Parceria entre HC e ACSP vai garantir 1º emprego a jovens com doenças crônicas

Acordo prevê a contratação de 300 adolescentes, pacientes do Hospital das Clínicas, para se reintegrarem à vida como Jovens Aprendizes após longos períodos de tratamento

Karina Lignelli
26/Ago/2024
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Parceria entre HC e ACSP vai garantir 1º emprego a jovens com doenças crônicas

A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) acaba de firmar uma parceria com o Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina da USP (ICr-HCFMUSP) para apoiar o Programa Jovem Aprendiz. Criado pelo departamento de Pediatria do HC, o projeto prevê encaminhar 300 jovens de 15 a 18 anos, portadores de doenças crônicas e atendidos pela equipe, para aprender uma profissão com apoio do seu ecossistema de associados e parceiros comerciais. 

Essa iniciativa faz parte de um grande estudo clínico, "Transição de cuidados de saúde para adolescentes com condições crônicas complexas: uma abordagem multidisciplinar no HCFMUSP", que prevê reintegração social de pacientes com doenças que exigem cuidados constantes ou produzem sequelas (em situação estável no tratamento, e sem distúrbios cognitivos).  

A ideia é recrutar, a partir de 2025, 300 jovens pacientes, de um grupo de 1 mil, já previamente definidos pelo estudo, que apresentam condições crônicas complexas (como necessidade de fazer hemodiálise ou oxigenioterapia) e, desses, 100 com dificuldades de locomoção, para participarem do programa e terem chance de acesso a emprego e renda.  

De acordo com o estudo, pioneiro nessa abordagem no cenário médico global, dos 6,76 milhões de adolescentes entre 15 e 18 anos (dados do IBGE), 2,8% são portadores de doenças crônicas. Entre elas, obesidade e diabetes mellitus, doenças cardiopulmonares, onco-cardiológicas, infecciosas, neurológicas, renais, genéticas e autoimunes, em geral casos complexos e de difícil elucidação.

Com um agravante: no caso dos pacientes do ICr do HC, boa parte vem de localidades fora da Capital ou do estado de São Paulo, inclusive de outros países, e geralmente integram famílias em situação de vulnerabilidade social.   

"Queremos fazer as empresas tomarem conhecimento de que podem dar oportunidade ao menor aprendiz: é um problema sério lidar com adolescente que têm doenças raras, a família adoece junto. Por isso, essa tentativa de convocar o ecossistema ligado à ACSP, para trazer esse menor aprendiz para o ambiente profissional", disse Milton Luiz de Melo Santos, CEO e fundador da fintech ACCredito, da ACSP, integrante do Conselho Diretor do ICr-HCFMUSP, e  responsável por levar a iniciativa à associação e promover o acordo entre as entidades. 

Apesar do conhecimento técnico instalado, falta muita assistência às famílias, pois são casos complexos e de difícil elucidação, explicou a doutora Magda Carneiro Sampaio, presidente do Conselho Diretor do ICr. "Todos os nossos pacientes são de famílias vulneráveis, que precisam de mais apoio que só o médico-cientifico", reforçou. 

Só em 2023, segundo o estudo, o ICr atendeu 84.674 pacientes, sendo 46% adolescentes. Entre os jovens na faixa entre 17 e 18 anos, muitos transplantados, precisam de acompanhamento. Mas é preciso dar alta, pois é o momento de fazer transição para as clínicas de adultos, explicou o doutor Clovis Artur Almeida da Silva, coordenador do projeto junto com a doutora Márcia Thereza Couto, chefe do Deptº Pediátrico de Medicina Preventiva.  

Toda essa mudança, lembrou, causa ansiedade, falta de confiança e baixa adesão ao tratamento e, em consequência, baixas oportunidades de emprego, devido ao tratamento prolongado e longe da convivência social. "Então, é preciso fazer essa preparação do adolescente com autonomia e segurança. E para esses jovens poderem voltar à vida normal, não só para trabalhar e estudar, mas para namorar, poder ir para a festa", completou, reforçando que o projeto não tem só caráter assistencial, mas também fomenta pesquisa e inovação em caráter global nos cuidados médicos com esses pacientes. 

Roberto Mateus Ordine, presidente da ACSP, endossou a iniciativa. "Cumprimos nosso papel de defender a livre iniciativa, o empreendedorismo e a geração de renda pelo associativismo. Mas, mesmo sendo especialistas na área comercial, também temos os olhos voltados para o social, com projetos como o Camp Centro e a parceria com a Espro (também de formação profissional de jovens). Contem conosco", destacou, em reunião com a equipe do ICr, na ACSP, na sexta (23). 

Dentro do estudo, existem 17 projetos de atendimento aos pacientes de 18 especialidades pediátricas do ICr-HCFMUSP, que incluem ensino/educação e pesquisa (doutorado acadêmico, pós-doutorado e iniciação científica, já enviados para aprovação do CAPPesq/CONEP, em Brasília), que abordam temas como sexualidade geral e LGBTQIA+, contracepção, drogas lícitas e ilícitas, hesitação vacinal, saúde mental, insegurança e erros alimentares e o projeto Jovem Aprendiz. 

COMO VAI FUNCIONAR

O estudo do ICr-FMHUSP contempla 1 mil adolescentes com doenças crônicas atendidas, versus 1 mil adolescentes sem doenças, com idades entre 15 e 18 anos, cursando ou tendo completado no mínimo o 9º ano do ensino fundamental.

A proposta do Programa de Jovem Aprendiz prevê duração de dois anos consecutivos, onde eles receberão salário compatível, transporte e alimentação. A jornada de trabalho será de 20 horas semanais, e pode ser na modalidade híbrida para os que precisam fazer acompanhamento constante. O projeto avalia prontidão, autonomia, aderência e saúde mental. Prevê ainda oferecer acesso ao mundo digital, e curso de língua inglesa gratuito e remoto. 

Entre os pontos de discussão abordados com os empresários/empresas que aderirem, estarão as modalidades de trabalho para adolescentes, e a importância de uniformizar a amostra no mesmo ofício, se possível, para ser avaliada pelos pesquisadores.

Será feito um estudo-piloto já no primeiro semestre de 2025 com 30 a 60 adolescentes, e uma reunião posterior de resultado com os empresários. Também haverá um ofício, firmado com a ACSP, para formalizar a parceria. "E a contrapartida é que todas as empresas serão incluídas nas publicações internacionais do projeto", destacou o doutor Clóvis. 

Com apoio financeiro do Comitê Comunitário Consultivo do ICr-HCFMUSP, de acordo com a emenda 3611001 - Fundo Estadual de Saúde (FUNDES), no valor de R$ 471.585,00, curso de inglês cedido pela High Line School e doações da Receita Federal (a parte do IR que os contribuintes doam para esse tipo de projeto), a equipe também precisa, além da disponibilização de vagas para os jovens, de patrocínio empresarial para bolsas de pesquisa e para transporte/lanche para pacientes e não-pacientes participantes do estudo. 

 

IMAGENS: Robson Borges/ACSP

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