Triplica o número de jovens que desistiram de buscar emprego
No fim de 2018, mais de 1,76 milhão de jovens estavam desalentados, segundo o IBGE
Os números, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-Contínua), do IBGE, e compilados pela consultoria LCA, apontam que o desalento atingia 600 mil pessoas nessa faixa etária até setembro de 2015. A partir daí, quando a recessão já tinha se agravado e minado os empregos, os jovens desalentados subiram para a casa do milhão.
Para o economista Cosmo Donato, da LCA, o aumento expressivo do desalento entre os brasileiros mais jovens é um sinal preocupante, porque o trabalhador que está entrando no mercado seria um dos últimos a desistir de procurar emprego, se a economia estivesse em uma situação melhor.
Ele lembra que as condições para os mais jovens no mercado acaba sendo mais difícil. Se no ano passado, a desocupação para todos os trabalhadores ficou em 11,6%, a dos jovens era de 27,2%, mesmo resultado de 2017.
"O que aconteceu é que a crise fragilizou ainda mais esse grupo. A crise atingiu chefes de família, corroeu a renda das famílias e jogou para o mercado diversas pessoas que antes poderiam se dar ao luxo de só estudar", diz Donato. Pela falta de experiência, eles acabam formando a faixa em que o desemprego mais vai demorar a cair.
O desalentado gostaria de trabalhar, mas acha que não vai conseguir um emprego por diversos motivos: pela idade, pela baixa experiência, pela impressão de que o mercado de trabalho ainda está muito ruim.
"E tem a questão do custo de procurar emprego. O jovem tem de gastar com transporte, estar disponível para bater perna e fazer entrevistas. É uma atividade que demanda tempo e dinheiro e , se ele não acredita que vai encontrar, acaba nem procurando", lembra Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Além do impacto no desalento, a renda dos trabalhadores com até 24 anos caiu quase 8% nos últimos quatro anos - uma perda maior do que a das demais faixas, já considera a inflação, pelo Índice de Preços ao Consumidor - Amplo (IPCA). Em 2014, antes da recessão e quando a taxa de desemprego para os jovens era quase a metade do nível atual, esses trabalhadores ganhavam, em média, R$ 110 a mais do que hoje.
Com a crise, os trabalhadores mais experientes se viram obrigados a buscar vagas com remuneração que antes era paga para os iniciantes. Para os mais jovens, quando a oportunidade aparecia, o salário era ainda menor do que antes, diz Duque.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) ajudam a entender a situação difícil de quem busca o primeiro emprego. Eles apontam que houve uma queda de 41% no número de vagas formais abertas para quem nunca tinha trabalhado antes.
Duque lembra que os jovens que tentam entrar no mercado de trabalho desde 2015 terão mais dificuldade de se equiparar a quem começou a trabalhar em períodos de economia aquecida.