Sem funcionários, mercado do futuro chega a São Paulo

Inspirada na Amazon Go, loja da Zaitt já está em operação há um ano em Vitória, no Espírito Santo. O acesso pode ser liberado por reconhecimento facial e o pagamento feito pelo celular

Mariana Missiaggia
29/Mar/2019
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Sem funcionários, mercado do futuro chega a São Paulo

O ímpeto inovador que já revolucionou tantos negócios nos últimos anos tenta agora dar um novo arranjo a um modelo de consumo enraizado no varejo brasileiro: a relação entre cliente e atendente.

Seja para tirar uma dúvida, providenciar um produto ou para cobrar uma conta, a figura de um funcionário é mandatória em qualquer estabelecimento comercial. Ou era.

Na sexta-feira (22/3), começou a operar no bairro do Itaim, em São Paulo a Zaitt. Uma loja que funciona 24 horas por dia, sem atendentes, fila, caixas e outros aparatos de um mercado convencional.

Há um ano, o mesmo modelo de ponto de venda já opera em Vitória, no Espírito Santo, e recebe até 2 mil clientes por semana com um tíquete médio de cerca de R$ 30, seguindo os mesmos moldes da Amazon Go, em Seattle.

ÁREA INTERNA DA ZAITT : SEM FUNCIONÁRIOS

COMO FUNCIONA

Câmeras com sensores monitoram cada ação e reconhece quem está no local em tempo real. O esquema todo é muito simples: o consumidor baixa o aplicativo, recebe um código QR – uma espécie de chave de segurança, o escaneia na porta do mercado e tem sua entrada liberada.

Lá dentro, sem nenhuma intervenção humana é só escolher os produtos – bebidas, enlatados e itens de consumo rápido – e fazer a leitura dos códigos de barra de cada um deles com a ajuda do celular. Ao final, o cliente confere a lista, paga e deixa o estabelecimento com suas compras – tudo feito pelo próprio consumidor de forma digital.

Diferentemente do sistema de self checkout, adotado por alguns supermercados, em que a sacola fica sob uma balança que mede e confere o peso dos itens, a Zaitt não possui nenhum sistema de segurança que confirme que o cliente não levou um produto sem registrá-lo.

Um risco previsto pelos empreendedores, que já registraram alguns problemas desse tipo. “Com ou sem funcionários, sabemos que os roubos fazem parte das perdas do varejo”, diz Rodrigo Miranda, um dos quatro sócios da Zaitt.

De acordo com Miranda, cada delito, como arrombamento de portas ou roubo de mercadoria é tratado como uma oportunidade para criar mais soluções para evitá-los.

Medidas simples, como reforçar as portas, surtiram bom efeito. Hoje, numericamente, um mercado comum tem uma taxa de 3% de furtos mensais, enquanto a Zaitt 1,9%, afirma Miranda.

ENTRADA DO CLIENTE PODE SER POR RECONHECIMENTO FACIAL

Outra novidade para a loja de São Paulo é a inclusão de reconhecimento facial do cliente sem a necessidade do uso de celular. Nesse caso, a compra pode ser paga por meio de RFID, sigla em inglês para sistemas de identificação por radiofrequência como o utilizado pela empresa Sem Parar, que aplica o modelo em pedágios e estacionamentos por meio de etiquetas nos veículos. Dessa forma, o cliente consegue entrar e consumir mesmo que estiver sem o aparelho eletrônico. 

TECNOLOGIA E PARCERIA

As prateleiras são conectadas a um software de gestão de estoque para controlar a saída dos produtos e fornecer dados para a reposição adequada – um sensor indica quando algo está com as últimas unidades. E uma equipe repõe semanalmente itens que estejam em falta.

O próximo passo, de acordo com Miranda, será absorver totalmente o conceito de uma smart store. Para tanto, é preciso que o sistema mande o relatório de reposição diretamente a cada fornecedor.

Em São Paulo, esse suporte logístico e de abastecimento ficou a cargo do Carrefour – a única etapa do negócio que requer trabalho humano. São cerca de 900 itens de alimentação, higiene e limpeza, além de uma área destinada a vinhos.

A parceria entre a rede de hipermercados e a Zaitt faz parte dos planos de transformação digital do Carrefour no Brasil. Há poucos meses, a empresa adquiriu a plataforma de conteúdo digital E-Mídia com o objetivo de se aproximar de startups que capazes de aportar novas tecnologias e soluções inovadoras. A ausência de um funcionário, como acontece na Zaitt, por exemplo, significa uma economia de até R$ 10 mil mensais para o negócio.

COMO SURGIU

Com uma pegada totalmente inovadora, a Zaitt não começou sua história assim.

Recém-formados na faculdade de engenharia mecânica, os amigos Tomás Scopel, Rodrigo e Mário Miranda queriam fugir do tradicional e seguir pelo caminho do empreendedorismo.

SCOPEL, MIRANDA, ANTUNES E MARIO MIRANDA FUNDARAM A ZAITT
(DA DIR. PARA A ESQ.)

O primeiro formato da Zaitt surgiu em 2016, em Vitória, como um delivery de bebidas, que entregava tudo em até 40 minutos.

O trio estocava os itens e cuidava da logística de entrega. Com o tempo, o estoque de bebidas se tornou uma loja física, que vendia também outros complementos, como salgadinhos e chocolates. Após algum tempo em operação, Renato Antunes Júnior, integrou o time da empresa.

Sucede que o modelo de negócio ainda não era exatamente o que eles planejavam. Queriam algo inovador, mas seguiram apostando no modelo de delivery e criaram uma nova empresa em 2017: a Shipp.

A proposta da startup era entregar não apenas bebidas, mas ser um “delivery de tudo”, em que lojas, bares e restaurantes cadastravam seus produtos no aplicativo.

Cabia à Shipp captar esses pedidos e acionar um dos seus 1,5 mil entregadores. O negócio funciona até hoje e trabalha com 350 lojas parceiras e cobra uma comissão de em média 20 a 27% sobre o valor de venda dos produtos.
Embora fosse um sucesso, o negócio ainda não soava tão inovador como eles prentendiam.

“Nossa ideia era ter uma loja com a possibilidade de atender o consumidor como ocorre no e-commerce. Foi aí que pensamos em abrir uma loja sem ninguém para operar e sem filas no caixa, e reformulamos a Zaitt”, diz.

FUTURO

Para 2019, a expectativa é entender o público paulista e abrir mais uma loja própria.Os empreendedores não divulgam números sobre investimento e faturamento. 

Atualmente, a companhia conta com 13 colaboradores, divididos em gestão de estoque, encomendas a fornecedores e analistas de sistema.

A estratégia é competir com as bandeiras de vizinhança de varejistas como Carrefour e Pão de Açúcar.

“Queremos testar o modelo em um grande mercado consumidor como São Paulo", afirma Miranda. "Nosso público-alvo é o jovem inserido com tecnologias. A estratégia é atraí-los pela praticidade e conveniência, tabelando os preços com base na concorrência, que são os minimercados de grandes marcas.”

FOTOS: Divulgação

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