A febre que mata
A história republicana registra que outras epidemias no passado castigaram também outros presidentes, levando à morte um deles, em 1918, o paulista Rodrigues Alves.
A epidemia de microcefalia que já castigou mais de 1 mil e 200 crianças recém-nascidas em vários estados, principalmente na região do Nordeste, ajuda a tirar o sono da presidente Dilma Rousseff, que já vive o inferno astral do pedido de impeachment que começa a tramitar na Câmara dos Deputados e pode desovar no Senado.
A história republicana registra que outras epidemias no passado castigaram também outros presidentes, levando à morte um deles, em 1918, o paulista Rodrigues Alves.
A preocupação de Dilma aumentou depois que os meios científicos, inclusive dos Estados Unidos, confirmaram que a microcefalia que começou em Pernambuco e se irradiou por outros Estados nordestinos, até atravessar a fronteira e atacar outras regiões do País, é transmitida também pelo mosquito da dengue, o Aedes Aegypti.
A primeira grande epidemia de que se tem notícia, após a proclamação da República, foi registrada em 1902, assim que Rodrigues Alves tomou posse na presidência da República.
Foi a epidemia de varíola que serviu de agente fomentador de grande crise no governo, depois que o presidente tomou a drástica decisão de baixar um decreto obrigando a toda a população a se vacinar.
A exigência imposta pelo presidente serviu de estopim para que a oposição reagisse de forma barulhenta, a ponto de colocar em jogo o mandato de Rodrigues Alves. A oposição achava que ninguém era obrigado a se vacinar, a não se por livre e expontânea vontade.
Quis o destino, no entanto, que Rodrigues Alves fosse perseguido e condenado por outra epidemia, a da febre espanhola, em 1918.
Essa epidemia foi mais cruel para ele do que a de 1902, porque Rodriges Alves foi atingido pela febre sendo impedido de assumir a presidência da República pela segunda vez, vindo a falecer antes da posse.
Ele se safou da epidemia de varíola no exercício do primeiro mandarto mas não escapou da segunda, assim que foi eleito para um novo mandato. Com sua morte, assumiu a presidência para um mandato-tampão de 1 ano o vice, Delfim Moreira.
A outra epidemia que a história registra ocorreu mais recente, em 1972, em plena ditadura militar: foi a de meningite, que acabou ofuscando o brilho das comemorações dos 150 anos da Independência do País, uma vez que, por determinação do governo militar, os Estados deveriam evitar aglomerações de pessoas em quaisquer eventos.
Apesar de toda a cautela do governo, o Brasil virou notícia no exterior graças ao grande número de pessoas atingidas pela doença, resultando em uma grande quantidade de óbitos.
Até as comemorações do sesquicentenário, marcadas para o Museu do Ipiranga, em São Paulo, foram prejudicadas pelo receio que o governador Laudo Natel tinha devido às informações de que as aglomerações de pessoas favoreciam a proliferação da doença.
Como o País vivia em regime de exceção, o governo militar temia que a epidemia de meningite servisse de instrumento para alavancar as campanhas eleitorais de candidatos da oposição, que se concentravam no MDB.
Coincidentemente, foi a época em que oposicionistas elegeram uma enxurrada de candidatos contra o poderoso partido oficial, a Arena, fase em que brotou, por exemplo, o fenômeno Orestes Quércia, o mais votado para o Senado em todo o País.
Foi a partir de sua eleição para o Senado da República -depois de ter sido prefeito de Campinas e deputado estadual- que Quércia se fixou como um dos principais líderes políticos no Estado, chegando algum tempo depois a se eleger governador de São Paulo, vencendo uma eleição difícil porque enfrentava Paulo Maluf, Antonio Ermírio de Moraes e Eduardo Suplicy.
Depois da epidemia de meningite nos anos 70, a preocupação do País passou a ser com a proliferação da dengue, apesar de intensas campanhas patrocinadas pelos governos federal, estaduais e municipais, procurando convencer a população a evitar criadouros de mosquitos Aedes Aegypti, que é a principal causa da micracefalia, uma doença que atinge os bebês em muitos Estados da federação.