Produtividade da economia ficou estagnada em 2018

Precarização do emprego e avanço na informalidade podem explicar a interrupção na trajetória de melhora da produtividade, de acordo com o Ibre/FGV

Estadão Conteúdo
11/Mar/2019
  • btn-whatsapp
Produtividade da economia ficou estagnada em 2018

Em meio a um cenário de recuperação ainda lenta da atividade e de aumento no número de pessoas trabalhando na informalidade, a produtividade da economia brasileira ficou estagnada em 2018, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

A produtividade da economia por hora trabalhada não se alterou no ano passado, interrompendo o início de recuperação ensaiado no ano anterior, após o fim da recessão. Em 2017, houve alta de 1%, após três anos consecutivos de perdas.

LEIA MAIS: Qual será o motor de crescimento em 2019?

"Em 2017 a recuperação da produtividade começa a perder fôlego e de fato piora em 2018", apontou Fernando Veloso, pesquisador do Ibre. "O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2017 e 2018 foi igual, de 1,1%. A produtividade, não. Na verdade, em termos de produtividade, não foi só estagnar, piorou, foi mais forte ainda", completou o autor do estudo.

A precarização do emprego, com o fechamento de vagas com carteira assinada e o avanço no número de pessoas na informalidade, pode ajudar a explicar a interrupção da trajetória de melhora na produtividade. Veloso lembra que o setor formal tem, em média, quatro vezes mais produtividade do que o informal.

"O setor formal utiliza tecnologias mais avançadas, emprega trabalhadores de nível educacional mais elevado e tem mais acesso a crédito. As empresas que são mais produtivas estão no setor formal", disse Veloso.Hoje, o patamar de produtividade da economia brasileira por hora trabalhada está no nível de 2012 e 2,7% abaixo do pico alcançado no primeiro trimestre de 2014.

LEIA MAIS: Doria vai desonerar montadoras que investirem em São Paulo

Se considerada a produtividade da economia por trabalhador ocupado, a situação é mais crítica: 5% aquém do pico também alcançado no primeiro trimestre de 2014, porque a crise no mercado de trabalho fez encolher também o número de horas trabalhadas.

"O trabalho informal não é produtivo e tem efeitos colaterais sob vários aspectos. Por exemplo, um jovem que sai da faculdade e não consegue emprego na sua área de conhecimento vai vender roupa, trabalhar no comércio. Ele vai ter dificuldade de voltar para a sua área depois", disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

RECORDE

Azeredo aponta que o Brasil tem até 40 milhões de trabalhadores atuando na informalidade, nível recorde da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). O estudo da FGV sobre produtividade foi feito a partir de informações do mercado de do cruzamento trabalho, apuradas pela Pnad Contínua, com os resultados da economia levantados pelas Contas Nacionais Trimestrais, também divulgados pelo IBGE.

O levantamento mostra que o mau desempenho da produtividade no ano passado foi puxado pelo setor de serviços, que teve queda de 0,6% na produtividade por hora trabalhada, o quinto ano seguido de retração. Na agropecuária, a produtividade cresceu 1,1% em 2018, enquanto na indústria subiu 1,3%.

O setor de serviços é intensivo em mão de obra, responsável por cerca de 70% das horas trabalhadas no País, além de ser marcado também por vínculos de emprego informais, lembrou o pesquisador do Ibre/FGV. No caso da agropecuária, o desempenho da safra agrícola, muito ligado a questões climáticas, justifica o comportamento mais errático ao longo dos anos.

Já a indústria - segmento que utiliza mais tecnologia e mecanização, com trabalhadores mais qualificados e presença mais forte da carteira de trabalho assinada - enxugou empregos e horas trabalhadas nos últimos anos. Isso fez com que mantivesse resultados melhores entre os grandes setores da economia, embora também tenha perdido fôlego.

Fernando Veloso defende a necessidade de aprovação da reforma da Previdência como medida mais urgente para garantir um desempenho melhor da produtividade em 2019, mas enumera outras mudanças necessárias, como nas áreas tributária e trabalhista.

"A gente precisa de reformas que tornem o ambiente mais favorável para a geração de empregos nas empresas mais produtivas. Em cada setor existem empresas que são muito mais produtivas que outras, mas elas não estão gerando empregos necessários para fazer crescer a produtividade", disse.

Para José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a produtividade poderia ser alavancada no curto prazo com investimentos em tecnologia.

"No médio prazo, a opção seria investimento em infraestrutura, como rodovias, ferrovias. Uma maior abertura da economia também poderia ter um impacto grande, com as empresas tendo que se modernizar para serem mais competitivas." 

O Diário do Comércio permite a cópia e republicação deste conteúdo acompanhado do link original desta página.
Para mais detalhes, nosso contato é [email protected] .

Store in Store

Carga Pesada

Vídeos

Para Ricardo Nunes, melhorar a desigualdade só com investimento em diversas frentes

Para Ricardo Nunes, melhorar a desigualdade só com investimento em diversas frentes

Entrevista com Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária

Marina Helena, candidata à Prefeitura de SP, quer devolver IPTU a comerciantes