Qual a fórmula de sucesso do Busca Busca?
A resposta para essa pergunta o Diário do Comércio foi buscar diretamente com Alex Ye, o ‘chefe do benefício’, que contou sua estratégia para oferecer preços abaixo do mercado, falou sobre novos investimentos e desafiou quem o chama de sonegador
São 5 milhões de seguidores conquistados em pouco mais de 3 meses e posts com até 3 milhões de visualizações. Quem vê, pensa que estamos falando de algum artista, mas o perfil em questão é de um chinês de 36 anos, empresário do Brás, que abriu uma loja de importados no coração do bairro em dezembro do ano passado.
Experiente no ramo varejista, Alex Ye, ou chefe do benefício, como ficou conhecido, hoje é uma celebridade no meio. O primeiro endereço ficou pequeno e, no dia 30 de março, mudou-se para o Shopping Plaza Polo.
Agora ele atua com consultoria, trazendo importadores para dentro do Espaço Busca Busca para venderem diretamente ao consumidor final. Além disso, anunciou sua estreia no ramo de franchising e promete um marketplace para atacadistas com os preços mais baixos do Brasil.
Nascido em Wenzhou, na China, em 1988, Ye cresceu entre grandes lojistas, que foram sua inspiração para seguir na área. Chegou ao Brasil com 10 anos e, quando completou 20, já era dono de uma fábrica com mais de 300 funcionários e passou a investir em diversas áreas do comércio.
Ye circula atualmente no Espaço Busca Busca com segurança particular, devido ao grande número de pessoas que o abordam. Ele atende a todos com muita paciência e simpatia, tirando fotos com os fãs que pedem uma pose ao lado do Chefe. “Fiquei famoso da noite para o dia”, brinca.
O empresário conversou com o Diário do Comércio em uma entrevista longa e cheia de novidades, mas também falou de seus sonhos para o futuro e como pretende atuar fortemente na área de filantropia no Brasil.
DC - Você já atuava há muitos anos no comércio de roupas. O que o fez decidir mudar para o ramo de importados?
Alex Ye - Meu sonho nunca foi ser lojista, apesar de eu ter lojas de roupas há muitos anos no Brás e região. Durante os últimos anos, conheci muitos importadores e isso me fez pensar em atuar com isso. Eu abri o Busca Busca para fazer a marca ser conhecida e depois a estratégia sempre foi trazer os importadores para dentro do meu espaço e apenas administrar a marca. Só não achei que isso seria tão rápido.
Você fez um investimento considerável no primeiro endereço, com infraestrutura principalmente, mas fechou o local para mudar-se para o Shopping Plaza Polo…
Sim, já fechamos lá porque ficou muito pequeno. O investimento é irrelevante porque posso alugar para algum interessado. Tínhamos muita fila do lado de fora com pessoas querendo comprar e o local não comportava tanta gente. No Plaza Polo tem muito mais espaço, banheiros em todos os andares, ar condicionado e acabamos com as filas definitivamente. Mas, aqui, o modelo é diferente. Não sou mais eu quem vende diretamente, mas sim os importadores. Sou apenas o canal, eles estão dentro do meu espaço e seguem as minhas regras. Quem vende aqui está atrás do benefício que eu ofereço, então precisa ter preço baixo.
Como você consegue oferecer produtos com valores menores até que os cross borders Shopee e AliExpress?
Eu conheço quase todos os importadores da China e o meu poder de negociação de volume fez com que eu conseguisse benefícios maiores quando se trata de preço. É só baixar um pouco a margem que dá para vender mais barato. Mas, mais importante do que isso, a fórmula para se conseguir um bom preço é acabar com os atravessadores que existem no varejo. Ou seja, há várias camadas de negociadores até chegar no consumidor final. O importador vende para o representante, que vende para o atacadista, que repassa para o atacadista regional, que vende para o lojista e aí chega no cliente. Eu elimino todas essas camadas. Aqui no Espaço Busca Busca, o importador vende diretamente para o consumidor. Por isso é tão barato.
Com a mudança para o Shopping Plaza Polo, qual é exatamente seu papel já que não vende mais diretamente para o consumidor final?
O espaço é meu, só entra aqui quem eu quero, quem está dentro das minhas condições. Se a margem do importador for alta, eu não aceito. Também não permito produtos de má qualidade. Tem que vender coisa boa para os meus seguidores. Fora isso, eu e minha equipe fazemos a curadoria dos produtos. Não é qualquer coisa que pode ser vendida aqui. Nós realizamos um filtro do que é realmente bom.
Muita gente comenta que você sonega impostos para conseguir vender tão barato, ou que faz contrabando. O que acha dessas notícias que saem sobre você?
Olha, inveja sempre tem e inverdades também. Quem fala isso não conhece nosso trabalho. O simples fato de se permitir que o consumidor compre diretamente do importador já é o principal motivo para um preço imbatível. É só ver a matemática da coisa. Qualquer pessoa que entrar no Espaço Busca Busca e pedir nota fiscal de suas compras vai recebê-la. Nós também atuamos muito com atacado, então é impossível vender uma cota tão grande com caixas fechadas sem emissão de nota fiscal e pagamento dos devidos impostos.
Você cresceu nas redes sociais prometendo preços mais baratos que os da Shopee. A estratégia sempre foi chamar a atenção pelos baixos valores dos produtos?
A minha estratégia sempre foi pautada pelos pilares que citei anteriormente. Sim, o preço é o maior atrativo, mas isso só é possível porque fazemos a negociação diretamente com o importador, sem atravessadores. A questão é que realmente vendemos mais barato que a Shopee ou o AliExpress. Isso não é uma desculpa para atrair mais seguidores. É só o cliente vir e comprovar. Nem tudo vai ser sempre mais barato, obviamente, mas temos uma boa porcentagem.
A que você remete o seu sucesso repentino nas redes sociais? Porque vender importados não é nenhuma novidade, ainda mais na região central de São Paulo, que tem tantas lojas desse ramo.
Acredito que o principal motivo seja o preço, pelas questões que já mencionei, mas também trago variedade e produtos de valor. Não são apenas bugigangas, como se diz para itens baratinhos. Isso não tem nada a ver com qualidade. Temos ferros, aspirador de pó, máquina de lavar portátil e tantas outras coisas que habitualmente não se encontram em lojas que vendem produtos importados. A nossa variedade é muito grande e nossa reposição com novidades também. Resumindo, esse sucesso vem de um combinado de venda direta, margem mais baixa e produtos diferenciados.
Atualmente, o Espaço Busca Busca ocupa apenas o primeiro andar do Shopping Plaza Polo. Você tem planos de expandir ainda mais para os demais andares?
Sim, meu objetivo é tomar em breve os demais andares para cima conforme os importadores forem chegando. Isso já está em negociação com a administradora do shopping.
Qual o tipo de contrato que você tem com o Shopping Plaza Polo? Cada importador aluga seu box?
Não. Eu alugo o espaço todo e reloco para os importadores. Mas não ganho dinheiro com locação. Tudo é doado e não é uma ação momentânea. Será sempre assim.
Doado para quem?
Para instituições de caridade, como orfanatos e abrigos, principalmente as que cuidam de crianças. Esse é o meu maior sonho, ajudar centenas de instituições. Eu já tenho uma vida confortável. Meu foco não é mais ganhar dinheiro só para mim e para a minha família. Vou lançar a Associação Busca Busca, pela qual vamos ajudar o maior número de pessoas que eu puder por meio do meu trabalho. Espero que seja uma das maiores instituições filantrópicas do Brasil em um futuro muito próximo.
E quando isso começa?
Já começamos. Temos feito doações de móveis, eletrodomésticos e estamos reformando alguns locais. Para isso, além de todo o dinheiro da sublocação do Plaza Polo, eu estou trazendo importadores que tenham essa mentalidade e missão junto comigo para doar. Planejo construir escolas e centros de atendimento. O Brasil é a minha casa. Não pretende voltar para a China. Tenho quatro filhos brasileiros e toda uma vida estruturada aqui. Quero continuar trabalhando para fazer a diferença na vida de muitas pessoas e que isso impacte positivamente a minha própria vida. Sinto essa necessidade em ajudar.
E como as instituições podem se inscrever?
Por enquanto, somos nós que estamos buscando esses centros. Espero ter algo mais estruturado em pouco tempo e divulgar mais detalhes.
Você afirmou recentemente que vai abrir novos espaços Busca Busca em outras cidades. Como está esse processo?
Sim, iniciamos o processo de franchising para quem quiser levar o Espaço Busca Busca para sua cidade em abril. Já vamos inaugurar nas cidades de Sorocaba, Campinas, Osasco e São José dos Campos. Estamos em negociação com outras. Meu objetivo é atuar em todo o Brasil.
E o marketplace, sai realmente em três meses? Que tipo de produtos vai ter?
O marketplace do Busca Busca vai ser o mais barato para os atacadistas brasileiros. Já tenho mais de 30 mil atacadistas cadastrados, que só querem comprar caixas fechadas para depois revender por todo o Brasil. Assim que lançarmos a plataforma, eles já poderão fazer suas compras sem precisar vir para São Paulo. Isso deve acontecer em mais ou menos três meses. Tudo o que temos no Espaço Busca Busca estará no marketplace.
Qual vai ser a comissão a ser paga ao Busca Busca?
Vamos praticar uma revolução no mercado por meio de uma taxa de apenas 5%. Nenhum site faz isso, nenhum marketplace. A média é de 20%, além do custo do frete individual.
Como vai conseguir cobrar uma comissão tão diferente do mercado?
Neste ramo, há muita concorrência, muita gente fazendo a mesma coisa. Se você não se destaca de alguma forma, será apenas mais um. O meu foco é trazer um real benefício para ambas as partes e me tornar referência, já que vou conseguir que o atacadista compre diretamente do importador pela minha plataforma. E, dessa forma, o produto vai chegar mais barato ao consumidor final.
Será possível ao consumidor final comprar também no atacado?
Não, o marketplace é exclusivo para atacadistas. Tenho planos para abrir um e-commerce do Espaço Busca Busca para os consumidores do varejo, mas isso ainda não está no ar. Existe um site na internet se passando por nós, com o domínio “.com”, que é falso. Usam nosso nome e logotipo indevidamente. Quero deixar claro que o Espaço Busca Busca do chefe do benefício ainda não tem e-commerce em operação. Por enquanto. A página está em construção no link https://buscabusca.com.br. Este é o nosso site.
Você já teve sete lojas da Bella Plus, sua marca de roupas, no Brás. Em março passado, contou ao DC que reduziu para quatro. Ainda as mantém?
Vou fechar todas. Não tenho mais tempo para isso. Minha atenção total agora é o Busca Busca. São lojas que precisam de dedicação total e não tenho disponibilidade. Realoquei a maioria dos meus funcionários para o Espaço Busca Busca.
Alex, você disse que está doando os valores de locação dos boxes do Espaço Busca Busca. E também não vende mais produtos diretamente pelo Busca Busca e vai fechar as Bella Plus. Então, como ganha dinheiro atualmente para conseguir abrir mão disso tudo?
A minha marca ficou muito conhecida e tenho quase 5 milhões de seguidores nas redes sociais, número que cresce consideravelmente todos os dias. Cada vídeo que eu faço é caro, muito caro. Os importadores me pagam para mostrar seus produtos com a chancela do meu nome. Então eu ganho com propaganda basicamente. Para o importador não é interessante vender barato e picado, mas comigo eles serão conhecidos no Brasil inteiro. Eles estão aqui para fazer sucesso junto comigo. Isso tem seu preço.
Quem é o seu público?
São pessoas entre 22 e 50 anos na maioria dos casos, homens e mulheres. Meu público vem das redes sociais, que assistem aos meus vídeos e posts. No entanto, ultimamente, muita gente tem vindo porque ouviu falar de nós.
Você ainda faz live commerce como no início?
O Busca Busca nasceu como um negócio on-line, apostando na estratégia MCN (Multi Canal Networking), ainda não amplamente divulgada no Brasil. Hoje eu vejo o live commerce (evento virtual para maximizar vendas, com transmissão ao vivo) como um grande aliado nas vendas. Eu vendia por meio do aplicativo de vídeos Kwai no início de 2023, anunciando os produtos em transmissões ao vivo com até dez horas de duração. No entanto, não tenho tido tanto tempo para fazer as lives, então tenho gravado apenas vídeos. Gostaria de voltar a fazer em algum momento.
Há alguma melhoria que você ainda planeja para o Espaço Busca Busca no curto prazo?
Sim, eu quero ter grandes marcas aqui, como a Xiaomi, por exemplo, entre outros nomes importantes na China. Poderia listar várias aqui que têm um potencial muito grande no mundo, mas ainda pouca penetração no Brasil. Eu gostaria de trazê-las.
IMAGEM: Busca Busca/divulgação