Por que será que Temer ainda não deslanchou?

Presidente interino não alça voo porque carrega o peso de alianças políticas com suspeitos da Lava Jato, e porque o PMDB, de aliado privilegiado, acabou virando um estorvo

João Batista Natali
09/Jun/2016
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Por que será que Temer ainda não deslanchou?

Michel Temer completa quatro semanas de governo nesta quinta-feira (09/06), sem traduzir em entusiasmo o alívio de início despertado por alguém que substituiu a desgastada Dilma Rousseff.

Há nisso algo de errado. Ou melhor, há uma confluência de obstáculos que ele, apesar de habilidoso, não consegue superar.

A pesquisa da Confederação Nacional do Transporte, feita pelo instituto MDA e divulgada nesta quarta, traz um pouco do resultado disso. Apesar de uma rejeição infinitamente menor que a de sua antecessora  (28% a 62%), ambos têm uma taxa praticamente empatada em índice de aprovação (11,4% para ela, e 11,3% para ele).

É pouco para quem reuniu uma equipe econômica aplaudida pelo mercado e pela população sensível aos efeitos devastadores da recessão.

Mesmo assim, dá para fazer um balanço provisório daquilo que não vai bem,

TRAPALHADAS – Temer transmitiu a imagem de pouco enérgico e hesitante em episódios como a queda de seu ministro do Planejamento, Romero Jucá, flagrado em gravações nas quais procurava – o que seria impraticável– conter a Lava Jato. Aconteceu o mesmo com o ministro da Transparência, Fabiano Silveira.

Ou com a escolha inadequada de Fatima Pelaes para a Secretaria das Mulheres, ela que desviou para uma ONG fictícia verbas recebidas de sua cota parlamentar. Ou com o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, acusado de financiar a campanha ao governo do Rio Grande do Norte com dinheiro desviado da Petrobras.

Alves e Pelaes não foram descartados, o que provoca a impressão de conivência do presidente interino com os malfeitos mencionados.

REFÉM DO PMDB – Temer, em verdade, não consegue se colocar a cima dessa sequência de personagens que representa práticas correntes no PMDB, partido do qual foi até há bem pouco o presidente nacional.

Ele poderia ainda se dissociar publicamente de personagens como Sarney, Eduardo Cunha ou Renan Calheiros, todos incluídos na desastrada lista de prisões entregue ao STF pelo procurador-geral Rodrigo Janot.

Mas o presidente interino está nas mãos do partido que presidiu em dois planos paralelos. Trata-se, em primeiro lugar, de não atrapalhar o roteiro da votação definitiva do impeachment de Dilma, no plenário do Senado, onde os peemedebistas têm a maior bancada.

Em seguida, há a necessidade de contar com o PMDB para a aprovação das reformas (sobretudo a da Previdência) que dêem uma virada ao quadro caótico herdado do governo anterior.

Temer deseja nesses casos uma tramitação parlamentar tranquila, a exemplo dos dois temas mais recentes, que foram a ampliação de previsão de déficit orçamentário para R$ 170.5 bilhões e a Desvinculação das Receitas da União, a DRU.

No entanto, a impressão que Temer transmite é o de permitir as manobras ilimitadas de dois de seus mais antigos e ilustres aliados.

São eles Renan Calheiros, o presidente do Senado, condescendente com Dilma e que fez jogo duplo durante a tramitação do impeachment, e Eduardo Cunha, o presidente afastado da Câmara, que demonstra não ter limites para escapar da Comissão de Ética, dentro da qual perderia o mandato.

Ao lado de Cunha, que preservou agora sob controle remoto o comando informal da Câmara dos Deputados – ele foi afastado pelo STF -, sobrevive politicamente o patético Waldir Maranhão, vice-presidente da Casa e contra quem o presidente interino se recusa a um mínimo gesto providencial de condenação.

LAVA JATO – Temer tem multiplicados gestos sinceros de que não colocará empecilhos às investigações em mãos do juiz Sérgio Moro ou do ministro do STF Teori Zavascki, encarregado de suspeitos com foro privilegiado.

Essa postura vem desde o desconvite de Cláudio Mariz de Oliveira para o Ministério da Justiça. É um dos melhores amigos do presidente interino, mas que tinha restrições à Justiça Federal de Curitiba.

Acontece que a Lava Jato é um campo minado. Não se sabe onde e o que vai estourar pelo caminho. Temer sabe disso, mas não conseguiu se balizar pelo critério da Lava Jato no momento da escolha de aliados no Congresso, onde travou uma batalha competente e discreta para obter os votos que afastariam Dilma.

O país está conflagrado pelos escândalos de corrupção, e são imprevisíveis os estragos que eles ainda possam indiretamente provocar no quintal do novo ocupante do palácio do Planalto.

PARTIDO DOS TRABALHADORES - Em termos de manifestações de rua, os aliados de Dilma e de Lula podem estar perdendo fôlego. Fracassou nesta quarta-feira (08/06), por exemplo, o ato da avenida Paulista convocado por feministas próximas do PT para protestar contra o estupro, aos gritos também de “Fora Temer”.

A prova definitiva do refluxo poderá estar nas manifestações desta sexta, sob a liderança de Lula no ato paulistano.

 Os chamados movimentos sociais passam por rápido declínio. A CUT considera o governo ilegítimo, mas recuou da decisão de não negociar com ele a reforma previdenciária.

A UNE é objeto de CPI no Congresso. O MTST está com a conta bancária emagrecida. Recorreu à coleta de fundo de simpatizantes e, sem a cumplicidade do governo federal, perde dinheiro e a capacidade de furar a fila para a obtenção da casas populares.

Mesmo assim, o PT permanece vivo no Congresso – tem sido obstrutor e combativo na Comissão de Impeachment do Senado – e possui uma rede internacional de simpatizantes, que ainda esta semana, em Genebra, hostilizou na Organização Internacional do Trabalho a intervenção do ministro brasileiro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.

FOTO: Agência Brasil

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