Previsão do varejo de crescer 5% em 2021 pode não se concretizar

Desemprego, queda na renda e a elevação dos preços e dos juros começam a frear a retomada do setor, sinalizaram economistas e empresários do Comitê de Conjuntura da ACSP

Karina Lignelli
29/Out/2021
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Previsão do varejo de crescer 5% em 2021 pode não se concretizar

A tentativa do Banco Central frear a escalada da inflação com nova elevação da taxa Selic - de 6,25% para 7,75% ao ano - não agradou o comércio nem o setor produtivo, que avaliam que os juros altos prejudicam a retomada econômica e não conseguirão segurar a inflação, pois no momento ela é gerada por problemas de oferta, não de aquecimento da demanda.

Na avaliação de um economista presente à reunião de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizada na quinta-feira (28), "a pior posição para o Brasil é correr atrás da curva de alta, pois, além de influenciar o câmbio, vai gerar efeitos sobre o crédito, os empréstimos, e redundar em aumento de inadimplência na ponta." 

A pedido da ACSP, os nomes dos participantes dessa reunião não são divulgados.

O comércio começa a se preparar para os efeitos da inflação e dos juros elevados. "Já estamos prevendo desaceleração nas vendas do varejo, que deveriam crescer em torno de 5%", disse o economista. 

Outros fatores influenciam negativamente essa questão, como o desemprego e a queda na renda, que continuam muito difíceis. Sem contar a confiança do consumidor, que voltou a recuar. 

Esse somatório de variáveis tem provocado, ou ainda provocará, mais arrefecimento na retomada do varejo, que era bastante promissora com a flexibilização das medidas de isolamento social e a reabertura das lojas. 

Iniciar o ano com a taxa Selic no menor patamar da história (2%) em plena crise, e correr atrás da inflação só agora, foi um grande erro, na opinião do economista. "Esperamos que o Copom tenha um pouco mais de bom senso e faça um novo ajuste que não dê a impressão de que o país está correndo atrás da curva de inflação", destacou. 

NO E-COMMERCE 

Mesmo não sendo uma das datas mais fortes para o varejo e o e-commerce, o Dia das Crianças gerou bons resultados para o comércio como um todo no mês de outubro, que deve fechar positivo.

Citando dados de uma pesquisa da Neotrust em parceria com a Socialminer, realizada nos 15 dias anteriores ao dia 12 de outubro, um especialista em e-commerce que participou da reunião de conjuntura da ACSP destacou que o faturamento das lojas virtuais ficou 63% maior do que em igual período de 2020. 

Com tíquete médio de R$ 435, o setor faturou R$ 400 milhões em um único dia, afirmou. "Só para se ter uma ideia desse crescimento, o faturamento do ano inteiro de 2001 foi de R$ 550 milhões."

Outro dado não tão positivo trazido pelo especialista foi o aumento no número de fraudes de compras on-line na data, que foi de 1,61% a cada 100 operações realizadas, ante 1,07% em 2020 - uma alta de 50%.

Já em categorias top, como eletroeletrônicos, bebidas e brinquedos, a cada 100 tentativas de efetuar uma compra virtual, 9,59%, ou seja, quase 10 em 100, foram configuradas como fraude. 

"Principalmente agora, com a proximidade da Black Friday e do Natal, analisar e procurar coibir possíveis tentativas de fraude é obrigatório para evitar prejuízos e garantir a sustentabilidade do negócio."

INDÚSTRIA x PREÇOS

Na indústria de eletroeletrônicos, os dados continuam estáveis, mas o emprego tem apresentando resultados mais favoráveis, de acordo com uma representante do setor presente à reunião da ACSP. Só em setembro, foram criadas 2,4 mil vagas, acumulando 20 mil novos postos ao longo de 2021, explicou.

Na comparação com 2019, o único indicador com marca anterior à pandemia são as exportações, que cresceram 27%, mas ainda 2% abaixo daquele ano. Já as importações ficaram em 29%, ou 22% acima.

A produção cresceu 12%, também 2 pontos percentuais acima, indicando estabilidade com tendência de queda. "Mas estamos atentos, pois esse indicador está com mais cara de esfriamento que os demais." 

Mesmo assim, na sondagem mensal da indústria, 65% das empresas apontaram crescimento dos negócios acima do esperado, e crescimento na capacidade instalada de 77% desde o início do ano, destacou. 

Entre as principais dificuldades, continuam a escassez de matérias primas e a crise dos componentes e semicondutores, que atrasaram a entrega e a produção de 67% das empresas. 

A representante do setor, entretanto, destacou que a indústria de eletroeletrônicos não foi atingida tão severamente como a indústria automotiva, e por isso haverá produtos suficientes para a Black Friday e o Natal. 

O que não vai ter são preços atrativos, alertou, por conta da anormalidade dos semicondutores, da inflação e do aumento do custo de matérias primas, sentido por 83% dos entrevistados, afirmou. 

"Outros 72% mencionaram os altos custos de energia, os gargalos logísticos e a falta de contêineres, que aumentaram o preço dos fretes e têm atrasado o recebimento de componentes importados."

 

FOTO: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

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