São José dos Campos aumenta dependência do setor aeronáutico
É agora a quarta cidade exportadora do país. A venda de aviões está no topo da lista. Eletrônicos, veículos, e produtos médicos perderam representatividade

Se as altas registradas pelo dólar nos últimos meses, as maiores desde 2005, causam perdas para o mercado financeiro, elas podem apresentar um efeito positivo para quem exporta.
A indústria nacional, especialmente a que não depende de matéria-prima do exterior, se fortalece diante dos produtos importados, que se tornam mais caros.
Na maior cidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos, a 110 quilômetros da capital, os três primeiros meses do ano registraram um aumento de vendas de 23% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Mais de US$ 1 bilhão em produtos.
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Somente em março, o município exportou US$ 466,7 milhões, quase 40% mais do que no mesmo mês do ano passado.
Com este resultado, o município ocupa a quarta posição do ranking das principais cidades exportadoras do país, atrás apenas das capitais São Paulo e Rio de Janeiro e da cidade de Paranaguá (PR).
Apesar de positiva, a notícia traz um alerta para o município. Principal produto de vendas da cidade, as peças aeronáuticas e aviões são os itens que predominam na lista de produtos exportados, tornando São José dos Campos ainda mais dependente do setor, e principalmente da Embraer.
Anteriormente, aparelhos de transmissão de telefonia celular, veículos, autopeças e produtos médicos faziam parte da gama de produtos exportados.
A General Motors, que registra queda nas vendas de veículos desde 2013, anunciou que a partir de maio, as atividades no setor conhecido pela sigla CKD serão encerradas na planta de São José dos Campos. As operações serão transferidas para Mogi das Cruzes, a 50 quilômetros de São Paulo.
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Na unidade do Vale do Paraíba, a montadora produz no setor kits para exportação de veículos e emprega cerca de 150 trabalhadores.
Na opinião de Leandro Silva, professor de ciências econômicas, do Centro Universitário Newton Paiva, a notícia não deveria ser comemorada.
Ele aponta que as fortes altas da moeda americana traz à tona um enorme problema cultural. O brasileiro só se lembra de exportar quando o dólar sobe.
“Assim que a moeda cai, sumimos do mercado externo, e não estabelecemos parcerias. O câmbio de R$ 2,80 já é muito favorável para isso." "O empresário tem que reduzir custos, e se fortalecer para exportar sempre”, diz.
Ou seja, empresas e indústrias brasileiras tratam a exportação como um assunto sazonal, quando deveria ser definitivo.
Outro ponto destacado por Silva, é que o atual governo deu preferência a acordos com países de baixa representatividade comercial, o que desestimulou empresas nacionais a investirem na modalidade.
Além disso, de acordo com Silva, o enfraquecimento das exportações da indústria automobilística de São José dos Campos, com 863 funcionários da GM, Volks e Ford com contratos de trabalho suspensos temporariamente, ainda não pode ser diretamente associado à alta do dólar.
“Nossas montadoras, em geral, têm um problema de infraestrutura, e ainda estão muito aquém do que é produzido lá fora, onde os carros são tecnicamente melhores, e mais baratos.”
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