Cacau Show deve abrir megaloja e Museu do Cacau na região da Cracolândia
Governo de SP anunciou na ACSP que vai ceder imóvel para a empresa como parte do plano de revitalização dos Campos Elíseos. Alê Costa, fundador da chocolateria, premiado como Empreendedor do Ano pela Associação, disse que unidade do Centro pode sair até a Páscoa
A Cacau Show, ecossistema de empresas do ramo chocolateiro e agora também de entretenimento, deve abrir uma megaloja e o Museu do Cacau no bairro dos Campos Elíseos, no Centro da Capital Paulista. O anúncio de cessão de imóvel tombado na região para a empresa foi feito pelo secretário de projetos estratégicos do Governo de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, na sexta-feira, 6/12, no evento comemorativo de 130 anos da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
"Nós vamos acertar tudo para pegar uma das casas lá dos Campos Elíseos, que pertencem ao Governo e são tombadas, para ceder para a Cacau Show fazer uma megaloja e, se possível, um museu da história do Cacau", avisou para Alexandre "Alê" Costa, fundador da Cacau Show, que recebeu o prêmio Antônio Proost Rodovalho de Empreendedor do Ano da ACSP. "Será nossa loja 4.701", empolgou-se o empresário quando informado da iniciativa por Afif.
Surpreso, porém animado com a notícia, Alê disse ao Diário do Comércio que a chegada da Cacau Show para ocupar a região significa "dar acesso de qualidade" a quem está naquela parte do Centro, além de ajudar a requalificar uma área bastante maltratada pela Cracolândia, que fica nas proximidades.
O comunicado do secretário Afif, que representou o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas na solenidade da ACSP, foi feito três dias após o empresário anunciar, em evento no Palácio dos Bandeirantes, que irá investir R$ 2 bilhões em um parque temático em Itu, a 100 km da Capital Paulista, até 2027.
"É uma novidade absoluta, mas vamos levar bons produtos e experiência para as pessoas da região. Recebo como uma missão, e missão dada, na nossa casa, é uma missão que será realmente cumprida, com muito carinho e muita integridade."
Alê, que disse que 2025 será o ano de "concretizar" todos os anúncios que a marca fez em 2024 (compra do Playcenter, o Cacau Park, internacionalização, aumento do número de revendedores diretos e compra da fábrica e do maquinário da Chocolates Pan, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista), sinalizou que a nova empreitada pode ser realizada ainda no primeiro semestre do ano.
"Acabei de saber, claro, mas só depende de como tudo (a cessão) vai andar no Poder Público. Se bobear, a gente prepara tudo para a Páscoa: liberou o ponto, a gente vai fazer", adiantou.
Citando o investimento anunciado pela Cacau Show no parque temático, em que 500 pessoas (governador incluso) colocaram a cartola do "Alê Wonka" para conhecer a nova empreitada da companhia, Afif destacou que, no Brasil, quem investe tem que ter coragem.
"Você arriscou, não falou em insegurança jurídica. Então vamos em frente: que 2025 seja um grande ano, e com muito entusiasmo para cumprir nosso papel de gerar emprego e renda, que é o sentido social da nossa ação", destacou.
O anúncio de Afif para a Cacau Show também tem origem no projeto de revitalização da região dos Campos Elíseos, que inclui a transferência da sede administrativa do Governo, hoje no Morumbi, para a Palácio dos Campos Elíseos. Também prevê a transformação da Praça Princesa Isabel, hoje degradada em vários pontos devido às cenas abertas de uso (áreas onde existem usuários ativos), em esplanada com novos edifícios, que irão centralizar secretarias, fundações e autarquias estaduais.
A ideia é atrair comércio e serviços ao levar 22 mil servidores e 6 mil residências para reocupar e repovoar a região, que abrange o quadrilátero no entorno da Praça das avenidas Duque de Caxias e Rio Branco, com área total de 450 mil m².
HORA DE PÔR EM PRÁTICA
Além de movimentado, o ano de 2024 mostrou a estratégia agressiva da Cacau Show de abrir novas frentes para agradar seus 35 milhões de chocolovers (os fãs da marca). Primeira maior franquia do Brasil pelo segundo ano consecutivo, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), a rede tem hoje 4.700 lojas.
Porém, ao responder à pergunta se a quantidade de lojas físicas já está perto do limite (e de uma possível canibalização), Alê Costa disse que a rede mantém os planos de chegar a 6 mil lojas, pois ainda há um mercado potencial grande para continuar a crescer.
"Faltam ainda 1,3 mil, mas em 2025 nós temos a meta de fazer mais 500. Vão ficar outras 800 lojas para a gente abrir, porém, também há dois movimentos importantes. Um, é transformar as lojas atuais, muitas em contêineres espalhados pelo Brasil, em lojas de 25 m² a 30 m², e estas se transformarem em lojas de 150 m² e 200 m², que são as superstores ou megastores."
A iniciativa tem triplicado o total de clientes por loja, segundo Alê, porque eles não querem mais só entrar, comprar o chocolate e ir embora: querem viver a experiência, sentir o aroma, degustar, falar sobre o produto e passar alguns momentos naquele universo particular de uma loja de chocolate.
"Elas têm toda aquela estética, o cheiro, a iluminação que a gente capricha muito... Então, há bastante lugar para crescer as lojas, seja em número, seja em tamanho da superfície", explicou.
Há também a questão das vendas diretas, que é onde a marca nasceu, conforme lembrou: com 100 mil revendedores em todo o Brasil, o fundador da Cacau Show acredita que é possível passar da casa do milhão nos próximos anos.
"O país tem 5,5 milhões de revendedores que vendem todo tipo de produto através de catálogo. Então a gente imagina que seja possível capturar pelo menos 20% dessas pessoas para vender chocolates também", destacou.
Há cerca de três meses, Alê e a marca exploram essa modalidade de vendas no quadro "Até Onde Você Chega? Cacau Show", no programa Domingo Legal do SBT, onde os revendedores participam de um game, compartilham suas histórias e têm chance de ganhar R$ 1 milhão.
A marca, que investiu fortemente na "febre do pistache", chegando a ter produtos como o panetone com este sabor como o mais vendido e esgotado em 2023, além da produção própria de cacau para driblar a alta dos preços, que encareceu em até 14% o valor dos produtos no mercado, conseguiu segurar seus preços para consumidores de todos os bolsos.
Perguntado sobre a estratégia, Alê Costa disse que isso só foi possível com "muita disciplina e trabalho" de sua equipe de executivos e conselheiros, além de colocar a mão na massa para desenvolver novos produtos e investir em tecnologia para aumentar a eficiência da produção. "Acabamos de trazer da Dinamarca duas máquinas para produzir 30 mil tabletes de La Créme por hora. É usar cada vez mais tecnologia para aumentar o volume e usar ingredientes com qualidade incrível."
A entrada no ramo de hotelaria, que já conta com empreendimentos em Águas de Lindóia e Campos do Jordão, que devem gerar R$ 100 milhões em receitas em 2025, terá o raio de expansão ampliado a princípio no estado de São Paulo. E é a parte "show" do nome da marca que, segundo Alê, está dentro do que a Cacau Show define como "ecossistema de felicidade."
Mesmo fabricando chocolates, mais de 50% são para presentear, e não só para consumo próprio. Quando entendeu isso, Alê disse que se perguntou porque não poderia criar mais iniciativas para promover a felicidade. Daí os investimentos em hotelaria e parques temáticos - como o que deve ficar pronto em 2027 e já começou a obra porque o objetivo é ser o maior do Brasil e da América Latina.
"Nosso propósito é fazer gente feliz através de um chocolate, do chocolate em um hotel, do chocolate em um parque de diversões. É nesse lugar que a gente está: no 'Cacau' do chocolate e no 'Show' de entretenimento", disse, lembrando que o Brasil é o foco da expansão. "Mas parece inevitável que a gente transcenda fronteiras."
Para 2025, Alê Costa reforça que será o ano de concretizar os planos, que já são públicos, como dar andamento aos ativos adquiridos da Chocolates Pan, por exemplo. "Não temos mais nada a fazer em 2025 que não seja abrir 500 lojas da Cacau Show e aumentar o número de pessoas impactadas pelos nossos negócios - principalmente em venda direta, né? Queremos dobrar o total de 100 mil revendedoras, e trabalhar muito para até 2027 construir um parque lindíssimo."
EMPREENDEDOR DO ANO
A história empreendedora de Alexandre Costa até chegar à gigante Cacau Show de hoje é bastante conhecida, mas vale relembrar. Começou há 36 anos, quando ele tinha apenas 17, e inspirado por sua mãe, que vendia chocolates por catálogo, decidiu revender ovos de chocolate no bairro da Casa Verde (Zona Norte da Capital Paulista), onde morava, com seu fusquinha (que terá diversas réplicas tipo "carrinho-que-bate" do seu novo parque temático, que será construído em Itu).
Conseguiu dois mil pedidos e, três dias antes de entregá-los, descobriu que o fornecedor não teria como atender a uma demanda tão grande. Mesmo assim, não desistiu, pegou empréstimo com o tio - equivalente a R$ 500 hoje em dia -, e comprou tudo o que precisava. Pediu ajuda a uma senhora com experiência em confeitaria e, juntos, produziram e entregaram todas as encomendas. Com o que ganhou, Alê pagou sua ajudante, o que devia para o tio e ainda lucrou R$ 500.
Com o dinheiro, produziu mais chocolate e passou a vender em padarias, que pagavam à vista. Todos os dias fazia a mesma coisa: comprava mais barras, produzia mais trufas e distribuía nos estabelecimentos. Assim, Alê foi para a primeira loja física da Cacau Show, em Piracicaba, no Interior paulista, em 2001. No ano seguinte, já tinha aberto 18 lojas.
Hoje, são mais de 4,7 mil unidades. O momento atual todo mundo conhece: das trufas à primeira megastore da Cacau Show, franchising e depois compra do Playcenter, entrada no ramo hoteleiro, licenciamento de personagens e até quadro no SBT para premiar seus mais de 100 mil colaboradores em todo o Brasil que trabalham na modalidade de vendas diretas.
Premiado como Empreendedor do Ano da edição 2024 do prêmio Antônio Proost Rodovalho da ACSP, Alê disse estar orgulhoso, pois a premiação da entidade centenária foi concedida em "uma semana incrível", após comunicar o plano de investimento de R$ 2 bilhões no estado de São Paulo para o próprio governador Tarcísio de Freitas, em um evento para 500 pessoas.
"Mas só estou realizando esse sonho hoje por causa das pessoas. Sozinho eu poderia ter uma, duas lojas lindas, uma pousada de cinco quartos com a minha esposa... Mas para construir o que a gente construiu, são mais de 22 mil pessoas trabalhando com a gente, mais de 100 milhões de consumidores por ano. É um time muito bom. Então, esse prêmio é para reconhecer nossos franqueados, nossos colaboradores, nossos Cacau Lovers. É um momento de absoluta gratidão."
IMAGEM: Cesar Bruneli