Sino do Pátio do Colégio quer chegar a Oslo, na Noruega
Idealizador do Marco da Paz, Luigi foi inscrito para concorrer ao Nobel 2015 por seu trabalho em semear a cultura da paz

A paz mundial pode parecer algo impossível aos olhos de muita gente. Mas para quem sobreviveu a uma guerra, esse desejo é mais que um sonho e pode se tornar um lema de vida.
Idealizador do Marco da Paz, o italiano Gaetano Brancati Luigi, assessor especial da presidência da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), lembra vividamente o anúncio do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, aos oitos anos de idade.
“Os sinos ecoaram, todos saíram de suas casas e gritavam repetidas vezes paz, paz e paz”, diz.
Nascido em Orsomarso, Província de Cosenza, na Itália, em 1937, Luigi cresceu em meio a um cenário de fome, medo e insegurança causados pela Segunda Guerra, que abrangeu a primeira metade da década de 1940.
O italiano deixou sua terra natal aos 12 anos de idade e se mudou com seu pai, mãe, dois irmãos e uma irmã para a Argentina, em busca de uma vida melhor.
Alguns anos mais tarde, em 1970, Luigi se radicou no Brasil para administrar a metalúrgica da família, e se tornou membro da ACSP. Com o Pátio do Colégio, no Centro de São Paulo, em seu caminho todos os dias, Luigi sentia falta de ouvir as badaladas do sino da igreja – um som que se tornou marcante em sua vida com o fim da guerra.
“Era inconcebível não ouvir o sino bater. Mas indignado mesmo fiquei ao saber que o sino havia sido roubado havia muitos anos”, diz. “Prometi ao padre José Fernandes, na época, que conseguiria um novo.”
O italiano, então, procurou a Fundição de Sinos Crespi, que em parceria com a ACSP devolveu o instrumento a igreja. A ocasião foi a responsável pela criação do Marco da Paz – um monumento em formato de arco que sustenta um sino e uma pomba.. “A imagem se concretizou na minha memória, e no mesmo momento fiz os primeiros rabiscos do que seria a minha mensagem de paz pelo mundo”, diz.
Em 2000, o Pátio do Colégio recebia o primeiro Marco da Paz, que hoje já somam um total de 20 espalhados por todo o mundo, em cidades como Natal, no Rio Grande do Norte, Mendoza, na Argentina, Fátima, em Portugal, Orsomarso, na Itália e Xiaolin, na China. Nos próximos dias, as cidades de Pehuajó, na Argentina e Pirajuí, no interior de São Paulo também receberão o símbolo criado por Luigi.
“O inferno vivido durante a guerra é uma lembrança muito viva. A cada dia que passava crescia mais a necessidade em criar um símbolo que pudesse lembrar aos homens a cultura de manter a paz no mundo”, diz.
Tamanha jornada o levou a uma indicação inesperada - o Prêmio Nobel da Paz de 2015. Teoricamente, Luigi pode ser o primeiro brasileiro a receber o prêmio. A iniciativa partiu de Heliodoro Pereira de Sá, conselheiro da Distrital Norte da ACSP, que o inscreveu no início deste ano.
A inscrição para concorrer ao Nobel é bastante criteriosa e exige um verdadeiro dossiê sobre a história de cada candidato. De acordo com as normas estabelecidas, a nomeação de si mesmo não é permitida. A nomeação só é válida quando feita pelas seguintes pessoas: membros do governo ou do Tribunal Internacional de Justiça; reitores de universidades; ganhadores do Nobel; integrantes do conselho de instituições premiadas e membros ativos do comitê norueguês do Nobel.
Responsável pela seleção dos candidatos, o comitê nobel norueguês é formado por cinco membros designados pelo Parlamento norueguês. O Prêmio Nobel da Paz é entregue em Oslo, na Noruega.
Em setembro do ano anterior ao prêmio, já é possível dar início as inscrições que terminam em fevereiro. Até o final de maio, o comitê avalia a trajetória dos candidatos e divulga uma nova lista que reduz a cinco nomes o número já restrito de candidatos.
Durante quatro meses, o comitê avalia as candidaturas e, em outubro, a escolha é definida por maioria de votos. A cerimônia de entrega do Nobel acontece em 10 de dezembro. É entregue de uma medalha, um diploma e um documento confirmando o valor do prêmio.
No caso de Luigi, foram redigidos documentos específicos sobre os monumentos Marco da Paz, sobre a Associação Comercial de São Paulo e até sobre o Brasil.
Toda a documentação foi referendada e deliberada por Dircêo Torrecillas Ramos, livre-docente da USP (Universidade de São Paulo) e membro da Academia Paulista de Letras Jurídicas.
“O que recolho de carinho com o Marco da Paz é impagável. Essa indicação já é uma vitória”, diz Luigi.
O Prêmio Nobel é dado às pessoas que fizeram pesquisas importantes, inventaram técnicas pioneiras ou deram contribuições destacadas à sociedade. A indicação de Luigi ao prêmio Nobel é avaliada desde 2008.
Este ano, o comitê Nobel norueguês escolherá alguém dentre 276 candidatos (49 organizações e 227 pessoas). O número é o segundo maior já registrado. O recorde de inscrições foi registrado em 2014 – 278 candidatos.
Edward Snowden, ex-técnico da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, e o papa Francisco também estão entre os indicados ao prêmio de 2015.
Inauguração do Marco da Paz em Assis, na Itália

Inauguração do Marco da Paz em Xiaolin, na China

Inauguração do Marco da Paz em Mendoza, na Argentina

Marco da Paz, na Lapa, na zona oeste de São Paulo

Marco da Paz, no Centro de São Paulo

Marco da paz, em Aparecida, no interior de São Paulo

Marco da Paz, na zona leste, em São Paulo

Marco da Paz, no Parque da Juventude, na Zona Norte de São Paulo
