Dupla jornada é principal desafio da empresária brasileira
A sobrecarga de trabalho supera outras dificuldades, como falta de recursos financeiros, segundo pesquisa realizada pelo CMEC e Sebrae para mapear o perfil das empreendedoras do país
A dupla jornada é o principal desafio da carreira das empresárias brasileiras. Estudo realizado pelo Conselho Nacional da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), em parceria com o Sebrae, revelou que este é um problema vivenciado por 62% delas.
Além dessa dificuldade, a falta de incentivo e apoio financeiro (37,3%), insegurança (35,4%) e desconhecimento das ferramentas de gestão (27,4%) também integram os problemas listados no levantamento “Perfil Nacional da Mulher Empreendedora”.
Segundo o material, as empresárias brasileiras, em geral, não tiveram ensinamentos sobre empreendedorismo na formação acadêmica (63,5%), sendo que 50,5% fizeram cursos especializados antes ou após abrir o negócio. E quando abriram seus negócios, 46,9% não tinham noção das atividades envolvidas.
As empreendedoras entrevistadas são predominantemente brancas, casadas, de 40 a 59 anos, com alta escolarização, possuem filhos, com renda domiciliar superior ao valor médio nacional e quase metade delas é responsável pela maior parte da renda familiar.
Beleza (16,7%), alimentação (16,3%), vestuário (15,2%) e saúde (14,4%) são os principais ramos de atuação dessas mulheres. Sendo que 18,9% das entrevistadas indicaram atuar em mais de um ramo.
Pouco mais de 95% indicaram que o negócio está localizado na mesma cidade de residência, 34,7% dos negócios são MEI, 23,9% são microempresas e 93% possuem até 19 funcionários.
DESAFIOS E FORMALIDADE
Quase metade dessas empreendedoras (49,6%) acredita que algumas dificuldades enfrentadas estão relacionadas ao fato de serem mulheres, sendo que 52,9% já sentiram que até suas famílias não acreditam no seu negócio. Além disso, 53,8% consideram ser mais fácil para homens conseguirem acesso a crédito, empréstimos ou financiamentos.
Sobre as crenças limitantes que as impedem de empreender ou expandir seus negócios, 23,6% indicaram não ter nenhuma crença limitante. Entre aquelas que indicaram alguma crença, surgem afirmações como: falta dinheiro (38,6%), falta tempo (21,4%), já faço muita coisa (17,9%).
Quase 20% das mulheres da pesquisa disseram que seus negócios não são formalizados. Como a maior parte (34,7%) dos negócios é composta por MEI, isso é correlacionado com a frustração quanto ao crescimento do negócio, pois demonstra que as mulheres, como outros empreendedores brasileiros, têm dificuldade na formalização e na transição do porte de sua atividade.
Para Ana Claudia Badra Cotait, presidente do CMEC, os resultados desta pesquisa “materializam a necessidade de ações direcionadas no sentido da formulação e implementação de uma agenda de pesquisa na temática do empreendedorismo feminino para os próximos cinco anos.”
Sobrecarga de atividades, preconceito no processo de empreender, papéis de gênero, barreiras da formalização e crédito são desafios comuns e atuais que precisam ser superados na sociedade, afirma ainda Ana Claudia.
ASSOCIATIVISMO
O associativismo aparece como uma tentativa de suprir lacunas - como a falta de autoconfiança e de incentivo - por meio do reconhecimento de lideranças femininas em seus territórios (70%), bem como o reconhecimento de oportunidades de formação de líderes femininas e da existência de líderes preparados para se destacarem.
Pela pesquisa, elas gostariam de acessar outras redes de apoio e de outras mulheres empreendedoras, com participação principalmente em grupos e associações. A identificação com mulheres próximas e com as mesmas vivências pode criar uma rede de apoio com maior empatia e conectividade.
As participações das mulheres em grupos e associações são majoritariamente como ouvintes em plenárias e elas acessam essas redes por indicação de amigos ou familiares. A avaliação sobre a atuação desses grupos é bastante positiva, incluindo a indicação.
Quanto à busca por informações, as mulheres recorrem principalmente a instituições como Sebrae, instituições do Sistema S (Sesi, Sesc, Senai, Senac etc.) e associações comerciais e empresariais para apoiarem a etapa de gestão de seus negócios.
EMPREENDEDORA PAULISTA
Fazendo um recorte sobre as empresárias do Estado de São Paulo, em que 903 mulheres foram ouvidas, é possível observar um resultado muito próximo ao nacional.
Trata-se de um grupo majoritário de mulheres brancas, com alta escolarização, com renda domiciliar superior ao valor médio nacional e quase metade delas são responsáveis pela maior parte da renda familiar.
Neste cenário, 69,4% dessas mulheres são casadas, 75% possuem filhos, 26,9% são chefes de família e 36% estão em chefia compartilhada. Em relação às tarefas de cuidados com a casa, 84,7% das mulheres da pesquisa indicaram ser as responsáveis - reforçando a sobrecarga de responsabilidades dentro de seus lares.
Neste caso, 20% das mulheres da pesquisa disseram estar na informalidade e a maior parte do modelo de negócio é MEI, com 42,5%.
O levantamento foi desenvolvido por meio do projeto Desenvolve Mulher Empreendedora, que tem como objetivo fomentar o empreendedorismo feminino via Associações Comerciais de todo o país. O CMEC faz parte da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB).
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