Vendas do varejo devem terminar o ano com queda de 5,2%
Essa é a expectativa dos economistas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que revisaram a projeção feita nos primeiros meses da pandemia, de recuo de 8%
De abril em diante, como reflexo das medidas restritivas e os indicadores negativos de renda e emprego, a projeção para as vendas no varejo em 2020 apontava para uma queda bastante pronunciada, de 8%.
O indicador, medido pelos economistas do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), já prometia se aproximar dos patamares da crise de 2015-2016.
Mas, com a flexibilização ganhando maior fôlego a partir de junho, a retomada do crédito e a recuperação da confiança tanto do consumidor quando do empresário - principalmente em relação às expectativas futuras -, os economistas revisaram o índice para menor, apontando agora uma queda de 5,2%.
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Apresentados durante a reunião mensal on-line do Comitê de Avaliação de Conjuntura da ACSP, realizada nesta quinta-feira (31/07), o número representa uma queda importante, segundo um economista presente.
"Porém, não deve chegar ao 'vale da crise' de cinco anos atrás, apesar do cenário repleto de incertezas internas e externas, como a chance de uma segunda onda da pandemia ou um novo lockdown", disse. Historicamente os participantes desta reunião da ACSP pedem para que seus nomes não sejam divulgados.
Essa projeção 'menos catastrófica', de acordo com o economista, também segue o mesmo caminho da projeção de queda menor do PIB, que era de quase 10%, mas caiu para 5,6%.
"A expectativa geral em relação à recessão agora é menos negativa do que se esperava a princípio. Mas a sinalização mais importante é que essa recuperação da confiança é mais baseada na expectativa otimista em relação ao futuro do que na situação atual", completou.
VOLTA À NORMALIDADE?
Um dos segmentos que ajudou a diminuir a queda do varejo e devem encerrar o ano representando 10% do total do setor é o e-commerce, puxado pela quarentena e a necessidade de comprar à distância.
Além de acelerar a digitalização nas empresas que ainda não tinham investido nesse canal de vendas, outro destaque nesse cenário econômico foi a alta do número de sellers, ou seja, de vendedores de marketplace.
Só no Mercado Livre, mais de 70 mil vendedores foram agregados à plataforma depois da pandemia, que já contava com 300 mil, lembrou outro economista. Um recorte isolado que sinaliza como será o resultado para o ano, de acordo com um especialista em comércio eletrônico presente à reunião.
Ele citou dados da consultoria Ebit/Nielsen, que mostram que, de janeiro a abril deste ano, o e-commerce faturou R$ 25 bilhões - "um número bom" em relação a igual período de 2019 e próximo aos 50%, disse. Já o 1º semestre cresceu 47% comparado ao ano passado, com alta de 40% nos pedidos e 7% no tíquete médio.
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Se 2019 fechou com aproximadamente 70 milhões consumidores virtuais ativos, 2020 deve encerrar com um total entre 90 e 100 milhões que passaram a comprar ou aumentaram a frequência de compra pela internet.
"O consumidor passou a procurar de forma intensiva alimentos, bebidas, higiene pessoal, bens de consumo e duráveis...", afirma. "Esse é um efeito bastante prático da integração dos canais, que faz com que o consumidor tire vantagem e tenha conveniência nesse processo", afirmou.
O especialista citou outra pesquisa, feita pela Opinion Box em parceria com a SocialMiner, que mostra que 64% dos consumidores pretendem continuar comprando on-line mesmo no pós-pandemia.
A projeção é que o e-commerce encerre o ano com crescimento entre 30% e 35%, e faturamento em torno de R$ 115 bilhões, ante alta de 6,5%, em média, dos anos anteriores. "Mas à medida que o consumidor volta às ruas para comprar, o comércio eletrônico voltará à normalidade", sinalizou.
SEGUNDA ONDA DE FECHAMENTO
Outros segmentos do varejo apresentaram comportamentos distintos. Um dos ramos que mais sentiu o baque da crise foi o de vestuário, com queda em torno de 55% a 60% (dados da Abit/Sinditêxtil), de acordo com um especialista no setor que participou da reunião de Avaliação de Conjuntura da ACSP.
Considerando que as grandes redes do varejo estão com queda em torno de 25% a 30% nas vendas, nos pequenos lojistas a queda supera 80%. Com o isolamento, e considerando que as pessoas não precisavam sair de casa para comprar, as vendas mantiveram o nível muito baixo.
"O que surpreende é o comércio informal trabalhando a todo vapor em ruas como o as do Brás, mas isso não entra nas estatísticas", afirmou o especialista.
Ele lembrou que a nova projeção de queda de menos de 6% no varejo deve ser puxada por alimentação, e também pela construção civil. Este setor, aliás, foi beneficiado pelas pequenas reformas feitas por consumidores isolados - um 'consumo de formiguinha' bem aproveitado pelos pequenos lojistas do setor.
"É um movimento muito bom, e que dá equilíbrio ao resultado final do varejo", avaliou.
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Por outro lado, o segmento de shoppings aponta para um caminho incerto: segundo o especialista, ao contrário do início da quarentena, os empreendedores passaram a endurecer as negociações com lojistas.
O pequeno varejista ainda sofria com os reflexos da crise de 2014, disse. "Agora, com esse retorno lento da pandemia, poucos vão salvar seus negócios: dependendo do segmento, alguns vão aguentar 60, 90 dias. Mas outros nem vão conseguir."
O especialista alertou que, se os empreendedores continuarem segurando as negociações, em breve haverá uma segunda onda de fechamento de pequenos lojistas de shoppings. Talvez maior ainda que a primeira: com a reabertura, muitos esperavam recuperar as vendas, mas não estão reagindo.
"Se não houver ajuda do governo, ou melhora na concessão daqueles empréstimos que nunca chegam na ponta, esses vão sucumbir", afirma. "A expectativa agora é pela ampliação do horário de funcionamento - o que deve favorecer mais as lojas de rua, que vendem até com 'meia' porta, do que as de shoppings", finaliza.
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