Precariedade paulistana
O amadorismo e a incompetência do atual prefeito de São Paulo transparecem em cada canto da cidade
O prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, autointitulado “poste de Lula”, tem aparecido em inserções comerciais no chamado horário nobre da televisão, dentro do tempo gratuito do PT, também auto elogiando iniciativas suas que, na prática, revelam uma ausência total de plano de governo, de competência gerencial e de iniciativas públicas que não sejam demagógicas e populistas.
Mente como é comum às gestões petistas.
Na verdade, para quem vive na cidade há mais de meio século, como eu, acompanhando de perto todas as gestões que passaram até agora pela prefeitura, é possível comparar a mediocridade da gestão atual com períodos, por exemplo, de Chico Maia, quando punha as finanças da cidade em dia, portanto, beneficiando-a ao longo do tempo; de Celso Pitta, o “poste” de Maluf que quebrou o ritmo da própria cidade com sua ineficiência , e de Marta Suplicy, com suas obras míopes, pequenas, numa administração onde quem mandava era seu então marido, um argentino francês, ou francês argentino, de quem não se ouve mais falar.
Em média, desde Faria Lima, as gestões municipais têm sido fracas. Quando realizam obras ficam cercadas de acusações, como Paulo Maluf ou Luiza Erundina.
É verdade que a grandeza descontrolada da capital paulista aponta para ausência de planejamento e administração eficientes há mais de um século.
Talvez remonte à origem, à fundação, mas teria havido tempo de correções se o foco não fosse a política mesquinha, ou, ainda, se os sucessivos alcaides paulistanos tivessem dirigido a cidade pensando no futuro e não na sua obra pessoal.
Quem vive o gigantismo da pauliceia em seu dia-a-dia, andando nas ruas, frequentando seus espaços, precisando dos serviços municipais, sabe que em raras oportunidades foi tão difícil suportar o caos aparente, a precariedade da cidade.
A improvisação de medidas no trânsito caótico, como faixas exclusivas de ônibus, ciclovias ou ciclo faixas, redução de velocidade máxima (arrecadador de dinheiro das multas, sem critério técnico) a mudança de mão de direção e obras arrastadas, incompletas, além da equivocada opção pelo transporte coletivo sem ter um de qualidade e eficiência, faz hoje em dia o paulistano se arrastar pela cidade.
Não se anda mais em São Paulo. Congestionamentos de toda espécie, ruas esburacadas, mal sinalizadas, semáforos apagados ou piscando em qualquer chuvinha, radares e radares em vias que mudam a velocidade a cada quarteirão, fazem os trabalhadores da cidade, sejam de que classe econômica forem, passar horas, repito, se arrastando, em ônibus, carros, táxis, morrendo em motos ou escapando em cada rua da morte nas bicicletas.
As bicicletas são capítulo à parte. Não se pode dizer que é um transporte popular. Além do próprio biciclo, exige-se capacete e roupas apropriadas (além de bizarras) para andar pelas ruas. O custo desse conjunto é de classe média-média para cima.
Atende a um público que merece ser respeitado, mas não na profusão improvisada de deformação das ruas, para faixas onde raramente passam bicicletas ao longo do dia.
A modernidade exige que São Paulo se adapte ao transporte menos poluidor, mais saudável e menos congestionante. Sem educar a população para isto, sem criar condições efetivamente favoráveis, em vez de enfiar as bicicletas no transito assassino da cidade, pintar faixas nas ruas é apenas uma forma irresponsável de fingir que há governo.
A cidade está suja, escura, esburacada e parada. Onde há obras estas parecem não andar. Tudo é lento, demorado, sem falar na ineficiência da administração paulistana em atender às pequenas demandas, mas que põe em risco a vida dos munícipes, como arvores caindo, que precisam de autorização para poda e a prefeitura não aparece.
Quando aparece, diz que é preciso chamar a Eletropaulo por causa dos fios. E assim a cidade vai não andando.
Cito apenas algumas situações. Talvez nem as mais fundamentais, como escola, atendimento médico, qualidade ausente em tudo.
Poderia até parecer exagero se não houvesse uma nova realidade, consequente de tudo que mencionei acima: agora fico preso em congestionamento dentro da garagem do prédio ondo moro, porque o trânsito na rua está parado pela falta de dimensionamento correto da vazão do semáforo na esquina seguinte e da miopia da engenharia que desviou tudo para uma única saída. Isso é obra da atual gestão.
E não adianta tentar me desqualificar porque ando de carro. Andei anos e anos de ônibus, quando trabalhava (como trabalho até hoje) e estudava à noite. O trânsito já era ruim, mas fluía e pude me formar.