer suas lojas, a rede acabou de conseguir autorização da prefeitura que permite sua abertura das 9h às 17h.
O desafio dos lojistas da capital paulista vai ser reverter uma queda de 67% nas vendas só em maio, segundo o Balanço de Vendas da ACSP.
Não será fácil voltar aos níveis de crescimento anteriores, até porque é necessário respeitar a regra de lotação máxima de 20% da capacidade da loja.
Diretor do Depósito de Meias São Jorge, com duas lojas na 25 de Março, Jorge Dib, diz que, mesmo com número significativo de pessoas circulando, a gestão de filas em suas lojas foi eficiente e sem tumultos.
"Mas orientamos todos os associados a respeitarem os protocolos da prefeitura para o comércio não ter de fechar de novo", alerta ele, que é diretor da Univinco (União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências).
ZONA LESTE, ZONA SUL
Consumidores animados, porém, em volume diferente do "formigueiro de gente" de antes da quarentena, circularam em grandes polos de comércio da Zona Leste, como Penha, Tatuapé e São Miguel Paulista, trazendo boas perspectivas, disse Eugênio Cantero Sanchez, coordenador adjunto das três distritais da ACSP.
Sanchez faz críticas ao horário reduzido. "A prefeitura pensou só no transporte público, mas não pensou que o atendimento em horário integral evita aglomeração de pessoas pois distribui melhor o fluxo", destaca.
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Em Santo Amaro, na região de comércio no entorno do Largo 13 de Maio, Praça Floriano Peixoto e na Alameda Santo Amaro, o movimento foi bastante intenso, com filas na porta das lojas, consumidores saindo com sacolas cheias da perfumaria Ikesaki e faixas para organizar filas em frente à Casas Bahia.
Superintendente da Distrital Sul da ACSP, Antonio Benedito Leite da Silva Souza acredita que todo esse movimento mostra a ansiedade das pessoas de saírem da "prisão" da quarentena. Umas com máscaras, outras sem.
Porém, o aumento estimado nas vendas diárias em Santo Amaro, entre 40%, 50% do normal, pode não representar a realidade: para Souza, ainda é cedo para saber como será o real comportamento do consumidor, tendo em vista a queda na renda e o desemprego.
"Lojistas e clientes precisam ficar atentos às medidas de segurança, ou teremos que ir para o lockdown."
BRÁS E BOM RETIRO
Nos polos de comércio com fluxo de pessoas semelhante ao da 25 de Março, como o Bom Retiro e o Brás, o movimento variou.
Na rua José Paulino e adjacências, um misto de receio e desinformação, já que a prefeitura liberou os protocolos de funcionamento só na última terça à noite, o que fez o fluxo de pessoas ficar em 5% do normal.
Depois de muita luta para adaptar lojas às medidas sanitárias, segundo Nelson Tranquez, vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) do Bom Retiro, o movimento foi mais calmo do que o previsto.
"Mas vai ser um aumento gradativo: à medida que as pessoas saírem mais, e virem que os lojistas estão fazendo sua parte, higienizando as lojas de 3 a 4 vezes por dia, o movimento vai engrenar", acredita.
Com fluxo médio de 400 mil pessoas por dia antes da pandemia, o Brás voltou ao 'normal' com cerca de 25% desse total no primeiro dia de reabertura. Ou seja, cerca de 100 mil consumidores, segundo Jean Makdissi Jr., conselheiro da Alobrás (Associação dos Lojistas do Brás) e segunda geração à frente da Intima Store.
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"A gente notou um movimento maior mesmo, algumas lojas até colocaram correntes na porta para organizar filas", afirma ele, que estima que, neste primeiro dia, o faturamento médio na região foi de 10% a 20% de um dia normal. Para ele, porém, o atacado deve se recuperar antes do varejo. "As lojas estão desabastecidas", diz.
Na Dejelone, loja de moda casual masculina e feminina do Brás, o proprietário Lauro Pimenta disse que a reabertura foi "simbólica e importante", com saldo de 20% de vendas de um dia normal, considerando o fluxo e a quantidade de pessoas. Mas não dá para se animar muito, disse, pois é um momento de cautela.
"Não é hora de sair contando os louros, mas se readaptar e ser inteligente para que daqui a dez dias a gente não tenha que fechar de novo", afirma ele, que lembra que é importante "não ceder à pressão", e seguir os protocolos de segurança. "Não adianta ninguém forçar a barra para abrir, senão todo mundo vai fechar".
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