Trump diz que vai apoiar inclusão do Brasil na OCDE
Mas para isso, país deverá deixar a lista de tratamento especial e diferenciado da OMC. Países também concordaram em reduzir barreiras comerciais e de investimentos, segundo a Casa Branca
Em encontro na Casa Branca com o presidente Jair Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira (19/03), que apoia os esforços do Brasil para integrar a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Também afirmou que as negociações entre os dois países devem avançar nas áreas de segurança militar e do comércio.
“Estamos trabalhando com várias questões militares e questões dos vistos para funcionar melhor, o Brasil produz ótimos produtos e nós também", disse. "Acredito que o comércio vai aumentar substancialmente entre os dois países”, acredita Trump, presenteado por Bolsonaro com uma camisa da seleção brasileira de futebol.
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O pleito à OCDE é visto pelo Brasil como um selo de confiança internacional, e tem sido defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Questionado sobre facilitação de vistos a brasileiros, Trump afirmou que essa possibilidade é cogitada, mas rapidamente mudou de assunto para criticar o nível de comércio entre os dois países.
"Pensando muitas coisas em diferentes opções, também estamos pensando facilitar os vistos, mas o comércio que temos com o Brasil não é tão bom como deveria ser. Temos que trabalhar para que seja o melhor possível", disse o americano.
Representante Comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer pediu que o Brasil deixe a lista de países de tratamento especial e diferenciado da Organização Mundial do Comércio (OMC), como China e Índia, em troca do apoio norte-americano à entrada na OCDE, segundo o ministro Paulo Guedes.
"Eu fiz o meu pedido: quero entrar na primeira divisão. Ele falou: então me ajuda a limpar a segunda divisão."
Após o encontro, a Casa Branca divulgou um comunicado conjunto sobre a visita. No texto, o Executivo americano afirma que os dois países concordaram em reduzir barreiras comerciais e de investimentos.
Entre elas, estão a importação de 750 mil toneladas de trigo americano a uma tarifa zero de impostos e o estabelecimento de bases científicas para a importação de carne suína produzida nos EUA.
Os americanos, por sua vez, concordaram em marcar uma visita técnica para avaliar as condições sanitárias da carne bovina brasileira para exportação. Foi anunciada também a criação de um fundo de US$ 100 milhões para investimento na Amazônia.
INDÚSTRIA APLAUDE
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou como decisivo o apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a entrada do Brasil na organização.
"A indústria entende que o ingresso na organização vai acelerar o processo de reformas estruturais e aperfeiçoar a qualidade regulatória do País, condições necessárias para melhorar o ambiente de negócios e promover o crescimento econômico", diz a CNI, em nota.
Constanza Negri, gerente de política comercial da CNI, avalia que o Brasil avançou muito na convergência de políticas para participar da OCDE.
"É o país não-membro com a maior adesão aos instrumentos da organização - já aderiu a cerca de 30% dos instrumentos que envolvem, por exemplo, comércio, tributação e governança. Além disso, o governo brasileiro está comprometido com as reformas da Previdência e reconhece a importância da reforma tributária", avalia.
A entidade lembra que o Brasil pediu para fazer parte da OCDE em maio de 2017. Se o pedido for aceito, o país terá de assumir compromissos com impactos significativos na economia e na indústria, acredita a confederação.
Entre os benefícios, a CNI estaca a melhoria do ambiente regulatório, a modernização institucional, o aprimoramento da governança e a convergência às melhores práticas internacionais.
"Os desafios são grandes, mas o acesso à OCDE é uma oportunidade para a modernização institucional do Brasil e para a concretização das reformas estruturais há muito tempo defendidas pela indústria", afirma a gerente.
LIVRE COMÉRCIO ENTRE BRASIL E MÉXICO
O governo brasileiro anunciou também nesta terça-feira (19/03), que entrou em vigor livre comércio para automóveis leves entre Brasil e México. O comércio bilateral automotivo passa a ocorrer livremente, sem a cobrança de tarifas ou limitação quantitativa.
A medida está prevista no Acordo de Complementação Econômica, que regula o comércio automotivo e a integração produtiva entre os dois países desde 2002. O fim do regime de cotas para veículos leves estava previsto desde 2015.
A partir desta terça, também deixa de vigorar a lista de exceções, que previa regras de origem específicas para autopeças. Em paralelo ao fim do regime de cotas, o acordo prevê ainda novo conteúdo regional para o comércio de automóveis e autopeças entre os dois países.
Em nota conjunta dos ministérios da Economia e das Relações Exteriores, o governo brasileiro avalia que o retorno ao livre comércio automotivo entre Brasil e México é passo importante para aprofundar o relacionamento comercial entre as duas maiores economias da América Latina.
A partir de 2020, está previsto o livre comércio também para veículos pesados (caminhões e ônibus) e suas autopeças, e as negociações bilaterais para esse fim ganharão reforço nos próximos meses.
A nota informa que, adicionalmente, o governo brasileiro tem grande interesse em ampliar o livre comércio com o México para outros setores, tanto industriais quanto agrícolas, com a inclusão de matérias sanitárias e fitossanitárias, facilitação de comércio e barreiras técnicas ao comércio, conforme compromisso assumido anteriormente nas negociações de acordo de Complementação Econômica.
O governo brasileiro diz que pretende retomar as negociações para um acordo mais abrangente de livre comércio com o México, paralisadas desde 2017.
FOTO: Isac Nóbrega/PR *Atualizada às 18h30