Temer: CPI da pandemia não será útil para o país

O ex-presidente da República esteve na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), onde cobrou alinhamento dos governos para o enfrentamento da crise da covid-19

Renato Carbonari Ibelli
12/Abr/2021
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Temer: CPI da pandemia não será útil para o país

O ex-presidente Michel Temer disse que Bolsonaro perdeu a oportunidade de sair como herói da crise da covid-19 por não ter assumido a frente do combate à pandemia. Por outro lado, vê com preocupação a instalação de uma CPI contra o presidente neste momento.

Temer participou nesta segunda-feira, 12/04, de reunião do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Segundo o ex-presidente, a CPI é sempre um movimento político que, mesmo não resultando em nada, acaba causando problemas políticos.

“A CPI costuma ser um processo longo, e vai gerar fatos com o recente diálogo gravado entre Bolsonaro e o senador [Jorge] Kajuru. Não vai ser útil para o país”, disse o ex-presidente.

No diálogo mencionado por Temer, gravado e divulgado em redes sociais pelo senador Kajuru, Bolsonaro pede a inclusão de governadores nas investigações da CPI e a abertura de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Para o ex-presidente da República, esse tipo de situação desvia o foco da atual prioridade, que é o combate à pandemia. “O presidente deveria simplesmente deixar que a CPI fosse instalada. Se contestar demais, dá relevo extraordinário para quem o acusa”, disse.

As atenções, segundo Temer, deveriam estar voltadas à elaboração de medidas conjuntas envolvendo os governos Federal, estadual e municipal, para controle da pandemia e ajuda à pessoas e empresas em dificuldades pela paralisação da economia.

“É preciso compatibilizar a preservação da vida com a economia. Não há uma solução definitiva, mas o que os governos precisam fazer é destinar todo recurso possível para esses fins. O presidente deveria ter capitaneado essas ações, sairia como herói”, afirmou Temer. “Quando o povo vê as divergências [entre governo federal e estaduais], pensa: o que será de nós?”

Alfredo Cotait Neto, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), lembrou que parte do comércio está fechada há praticamente um ano, situação que se for prolongada, acabará em falências e demissões.

Alinhado à ideia de diálogo levantada pelo ex-presidente da República, Cotait disse que tem conversado abertamente com o governo paulista para tentar encontrar uma solução que alivie os prejuízos ao comércio.

“O problema da pandemia é real, não podemos descuidar da saúde. Mas acreditamos que o comércio não essencial não pode pagar a conta do agravamento da pandemia”, disse o presidente da ACSP.

Um ofício encaminhado recentemente pela Facesp ao governo paulista sugere alternativas para abertura da economia sem descuidar da questão sanitária. Entre as ações, está o maior controle sobre atividades clandestinas e aglomerações.  

RADICALIZAÇÃO

Temer disse que hoje o Brasil está dividido, e que o “ódio entre os brasileiros perturba o país”. Para o ex-presidente, a disputa esquerda contra direita precisa ser pacificada.

“Esse debate não faz mais sentido desde a queda do muro de Berlim”, disse. “A população quer alguém que resolva os seus problemas, independentemente se é de esquerda ou direita. O que temos que combater é o radicalismo.”

Para ele, levar essa divisão para 2022 não seria positivo para o país. O ex-presidente vê a alternativa no centro. “Mas é preciso que se tenha unidade, porque o centro se divide muito. Se forem três candidatos de centro, seria de bom tamanho”, afirmou.

Apesar da radicalização política pela qual atravessa o país, Temer não acredita que esse processo desemboque em ruptura institucional. “O país tem instituições consolidadas e, no campo político, as forças armadas não sinalizam qualquer ruptura. Além disso, no Congresso, não vejo nenhuma inclinação para que isso aconteça”, disse.

Da mesma forma, Temer não acredita na possibilidade, nem na necessidade de uma nova Constituinte. “Temos de trabalhar com aquilo que o Estado é, e não com o que ele será após uma Constituinte, que sempre pode trazer novos problemas.”

SEMIPRESIDENCIALISMO

O ex-presidente voltou a falar de sua simpatia por um sistema semipresidencilista para o Brasil. Temer acredita que há espaço para aprovação de uma proposta nesse sentido no Congresso para ser emplacada no processo eleitoral de 2026. “Claro que a ideia seria submetida a referendo popular, para que a população entenda a função do presidente e do primeiro-ministro”, disse.

Segundo o ex-presidente, há duas vantagens no semipresidencialismo. Uma seria a facilidade de destituir o governo formado quando este perde apoio popular e parlamentar. Nesse caso, não seria preciso um processo de impeachment, que Temer julga ser traumático para o país.

A outra vantagem seria a divisão da responsabilidade do executivo entre o presidente e o primeiro-ministro, que teria uma cadeira institucional no parlamento. “O parlamento também se tornaria responsável pela execução administrativa do país”, afirmou o ex-presidente.

IMAGEM: ACSP/divulgação

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