Um marketplace para unir confecções e lojistas
Fundada há poucos meses, a plataforma Giro no Brás quer reunir mais de 300 lojistas e faturar R$ 50 milhões em 2018
Em 1978, quando a Fact Jeans, confecção que produz e vende peças feitas de jeans, se instalou no Brás, bairro na região central de São Paulo, a internet dava seus primeiros passos. A tecnologia ainda era restrita aos acadêmicos e militares norte-americanos.
Nos últimos 40 anos, algumas coisas mudaram: as duas marcas da empresa Fact, dedicadas ao público feminino, e a Breech, voltada para o masculino, se unirão. O mercado Plus Size se transformou em um dos focos principais focos do negócio.
Do lado de fora da Fact, a revolução digital mudou a forma como as pessoas se comunicam, trabalham e compram. E, agora, pode mudar a maneira como comerciantes do Brás vendem seus produtos.
GIRO NO BRÁS
Nos últimos meses, começou a funcionar o Giro no Brás: um marketplace para lojistas e fabricantes do bairro. A plataforma foi idealizada por Maria Cristina Prado, que conhece muito bem a região.
A empresária começou sua carreira ao lado do avô na antiga Casa Ibéria, e construiu o Shopping Oriente 500.
Ela tem como sócios Roberto Marques, criador da TeleSena do Silvio Santos e da revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios (atualmente editada pela Globo) e Viviane Marrese, que atuou em grandes grupos de varejo, como Walmart e Zara.
O site almeja atingir tanto o consumidor final quanto os pequenos varejistas de todo o Brasil que viajam até o Brás para abastecer suas lojas.
“Percebemos que estavam ocorrendo muitas mudanças no mercado. O atacado está se digitalizando e era preciso acompanhar essa tendência”, afirma Viviane.
Para atender principalmente aos consumidores de atacado, a Giro no Brás também oferece um sistema de gestão que ajuda a conciliar os estoques das lojas físicas e virtuais.
Por enquanto, a plataforma conta com 32 lojistas, entre eles a Fact Jeans. Entre 2014 e 2016, a marca participou de um shopping virtual, mas decidiu sair por causa dos custos de manutenção, comissões de vendas e o retorno de vendas abaixo do esperado. Desde então, a empresa estudava uma nova forma de entrar no mercado virtual.
“A parceria com o Giro no Brás é diferente da experiência que tivemos anteriormente, pois eles conhecem a cultura do bairro, sabem como os comerciantes pensam e também conhecem os consumidores”, afirma Claudio Teruya, responsável pela área de marketing, mídias digitais e e-commerce da Fact Jeans.
Para participar do marketplace, os lojistas são submetidos a um processo de aprovação. Devido às constantes denúncias de confecções que utilizam mão de obra de região, a equipe do Giro no Brás visita os estabelecimentos para avaliar se a produção é feita de forma de regular.
Depois de passar por esse crivo, os lojistas podem cadastrar os produtos na plataforma.
Até o final de 2018, o Giro no Brás quer reunir mais 300 lojistas e faturar R$ 50 milhões.
O potencial de crescimento é grande. De acordo com dados da Federação dos Varejistas e Atacadistas do Brás (Fevabras), o bairro é formado por 55 ruas comerciais, 15 mil lojas e pontos comerciais formalizados. Por dia circulam pela região 400 mil pessoas e 500 ônibus fretados.
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ADESÃO
A Intima Store é uma das veteranas no Brás. A loja, fundada em 1966, foi uma das pioneiras da região a vender por meio de uma loja eletrônica.
Primeiro começou com um catálogo online que ajudava os lojistas a escolherem os produtos e fazerem o pedido a distancia, depois o site foi configurado como um e-commerce em 2006.
Além de um site próprio e de fazer parte do Giro no Brás, a empresa também vende seus produtos em grandes marketplaces, como Mercado Livre, Americanas e Extra.
Jean Makdissi, presidente da Intima Store e conselheiro da Associação de Lojistas de Brás (Alobrás), afirma que essas plataformas conseguem alcançar um público maior do que os e-commerces das próprias marcas.
De acordo com Viviane Marrese, além do benefício citado, o marketplace do Brás também ajudará a prevenir fraudes.
“É muito comum as sacoleiras do interior e de outros estados fazerem pedidos pelos WhatsApp”, afirma. “Muitas reclamam que os produtos não chegam. Do outro lado, diversos lojistas relatam que não recebem os pagamentos”. A plataforma irá mediar essas transações de forma segura para os dois lados.
Os lojistas não pagam uma taxa fixa para fazer parte marketplace, mas o site cobra uma porcentagem em cima de cada compra realizada. Viviane não revela a taxa, mas garante que é menor que os grandes marketplaces.
Makdissi acredita que a iniciativa do Giro no Brás ajudará a potencializar a exposição das lojas da região. “A principal dificuldade, no entanto, será conseguir um número alto de adesão dos lojistas”, afirma. “Estimo que apenas 20% dos comerciantes da região estão prontos para ter uma operação online.”
FOTO: Valéria Gonçalvez/Estadão Conteúdo