Secretário-geral da ONU defende multilateralismo

Posições parecidas com a de Guterres têm sido sustentadas por vários participantes dos debates em Davos, mas o multilateralismo tem sido rejeitado pelo presidente Donald Trump, e por seu seguidor Jair Bolsonaro

Estadão Conteúdo
25/Jan/2019
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Secretário-geral da ONU defende multilateralismo

por Rolf Kuntz

O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, defendeu o multilateralismo como a forma de ação mais eficiente para resolver os desafios globais.

Respostas fragmentadas, as mais comuns, são insuficientes para problemas cada vez mais integrados, afirmou. Problemas econômicos, como tensões comerciais e insegurança financeira, são inter-relacionados, mas normalmente se tenta enfrentá-los com ações isoladas e sem coordenação. 

"Sou um multilateralista", definiu-se Guterres, ao defender níveis de articulação ainda mais amplos que os proporcionados, de forma separada, por entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

O secretário- geral da ONU discursou ontem no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Riscos integrados foram um tema repetido em várias discussões, desde o começo da semana, e têm sido mencionados em cenários prospectivos de 2019. 

Posições parecidas com a de Guterres têm sido sustentadas por vários participantes dos debates em Davos, mas o multilateralismo tem sido rejeitado pelo presidente Donald Trump, por seu seguidor Jair Bolsonaro, chefes de governo da maior potência econômica do mundo e da maior da América Latina.

Líderes nacionalistas e populistas eleitos nos últimos anos em vários países, alguns da Europa, têm exibido tendências semelhantes. 

Incertezas políticas e econômicas têm sido com frequência os fatores vinculantes de problemas econômicos e financeiros. Três dias antes da fala de Guterres, o tema havia sido explorado, numa entrevista coletiva, pela diretora gerente do FMI, Christine Lagarde, e pela nova economista chefe da instituição, Gita Gobinath.

Segundo Gobinath, os efeitos das tensões comerciais sobre os mercados financeiros são hoje mais intensos que no ano passado.

A insegurança quanto às condições do comércio global, derivadas basicamente do conflito entre Estados Unidos e China, têm afetado a confiança de investidores e operadores de bolsas e de outros segmentos financeiros, com reflexos nos preços de vários ativos e nas condições de crédito.

Eventos políticos, como o Brexit e as tensões geopolíticas, também interferem nas expectativas econômicas e na evolução dos negócios, no crescimento econômico e na criação de empregos. 

Ações coordenadas e de grande alcance também são necessárias, segundo o secretário geral da ONU, para corrigir ou atenuar efeitos negativos da globalização, como a desigualdade entre pessoas, países e regiões.

Também são essenciais, acrescentou, para facilitar um acesso generalizado às condições da quarta revolução industrial. A tarefa envolverá também, no interior de cada país, um esforço para recuperação da confiança nas instituições e nos governos como provedores de serviços compatíveis com os impostos pagos pelos cidadãos. 

Governos serão incapazes, insistiu Guterres, de enfrentar sozinhos os grandes problemas. Respostas eficientes só ocorrerão, afirmou, com envolvimento de governos, comunidade empresarial e outros segmentos da sociedade civil e com ampla coordenação internacional.

Este é um requisito difícil num mundo multipolarizado. A Europa era multipolarizada no começo do século passado, lembrou, e no ambiente sem coordenação cresceram as condições geradoras da Primeira Guerra Mundial. 

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