Saiba por que Aécio afundou o PSDB
O senador mineiro compromete as ambições eleitorais de seu partido, numa queda que combina com os prejuízos que Lula acaba de trazer ao PT. É o fim de um ciclo.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), 58 anos, não foi apenas indiciado por corrupção no STF nesta terça-feira (17/04). Ele também machucou muito seriamente o projeto eleitoral de seu partido para este ano.
Como réu, ele próprio está agora inviabilizado para concorrer a mais um mandato no Senado. Mas os problemas estão nos efeitos secundários da implosão de seu projeto político pessoal.
Ele dificulta a tarefa de Antônio Anastassia, que concorreria em outubro ao governo de Minas Gerais. E, com os tucanos mineiros enfraquecidos, também tira de Geraldo Alckmin um dos principais palanques estaduais para o projeto presidencial do ex-governador de São Paulo.
Nessa bola de neve que desce morro abaixo como se fosse uma bola de excremento, o senador mineiro acabou pisando sobre o tubo de oxigênio que também abastecia o projeto eleitoral tucano em outros Estados.
De certo modo, o PSDB entrou no mesmo círculo vicioso que deverá emagrecer em outubro as bancadas do Partido dos Trabalhadores na Câmara e no Senado. É um cenário trágico em todos os sentidos.
O REI FICOU NU
Nada mais trágico para a biografia do neto do ex-presidente Tancredo Neves, que no início do ano passado projetava reunir os 51 milhões de votos que recebeu em 2014 para disputar mais uma vez o Planalto.
Ele foi abatido nesse voo pela divulgação de sua conversa telefônica em março de 2017, em que pedia R$ 2 milhões para Joesley Batista, do grupo J&S.
Aécio depois argumentou que o dinheiro era para pagar os advogados que cuidam dos processos em que ele é investigado na Lava Jato.
Mas a Polícia Federal filmou a entrega de parte do dinheiro ao primo dele, Frederico Pacheco, que o repassou ao assessor parlamentar Mendherson Souza, que trabalha para o senador mineiro Zezé Perella.
A Primeira Turma do STF julgou por cinco votos a zero que havia no episódio crime de corrupção, mesmo sem um "ato de ofício" que caracterizasse a motivação de Joesley para a entrega do suborno.
Ex-deputado federal, ex-governador de Minas e agora Senador, Aécio Neves da Cunha - seu nome completo - já estava enrolado em oito outros inquéritos, que ainda não haviam evoluído ao patamar de inidiciamento, diante da vagarosa apuração do STF para políticos com foro especial.
Entre esses inquéritos há desvio de verbas em Furnas, a maquiagem de dados do Banco Rural para esconder em 2005 informações de uma CPI, os R$ 5,2 milhões que ele teria recebido da Odebrecht para a construção da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, e outras propinas ou caixa-dois da mesma empreiteira para construção de usinas em Roraima e para a última campanha presidencial.
Com um prontuário tão comprometedor, o ex-candidato presidencial também teve sua reputação abalada por uma decisão do STF que suspendeu no ano passado seu mandato de senador, levando-o a se licenciar da presidência do PSDB, cargo em que procurou se manter, mesmo batendo de frente com a oposição, puramente ética, de outros dirigentes de seu partido.
AS RUÍNAS DA REDEMOCRATIZAÇÃO
Aécio pensou em se manter à tona para superar o momento difícil pelo qual estava passando e se colocar como alternativa de poder, caso Alckmin -se eleito presidente -não administrasse com eficiência o demorado rescaldo da crise herdada de Dilma Rousseff.
Mas o indiciamento no STF cortou definitivamente as asas do neto de Tancredo Neves. E isso num momento historicamente curioso e cheio de lições.
O PSDB não é mais o mesmo. Perdeu o conteúco social-democrata com o qual havia sido fabricado em 1988 por Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e André Franco Montoro. O novo perfil do partido é hoje fornecido pela tecnocracia marqueteira de João Doria.
Restaria, como alternativa, evocar a antiga imagem com o prosseguimento da polarização com o Partido dos Trabalhadores. Mas no campo adversário também ocorreram imensas novidades.
O ex-presidente Lula afundou com a Lava Jato e está submerso debaixo do triplex e do sítio de Atibaia. São dois ingredientes que - e não é um paradoxo - têm hoje um peso político muito parecido com o dos R$ 2 milhões que Aécio pediu a Joesley Batista.
É como se a polarização tivesse deixado de existir, com o enfraquecimento dos dois polos que a alimentavam desde a redemocratização de 1985 e desde a Constituição de 1988.
Não é uma simples coincidência o fato de Lula e Aécio terem naufragado com poucos dias de diferença. O Brasil mergulha agora no vazio de um imenso espaço desconhecido, cuja substância política e partidária a próxima eleição presidencial procurará definir.
FOTO: Wilson Dias/Agência Brasil