Camp Centro forma jovens para o mercado de trabalho
A instituição é mantida pela ACSP, funciona na Distrital Centro, e já encaminhou nove mil jovens para o primeiro emprego
Abiqueila da Silva Neto tem 22 anos. Reside em Itaquera, no extremo da Zona Leste, distante 22 quilômetros do centro de São Paulo.
Filha de pais divorciados, mora com a mãe, uma irmã e um primo. A casa é alugada, a mãe é diarista. Contra todas as expectativas, já está inserida no mercado de trabalho. É Jovem Aprendiz da Elevadores Otis.
Bem articulada, diz que quer ser psicóloga. “Quero desenvolver um trabalho com as pessoas do meu bairro. Pretendo trabalhar em alguma organização social. Vou fazer o que puder para que os jovens da minha região tenham as mesmas oportunidades que eu tive."
Abiqueila faz parte de um grupo de jovens apoiados pelo Camp Centro, entidade de assistência social, de caráter beneficente e de interesse público, fundada em 13 de maio de 1992.
A instituição presta serviços e desenvolve ações sócio assistenciais de forma gratuita, continuada, permanente e planejada, prioritariamente para atender adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade ou risco social e pessoal, com ou sem deficiência, residentes na cidade de São Paulo.
Uma das ações práticas do Camp é promover a aprendizagem e melhoramento profissional dos jovens. "Quando entrei no Camp Centro, não conseguia enxergar o topo da escada. Hoje, sim, enxergo. Tudo ficou mais fácil”, diz Abiqueila.
Desde sua fundação, a entidade já atendeu a mais de nove mil jovens, colaborando para amenizar as vulnerabilidades sociais.
Abiqueila começou a caminhada no Camp Centro pelo curso de convivência. “O curso tem oito encontros. Depois ela foi inserida no Programa Jovem Aprendiz e contratada pela Elevadores Otis”, afirma Amanda Pimenta, coordenadora social do Camp Centro.
Vinícius Lisboa dos Santos Borges também tem 22 anos. Já concluiu a parte teórica do aprendizado do Camp Centro. Ele é um jovem aprendiz da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (Afpesp).
Como Abiqueila, é filho de pais divorciados. Seu salário ajuda no sustento da família. Tem mais três irmãos. Quer se formar em contabilidade.
“Meu objetivo é ter um escritório de contabilidade. E sei que vou conseguir. Com os ensinamentos que recebi aqui, tenho um bom alicerce”, diz ele.
O Camp Centro é uma entidade assistencial mantida pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que edita este Diário do Comércio. Quando foi fundada, há 26 anos, funcionava no subsolo da sede da ACSP, na Rua Boa Vista, no centro histórico de São Paulo. Hoje, está baseada na Distrital Centro da ACSP, na Rua Galvão Bueno, 83, 2º andar, no bairro da Liberdade, e tem Luís Alberto Pereira da Silva como Diretor Superintendente.
O presidente do Camp Centro é o economista José Alarico Rebouças, o vice-presidente é Roberto Mateus Ordine – também vice-presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp); Dirceu Flora Stokler, diretor financeiro e Adolfo Bolívar Savério, secretário.
Seus fundadores foram Ordine, Bruno Leone, José Silva e Marcelo Flora Stokler.
“Trabalhamos em conjunto com a família do aprendiz. A família precisa caminhar junto com o jovem. Em casos em que o jovem não reside com os pais, nós chamamos o responsável legal para conversar”, conta José Alarico.
O Camp Centro coloca à disposição dos jovens aprendizes, psicólogos, assistentes sociais e educadores sociais.
PARCERIAS
Além da sustentação e do amparo financeiro da ACSP, o Camp Centro mantém parceria com 16 empresas, com destaque para Elevadores Otis, Grupo Sompo Holdings (que nasceu da integração das marcas Marítima Seguros e Yasuda Seguros), WS Brasil Serviços, Leoni Equipamentos e a Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo.
Lilian Alves dos Santos é uma das educadoras sociais do Camp Centro. Ela fala com entusiasmo do trabalho que realiza. “Nosso objetivo é trabalhar com as potencialidades dos jovens. Quando eles chegam aqui, falamos para eles o quanto são importantes. Após três meses, são liberados para a experiência nas empresas”, afirma ela.
A formação de jovens aprendizes é regulamentada pela lei número 10.097, de 19 de dezembro 2000. A lei afirma que empresas de médio e grande portes devem contratar jovens com idade entre 14 e 24 anos como aprendizes. O contrato de trabalho pode durar até dois anos e, durante este período, o jovem é capacitado na instituição formadora e na empresa, combinando formação teórica e prática.
INCLUSÃO
Trata-se de uma oportunidade que o jovem tem de inclusão social com o primeiro emprego e de desenvolver competências para o mercado de trabalho. Por outro lado, os empresários têm a oportunidade de contribuir para a formação dos futuros profissionais do país, difundindo os valores e cultura de sua empresa.
O Camp Centro capacita jovens aprendizes para a função de assistente administrativo, o que significa que podem trabalhar nas áreas de recursos humanos, financeira e marketing.
Atualmente, 140 jovens que saíram do Camp Centro estão empregados, com carteira assinada e benefícios como vales refeição, alimentação e transportes.O Camp Centro atende prioritariamente jovens com dificuldades de se inserir no mercado profissional, provenientes de famílias com renda baixa, em situação de vulnerabilidade. Não é feita prova de seleção, apenas uma entrevista socioeconômica, para avaliar a situação financeira do candidato.
A alimentação é fornecida pelo Camp Centro. “Exigimos que o jovem aprendiz esteja frequentando o ensino regular. O Camp Centro não substitui o ensino regulamentar”, diz Leonardo Leal da Costa, gerente da instituição.
Atualmente, a entidade passa por um processo de modernização, ajudada por doações. A Pró-Vida, instituição idealizada e fundada em 1978 pelo médico cirurgião e filósofo Celso Charuri, doou recentemente para a Camp Centro, computadores, projetor de multimídia, eletrodomésticos (refrigerador, micro-ondas e ar condicionado) e móveis (pufes, cadeiras, armários e tatame).
RECONHECIMENTO
Logo na entrada do Camp Centro, um painel de frases escritas por jovens que hoje estão inseridos no mercado de trabalho, dá a exata noção do carinho que nutrem pela instituição.
“Meus primeiros passos para a vida de adulto foram dados no Camp Centro. Agora, estou preparado para seguir em frente”, diz uma das frases estampadas no mural.
FOTOS: Wladimir Miranda/Diário do Comércio e Divulgação
IMAGEM DE ABERTURA: Thinkstock