A liderança inspiradora de Chieko Aoki
Aos 75 anos e apontada como uma das maiores empresárias do País, a dama da hotelaria esteve na ACSP para contar como construiu um estilo de hospitalidade pautado no acolhimento
Referência em gestão hoteleira, a empresária Chieko Aoki, fundadora e presidente da Blue Tree Hotels, se inspira no conceito Ikigai – palavra japonesa que significa razão de viver - para dar sentido ao seu jeito de empreender e também se sentir motivada a levantar todos os dias para trabalhar.
Aos 75 anos e conhecida como dama da hotelaria, Chieko faz desse propósito de vida oriental pautado na combinação de diferentes elementos, como paixão, vocação, profissão, missão e habilidades sociais, algo fundamental para vender acolhimento e cuidar de seus hóspedes como ninguém.
Na última quinta-feira (25), a empresária esteve na sede da Associação Comercial de São Paulo, ao lado de Wilson Victorio Rodrigues, diretor-geral da Faculdade do Comércio (FAC), e Maria Victória Saorini, integrante do Fórum de Jovens Empreendedores (FJE), para contar um pouco das lições que aprendeu com a vida e os negócios.
Tendo sob seu comando 21 empreendimentos no Brasil, entre hotéis e um resort, totalizando mais de 4 mil apartamentos em 16 cidades de norte a sul do país, Chieko obteve em 2022 crescimento de 191% em receita com a rede Blue Tree Hotels.
A empresária nasceu no Japão e se mudou para o Brasil aos 6 anos. Formada em direito pela USP, Chieko trabalhou na Europa, Ásia e Estados Unidos, onde também fez cursos de pós-graduação. Hoje diz estar segura de que abriu um novo tempo na hotelaria brasileira.
Mesmo tão gabaritada, diz não ter aprendido em curso nenhum como superar uma de suas maiores dificuldades, a timidez. Foi se expondo no karaokê por mais de sete anos que Chieko venceu essa questão e também encontrou o seu passatempo predileto: cantar Elvis Presley e Frank Sinatra.
Ao falar sobre a importância de uma boa liderança, Chieko fez uma analogia a um ensinamento samurai: seja a agulha certa, com a linha certa, no tecido certo. Explicando que o líder seria a agulha e a equipe a linha, ela exemplificou a grande responsabilidade que os líderes têm em levar seus funcionários para o lugar certo por meio de um propósito bem definido.
"A linha passa pela agulha e uma hora tem que sair deixando um resultado", diz.
A empresária também comentou sobre porquê faz questão de se basear na tradição nipônica nas relações de negócio. Citando a cerimônia do chá, em que, segundo Chieko, o convidado é o mais importante e deve sentir isso, ela traça uma correlação para além do receber pessoas, mas também pensando em conflitos e num jeito de harmonizar as relações.
Dar o melhor de si, ser fiel a entregar o melhor que puder, se adaptar ao convidado, ter visão dos negócios, verificar o mercado, as tendências, deixar as coisas melhores do que quando as encontrou, se antecipar aos problemas e decidir pelo óbvio são algumas das premissas da empresária.
Há algumas décadas, diz Chieko, uma de suas "invenções" se popularizou e faz hoje parecer meio óbvio quase todo restaurante servir a feijoada com os ingredientes separados em cada panela.
Também foi a pioneira em implantar o serviço de café no lobby, com biscoitinhos finos como cortesia, pois percebeu que os hóspedes, logo após o check-out, sentiam vontade de tomar um café - algo que faz parte da cultura do brasileiro - antes de ir embora. Depois vieram as águas aromatizadas e a ideia se espalhou pelo Brasil.
Outro serviço inovador foi o de guest relations, mulheres para acompanhar, especialmente nas refeições, algumas executivas - poucas, na ocasião, que viajavam sozinhas, principalmente estrangeiras que se sentiam isoladas em um ambiente com tantos homens juntos viajando a trabalho. Algo que também acabou sendo copiado por outros hotéis, inclusive internacionais.
Para aqueles hóspedes mais assíduos, o mimo era ainda maior. Chieko mandava sua equipe fotografar (em papel) o quarto, nos mínimos detalhes, deixando-o exatamente como o hóspede queria para que ele se sentisse em casa quando voltasse. E teve mais, como, por exemplo, imprimir o nome dos hóspedes em caixas de fósforos e guardanapos - coisas simples, porém grandiosas, na opinião de Chieko.
"Hoje é tanta tecnologia que o funcionário está mais preocupado em achar o nome do hóspede na tela do computador do que oferecer um sorriso. Antes, sabíamos até a hora em que cada um acordava”, diz.
Muito sintonizada com as tendências internacionais, Chieko Aoki diz se inspirar também em restaurantes e no atendimento de lojas refinadas, assim como na própria hotelaria, onde o foco é único: o cliente.
Para a empresária, é importante que todo trabalho seja feito com um significado, para que seja inesquecível, independentemente se é uma grande empresa ou não, "pois o melhor não vem necessariamente do maior". Essa lição diz ter aprendido em uma viagem ao Vietnã.
Hospedada em um hotel muito simples e pequeno com seu marido, ela quis conhecer como aquele lugar cuidava de seus hóspedes. Foi recebida com flores embaladas em papel de jornal - algo muito simples, mas que lhe pareceu uma forma bonita de agradecer quem ali estava. No mais, se lembra do café da manhã singelo. Apenas uma baguete, manteiga e chá, mas que, segundo Chieko, foi o melhor pão que já comeu em sua vida.
LIDERANÇA FEMININA
Em 2002, Chieko foi incluída na lista da revista de negócios Latin Trade, que selecionou 44 dirigentes de grandes corporações na América Latina. No mesmo ano, o Valor Econômico a incluiu entre os executivos de valor.
Em 2013, foi eleita pela Forbes a segunda mulher de negócios mais poderosa do Brasil, e daí em diante seu nome é sempre presença confirmada nesse tipo de publicação.
Vice-presidente do grupo Mulheres do Brasil, ao lado de nomes como Luiza Helena Trajano, Chieko defende que toda mulher, não importa o cargo que ocupe, tem de gostar do que faz, investir em si mesma e buscar se diferenciar.
Além disso, a executiva defende a importância de políticas públicas e empresariais para reduzir a desigualdade que ainda existe entre os gêneros no País - tanto de oportunidades quanto de salário, em todos os setores e as atividades.
Em mais uma de suas analogias, Chieko compara a liderança feminina a uma meia-calça. Segundo ela, ambas são firmes, seguras, expansivas, sabem se adaptar a diferentes formatos e não machucam. "Para mim, liderança feminina é isso. Agir como uma meia-calça, saber ser útil", diz.
Apesar de viver há muitos anos no Brasil, Chieko diz nunca ter abandonado princípios que traz em seu DNA: o servir com a alma e a obstinação pela qualidade e excelência - algo tão valorizado pelos japoneses.
O interessante, segundo a executiva, é que no Brasil é possível harmonizar essa conduta com a alegria, com a cordialidade e com a criatividade dos brasileiros. Um resultado que tem sido muito bom para o seu negócio. Entretanto, para ela, ainda há muito o que fazer.
Com pulso firme e um toque de classe, Chieko pensa agora em seu legado. Quer revitalizar a rede Blue Tree, dar um upgrade na hotelaria brasileira e reorganizar os parâmetros de inovação deste mercado.
IMAGEM: Cesar Bruneli/ACSP