Quem ainda acredita em Michel Temer?

Credibilidade do presidente se comprometeu ao tentar se defender contra Janot. Mas, mesmo enfraquecido, ele sobreviverá: tem o apoio na Câmara para bloquear o processo criminal

João Batista Natali
28/Jun/2017
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Quem ainda acredita em Michel Temer?

Quem ainda acredita em Michel Temer? Depende de como se interpreta a pergunta.

Se for para levar em conta a credibilidade da defesa que ele fez nesta terça (27/06), contra as acusações pesadas que foram feitas contra ele, pela Procuradoria Geral da República, é um pouco difícil acreditar em Temer.

Mas se for para tentar saber se ele tem força para se manter no Planalto, obtendo na Câmara os 172 deputados que bloqueariam a abertura do processo penal contra ele, então já fica mais fácil acreditar em Temer.

Essas duas respostas contraditórias definem o brejo político que o país começou a percorrer em 17 de maio, quando se divulgou a gravação da conversa do presidente com Joesley Batista.

Nesse brejo, Temer está com a credibilidade profundamente abalada. Mas nem por isso existe no horizonte um roteiro para sua próxima substituição.

Vamos por partes. Para se defender, durante o pronunciamento que fez na terça, o presidente optou por atacar o procurador-geral Rodrigo Janot.

Não afirmou apenas que a denúncia que ele redigiu é desprovida de provas e baseadas em “simples ilações”. Deu também a entender – o que é muito pesado em termos éticos – que Janot se associou pecuniariamente a Marcello Miller, seu ex-braço direito, que deixou o Ministério Público para, como advogado, assessorar a JBS a operar juridicamente a delação premiada dos irmãos Batista.

A questão não é saber se essa insinuação comporta algum cheiro de verdade. A própria procuradoria respondeu, em nota, que havia alguns meses Miller já estava fora do gabinete do procurador-geral, quando membros do Ministério Público e da Polícia Federal assessoraram Joesley a reunir provas comprometedoras contra Temer.

TEMER E LULA NIVELADOS NO MESMO PLANO

Ao optar pelo ataque como linguagem de defesa, Temer se nivelou ao mesmo plano em que vem atuando Luís Inácio Lula da Silva, que ataca o juiz Sérgio Moro e os procuradores de Curitiba e que reitera não existirem provas para condená-lo.

Ambos dizem, com linguagem muito parecida, serem vítimas de perseguição política.

Aliás, não é essa a única coincidência entre o presidente e seu antecessor petista. Ambos querem que o atual mandato presidencial prossiga até dezembro de 2018. Temer para não ser apeado. Lula para se beneficiar eleitoralmente da má reputação de um governo ao qual faz oposição.

Mas voltemos aos “fartos elementos de prova” que Janot diz ter reunido contra o presidente.

Segundo o procurador, há tentativa de obstrução de Justiça em razão do acerto com Joesley para pagamento pelo silêncio do doleiro Lúcio Funaro e do ex-deputado Eduardo Cunha.

Haveria corrupção passiva com os R$ 500 mil semanais – a primeira leva foi registrada em poder do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures – para viabilizar combustível mais barato a uma usina termelétrica da J&S, holding do grupo.

E há formação de quadrilha pelo fato de, ainda na presidência do PMDB, Temer ter pedido e distribuído caixa dois que a JBS Friboi encaminhou para o partido e para personagens como Moreira Franco, Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima ou Henrique Eduardo Alves, personagens íntimos do Planalto.

Alves, Funaro e Cunha estão presos.

E há ainda o caso do ex-coronel da PM paulista João Baptista Lima Filho, um histórico homem de confiança do atual presidente, que custeou com dinheiro de origem obscura, por exemplo, a reforma da casa da filha de Temer, Maristela, no bairro paulistano do Alto de Pinheiros.

TEMER E DILMA: CENÁRIOS DIFERENTES

Estamos, então, diante de casos tão ou mais escabrosos quanto aqueles que levaram, em 2016, ao afastamento de Dilma Rousseff.

Mas duas diferenças fundamentais separam Dilma de seu antigo vice: o apoio no Congresso e o silêncio das ruas.

No caso dos congressistas, existem aqueles que acreditam honesta e desinteressadamente que a queda de Temer comprometeria as reformas sobre as quais se fundamenta a recuperação da economia.

E há também aqueles que, investigados por suborno ou caixa dois, estão convictos de que só com Temer no Planalto o Executivo conseguirá se contrapor ao “espírito justiceiro” que desembocou nos supostos excessos de Janot e da Java Jato, num desequilíbrio entre os Poderes (o Judiciário e o MP tenderiam a tutelar o Planalto e o Congresso).

Com relação às ruas, elas estão excepcionalmente silenciosas. Caso Temer estivesse merecendo as mesmas concentrações monstruosas que pediam o impeachment de Dilma, o atual equilíbrio de forças seria com certeza outro.

As duas tentativas dos partidos e sindicalistas da oposição – a primeira em São Paulo, na avenida Paulista, e a segunda no Rio, em Copacabana – não chegaram a ser insignificantes. Mas frustraram em termos numéricos quem as convocou.

As manifestações de rua valem pelo espírito catártico que contamina os próprios manifestantes, mas também funcionam como uma demonstração de força que deputados e senadores, sobretudo em ano pré-eleitoral, acabam levando em conta.

Existe, por certo, a “greve geral” convocada para o dia 30 de junho. Mas será uma nova iniciativa marota.

O plano consiste em obter a adesão dos transportes públicos, para que ninguém consiga chegar ao local de trabalho. Com relação às escolas, elas maliciosamente anteciparam em 24 horas as férias de julho e funcionarão só até o dia 29.

Assim, a greve se tornou uma peneira com grandes furos que não conseguem esconder o sol da baixa mobilização popular contra o governo.

Sobretudo no momento em que se torna consensual o fato de a reforma da Previdência, a que gerou mais descontentamento, estar em banho-maria no Congresso. E não será por enquanto votada, porque as energias do Planalto se concentram, agora, em salvar o mandato do presidente.

FOTO: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

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