ACSP faz uma radiografia da situação do comércio em meio à pandemia
Coordenadores adjuntos, que representam as 15 sedes distritais da ACSP, analisam os prejuízos ao comércio causados pela quarentena e propõem medidas de recuperação para o setor
A pandemia de coronavírus e as consequentes medidas de isolamento social impactaram fortemente o comércio e o segmento de serviços. Na cidade de São Paulo, impedidos de abrir seus estabelecimentos por decretos municipal e estadual, comerciantes e empresários já calculam os prejuízos, ao mesmo tempo em que pedem ao poder público políticas de auxílio ao setor.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) está fazendo sua parte, recebendo sugestões, orientando e cobrando dos governantes um esforço centralizado para gestão da crise.
A entidade também defende a reabertura escalonada do comércio e dos serviços no município, respeitando a não aglomeração de pessoas, as corretas medidas de higienização dos estabelecimentos, entre outras, promovendo o equilíbrio entre a proteção da saúde e da economia.
Por meio de suas 15 sedes distritais espalhadas por todas as regiões da cidade, a ACSP tem a capilaridade suficiente para vivenciar os problemas enfrentados pelo comércio em cada uma dessas localidades, assim como suas demandas e aflições.
A reportagem do Diário do Comércio conversou com os cinco coordenadores adjuntos das sedes distritais, cada um deles responsável por três diferentes unidades. Entre os assuntos, os problemas enfrentados pelo comércio, as localidades e segmentos mais impactados, além de sugestões para o poder público.
TATUAPÉ, PENHA E SÃO MIGUEL
Na zona leste da capital, segundo o coordenador adjunto das Distritais Tatuapé, Penha e São Miguel da ACSP, Eugênio Cantero, um dos segmentos mais atingidos pelo fechamento do comércio é o de vestuário, principalmente nos centros comerciais da Penha e de São Miguel.
“Ao contrário de outras atividades, que contam com serviços de delivery, as lojas de roupas dependem na maioria das vezes da presença física dos clientes. Além disso, nem todas possuem e-commerce, principalmente as de pequeno porte”, afirma Cantero.
Já no Tatuapé, além do comércio, o setor de bares e restaurantes está amargando prejuízos incalculáveis. O bairro, que possui uma vida noturna agitada, conta com três shoppings - Tatuapé, Boulevard Tatuapé e Anália Franco - todos fechados.
De forma geral, o dirigente acredita que o micro empresário possui capital de giro suficiente para aguentar apenas um mês de quarentena. “Entendo as restrições de funcionamento até 7 de abril. Mas a partir desta data, o comércio poderia começar a funcionar de forma escalonada, tomando-se todos os cuidados. Alguns estabelecimentos, inclusive, já começaram a ser saqueados na região”, diz.
SUL, SUDESTE E SUDOESTE
Para Pedro Rodrigues, coordenador adjunto das Distritais Sul, Sudeste e Sudoeste da ACSP, todos os segmentos, sem exceção, estão sendo impactados pelo fechamento do comércio na região.
“Se continuarem as restrições de funcionamento, muitos estabelecimentos irão falir”, afirma. O comércio do centro de Santo Amaro e das avenidas Jabaquara e Domingos de Morais são alguns dos pontos mais críticos.
“A situação está desesperadora. Além disso, com as ruas vazias, a sensação de insegurança é constante”, diz. De acordo com Rodrigues, o comércio e o setor de serviços deveriam, a partir de 7 de abril, começar a abrir de forma gradual e escalonada, sem que houvesse aglomerações ou concentrações de público.
“Em uma loja de roupas, por exemplo, o ideal seria permitir seu funcionamento desde que entrasse uma ou duas pessoas por vez, com as devidas medidas de higienização e controle de acesso”, explica.
Outro ponto defendido pelo dirigente é a adoção, por parte das empresas, de horários escalonados de trabalho, o que evitaria a concentração de pessoas no transporte público.
Quanto às medidas econômicas, Rodrigues apoia um plano de refinanciamento ou postergação de impostos para o comércio. “As pessoas não podem pleitear simultaneamente e isoladamente um milhão de reivindicações. Assim elas não conseguem nada. Juntamente com outras entidades, peço que procurem a ACSP e suas distritais para unificarmos nossos esforços. Assim teremos mais chances de atingirmos nossos objetivos”, afirma.
NORTE, NORDESTE E NOROESTE
O comércio da zona norte de São Paulo sempre foi muito identificado com o bairro de Santana, principalmente a região da rua Voluntários da Pátria e suas adjacências. Com as restrições de funcionamento, os empresários locais já começam a contabilizar os prejuízos e temer pelo futuro dos negócios.
No entanto, como lembra o coordenador adjunto das Distritais Norte, Nordeste e Noroeste da ACSP, Daniel Aguilar, a região concentra outros polos comerciais que estão sendo igualmente prejudicados. Alguns deles estão na Vila Maria, Vila Sabrina, Vila Nova Cachoeirinha, Freguesia do Ó, Pirituba, entre outros bairros.
“Não podemos nos esquecer dos prestadores de serviços, como empresas de eventos, buffets e festas em geral, que tiveram seus trabalhos desmarcados até o meio do ano. Como todo esse pessoal vai sobreviver?”, questiona Aguilar.
O dirigente clama pela volta escalonada da abertura do comércio e serviços, e lembra que a ACSP vem mantendo contato com as autoridades, levando informações, sugestões e ficando à disposição para buscar as melhores alternativas.
CENTRO-SUL, OESTE E PINHEIROS
Na região de Pinheiros e da Vila Madalena, de acordo com o coordenador adjunto das Distritais Centro-Sul, Oeste e Pinheiros da ACSP, Osmar Machado, o setor de bares e restaurantes é um dos mais prejudicados com a quarentena.
Na Lapa, onde há um forte comércio popular de rua, os comerciantes não sabem por quanto tempo mais conseguirão manter suas portas fechadas. Segundo o dirigente, a mesma situação é verificada nas avenidas Jabaquara e Santa Catarina.
“É preciso encontrar um equilíbrio entre o lado da saúde, fundamental, e o aspecto econômico, também importante. Uma abertura gradual do comércio, seguindo regras de distanciamento e higienização, seria a opção mais interessante no momento, além da suspensão do pagamento de impostos enquanto as empresas estiverem fechadas”, afirma Machado.
Para o dirigente, as distritais são e continuarão sendo um importante canal de comunicação da população e dos empresários com as subprefeituras e forças policiais de suas respectivas regiões.
“Com a quarentena e as ruas vazias, um projeto interessante que une entidades e comunidade é o da vizinhança solidária. Estamos à disposição para intermediar programas que beneficiem a sociedade”, ressalta.
CENTRO, IPIRANGA E MOOCA
A região central de São Paulo é tão complexa e diversificada, que, na opinião do coordenador adjunto das Distritais Centro, Ipiranga e Mooca da ACSP, Amir Massis, é impossível elencar os segmentos que estão sendo mais prejudicados com a quarentena.
“Todos estão sendo afetados, desde o micro empresário, o trabalhador informal, os lojistas, as indústrias e os prestadores de serviços em geral”, afirma. Alguns dos exemplos citados pelo dirigente são o Brás e o centro comercial da Liberdade. “O fechamento do comércio está sendo devastador nesses locais”.
Na Mooca, apesar de ainda contar com um parque industrial, Massis acredita que os mais prejudicados estão sendo o comércio de rua, os serviços, além dos bares e restaurantes. “O mesmo vale para o Ipiranga, que também tem um comércio vigoroso e diversas opções gastronômicas”, diz.
O dirigente ressalta que “as distritais estão fazendo um trabalho fantástico de aproximação com os comerciantes da região, orientando-os e levando suas reivindicações às autoridades competentes. Entendemos e apoiamos as recomendações do Ministério da Saúde. No entanto, o comércio deve começar a retomar suas atividades de forma gradual para evitar que a economia seja devastada”, analisa Massis.
CONCLUSÕES
Os vice-presidentes da ACSP e de Desenvolvimento das Sedes Distritais, Douglas Formaglio e Francisco Antonio Parisi, compartilham da opinião de que as autoridades, nesse momento, devem se unir em um esforço centralizado para coordenar a gestão da crise do coronavírus.
“Seria importante que os governantes, nas suas várias esferas, tivessem o mesmo entendimento técnico em relação às políticas de enfrentamento da crise. Isso daria mais segurança para a população e os empresários em geral”, afirma Formaglio.
O dirigente apoia as medidas restritivas como forma de conter o avanço da epidemia, “no entanto, uma volta escalonada do comércio seria importante para a economia não ficar estagnada e para sua retomada ser a mais rápida possível. O pacote econômico anunciado logicamente é importante, mas o que nós queremos, na verdade, é andar com as próprias pernas, trabalhar, produzir e pagar nossos próprios impostos.”
PROGRAMA ATIVAR OS NEGÓCIOS
De acordo com Parisi, as 15 sedes distritais lançarão em breve um projeto denominado “Programa Ativar os Negócios”.
“A iniciativa visa a valorização do comércio de rua, com apelo para que a população prestigie os empreendimentos do seu bairro e próximos de suas residências”, explica.
Para integrar o projeto, além dos dirigentes das distritais, serão convidados as autoridades civis e militares, entidades da sociedade civil, iniciativa privada, igreja e órgãos públicos como as prefeituras regionais, entre outros.
“O objetivo é que todos possam colaborar para reativar os negócios em cada uma das regiões da cidade e manter a sobrevivência das micro e pequenas empresas, que geram muitos postos de trabalho nessas localidades”, conclui Parisi.
DEMANDA DOS EMPRESÁRIOS
Alfredo Cotait, presidente da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e da ACSP enviou cartas ao Ministério da Economia, Governo paulista e prefeitura da capital com demandas necessárias para garantir a sobrevivência dos empresários nesse período de paralisação das atividades.
Ao ministro Paulo Guedes, da Economia, é pedido a postergação do recolhimento dos impostos federais, entre os quais o IR, PIS, COFINS e Contribuição Social, além de dívidas referentes a parcelamentos, pelo prazo de três meses, com carência posterior para o recolhimento dos valores acumulados, com parcelamento de longo prazo.
Ao governador João Doria solicita a necessidade de confirmação do fim das restrições gerais para o dia 7 próximo. Pede ainda a urgente sustação dos pagamentos do ICMS e parcelas de dívidas fiscais por um período de 90 dias, seguido de carência e parcelamento dos valores acumulados.
Ao prefeito Buno Covas é cobrada a suspensão, por 90 dias, dos pagamentos dos tributos municipais, concessões onerosas e dívidas fiscais parceladas, com carência após esse período, e parcelamento dos valores acumulados.
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FOTOS: Arquivo DC e Karina Lignelli