Brinquedos de madeira começam a cair no gosto do consumidor

Carol Moreira (na foto) criou o Ateliê Materno, em 2015, ao construir uma minicozinha de madeira para sua filha. Hoje fatura quase R$ 3 milhões vendendo suas criações pela internet

Mariana Missiaggia
09/Out/2023
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Brinquedos de madeira começam a cair no gosto do consumidor

A indústria de brinquedos espera faturar R$ 9 bilhões com vendas de Dia das Crianças, uma alta de 7% em relação ao ano passado, de acordo com a Abrinq. Dentro desse mercado, mas ainda com números modestos, fabricantes artesanais começam a atrair a atenção dos consumidores. 

É o caso das criações de Carol Moreira, do Ateliê Materno, e-commerce de brinquedos de madeira que faturou R$ 2,9 milhões no ano passado. 

Famoso por suas minicozinhas, o negócio surgiu em 2015 de uma demanda pessoal quando a pequena Sofia, filha de Carol, tentava imitar o dia a dia de sua mãe nos afazeres domésticos. Para que a menina pudesse brincar, a empresária criou uma minicozinha de madeira.

Depois de passar um mês trabalhando na concepção do projeto, Carol contratou o serviço de um marceneiro para cortar as peças de madeira. Em casa, ela mesma parafusou, montou e pintou a cozinha com a ajuda da filha.

Ao ver fotos e vídeos, suas amigas passaram a lhe escrever pedindo que fizessem o mesmo por elas. Foi então que Carol percebeu potencial em um mercado diferente e em que poucos atuavam.

Pensando em testar aquela intuição, Carol utilizou as redes sociais, especialmente grupos de Facebook, para divulgar suas cozinhas de madeira. Em menos de uma semana vendeu 22 unidades e a partir dali seu whatsapp não parou mais de receber mensagens.

"Digo que essas 22 famílias foram as investidoras do Ateliê Materno. Recebi 50% do valor na encomenda, pedi 60 dias para produção, comprei os materiais e corri atrás de um marceneiro porque o que conhecia já não queria esse volume", diz.

Minicozinha foi o primeiro item planejado por Carol no Ateliê Materno

 

Para a fabricação dos novos brinquedos, o maior desafio foi encontrar uma sistemática de produção, ou seja, um jeito de produzir em escala, preservando o traço artesanal e a qualidade do produto. 

Outro desafio foi a gestão do tempo, já que Carol estava à frente de todos os setores: atendimento ao cliente, comunicação, logística e contabilidade.

Quando sentiu que estava pegando o jeito, Carol entendeu que era possível produzir cerca de 30 minicozinhas por mês. Mas a demanda cada vez maior ampliava o prazo para a entrega dos brinquedos para 90 dias — e algumas pessoas começaram a desistir da compra.

A essa altura, Carol decidiu buscar uma fábrica capaz de produzir em larga escala para poder se dedicar a parte mais estratégica do negócio. Essa mudança aconteceu em 2017 e, com o aumento da capacidade de produção, houve também uma diversificação das opções.

Além da cozinha, carro-chefe do negócio, foram lançados a oficina de ferramentas, mercadinho, geladeira, berço e carrinho de boneca, mercearia, carrinho de sorvete e por aí vai.

Carol passou a criar também uma linha de acessórios feitos por parceiros, como frutas, panelinhas, cafeteiras e caixinha de ferramentas, todos em madeira.

Para dar conta de todo o processo, a equipe conta com nove pessoas para logística, tecnologia, atendimento ao varejo, atendimento ao atacado, marketing e financeiro. Em 2022, a empresa vendeu 6,5 mil itens e para este ano a previsão de faturamento é de R$ 2,9 milhões.

Hoje, 70% das vendas são focadas no varejo; os outros 30% são no atacado. Um dado que Carol comemora com orgulho, pois entende a importância desses representantes com loja para levarem a marca a novos consumidores, além de apresentarem o produto fisicamente.

Com estigma de ser pedagógico durante muito tempo, e ainda pouco presente nas lojas de varejo tradicional, o brinquedo feito de madeira tem ganhado espaço e chamado a atenção de crianças e familiares. 

Além das próprias lojas que aos poucos passam a oferecer opções mais autorais, buffets, brinquedotecas, escolas, hotéis e construtoras têm apostado em peso nessa tendência.

Carol acredita que, além do design das peças, que conjuga cores e formas leves com a solidez da madeira, o grande diferencial desses produtos é a possibilidade de gerar conexão.

Sylvio Korytowski, sócio da Kick Off Consultores Associados e membro do Conselho Fiscal na ABF (Associação Brasileira de Franchising), concorda e destaca a qualidade, durabilidade, sustentabilidade e o aspecto retrô como pontos-chave de sucesso desse nicho.

Além disso, Sylvio cita que podem ser passados de geração em geração e aproximar as gerações. São educativos, seguros e incentivam diferentes habilidades.

Por outro lado, o consultor aponta que o varejo de brinquedos de madeira enfrenta algumas barreiras em comparação ao mercado tradicional de brinquedos, pois, geralmente, oferece uma gama mais limitada de opções em comparação com o mercado de plástico, que tem uma grande variedade de personagens de filmes e desenhos animados. Porém, são exclusivos, artesanais e atemporais.

"Costumam ser mais caros de produzir do que os de plástico devido à matéria-prima e ao processo de fabricação. Por isso é importante mostrar a percepção de valor dessa categoria".

INTENÇÃO DE CONSUMO

A maioria dos brasileiros deve gastar entre R$ 50 e R$ 350 em compras para o Dia das Crianças, importante data para o varejo que acontece na próxima quinta-feira (12). Essa é a expectativa de 63,1% dos consumidores entrevistados para pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). 

O levantamento da ACSP mostra ainda que 49,2% dos entrevistados têm intenção de comprar na data, enquanto 36,5% responderam que não irão gastar e 14,3% ainda não decidiram.

Os resultados da pesquisa mostram que os itens tradicionais ainda são os mais procurados, como roupas, calçados e acessórios, que representam 30,7% das intenções de compra. As bonecas são o brinquedo em destaque, com 19,6%, seguido pela bola de futebol (14,4%), bicicleta (11,7%) e carrinho (13,0%).

A ACSP detectou também que os consumidores preferem o pagamento à vista para todas as categorias de bens e serviços consideradas na pesquisa. 

Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da ACSP, destaca que “a predominância do pagamento à vista para todas as categorias pode ser explicada pelo elevado custo do crédito em um contexto de excessivo endividamento familiar”.

E-COMMERCE

Cada vez mais enraizadas nos hábitos de consumo do brasileiro, as compras pela internet devem avançar neste ano. Estimativa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), que leva em consideração os 14 dias que antecedem o Dia das Crianças, aponta que o e-commerce deve atingir a marca de R$ 5,95 bilhões em faturamento no período, um crescimento de 8% na comparação com o ano anterior.

A participação do comércio eletrônico na data, segundo Mauricio Salvador, presidente da ABComm, segue crescendo, impulsionada pelas ofertas e pelo aumento do público on-line a cada ano.

Como alerta ao consumidor, no meio digital a variação de preços de brinquedos pode chegar a 200%, segundo pesquisa divulgada na última sexta-feira (06) pelo Procon-SP.

Dentre os brinquedos pesquisados, a maior variação, de 235,82%, foi no preço do jogo “Cai não Cai” da Estrela – enquanto em um site o item foi encontrado por R$ 119,99, em outro estava R$ 35,73, uma diferença de R$ 84,26.


IMAGENS: Ateliê Materno/divulgação

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