Pesquisa mostra que inflação nos supermercados teve maior queda desde 1994. No entanto, as receitas ainda não decolaram. Entre os motivos estão a baixa confiança do consumidor e o endividamento das famílias.
Nesta semana, a Associação Paulista de Supermercados (APAS) divulgou uma pesquisa que aponta que a inflação nos supermercados teve a maior queda desde a criação do Plano Real, em 1994. No acumulado do ano, até novembro, o Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado em conjunto com a Fipe, teve queda de 2,56%.
O índice negativo foi causado principalmente pela queda generalizada nos preços dos alimentos. As baixas acumuladas do leite (11%), arroz (7,36%) e feijão (37,81%), também foram recordes. A projeção da APAS para o mês de dezembro é um recuo de preços, na média de todos os itens, de 2%.
Por outro lado, o crescimento das vendas nos supermercados ainda é tímido. A primeira alta nas receitas, desde o início da crise, aconteceu somente em junho deste ano – um crescimento de 0,39%, em comparação com o mesmo período de 2016. Até novembro, o crescimento foi de 1,54%.
O panorama é complexo. Os preços dos alimentos caíram, principalmente, devido à supersafra brasileira ocorrida ao longo do ano, resultado de boas condições climáticas no campo.
De acordo com a APAS, a produtividade da agroindústria brasileira aliada ao clima gera uma oferta muito mais alta do que a população tem condições de absorver.
O problema de demanda é reflexo da crise. A recessão causou muitos estragos. É verdade que a taxa de desemprego tem melhorado ao longo do ano. No primeiro trimestre, o índice estava em 13,7%. Hoje, a taxa é de 12,2%, com cerca de 586 mil pessoas reinseridas no mercado de trabalho.
No entanto, a confiança do consumidor ainda está baixa. Medido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, o índice, que varia entre 0 e 200 pontos, atingiu a marca de 86,8 pontos em novembro. Embora tenha tido alta nos últimos meses, a evolução do número ainda derrapa devido às incertezas causadas pela contínua crise política e a recuperação lenta da economia.
Há ainda outro problema: o endividamento das famílias, que restringe o potencial de compra do brasileiro.
“62% das famílias estão endividadas e 25% estão com contas em atraso”, afirma Thiago Berka, economista da Apas. “Enquanto não pagar as dívidas, as famílias não vão aumentar o consumo de forma de forma relevante, mesmo com a inflação em baixa”.
De acordo com o economista, a baixa demanda deve continuar até meados de março – e só deve deslanchar com maior geração de emprego e renda.
“Quando o consumidor passar a comprar mais no supermercado, a demanda da indústria deverá aumentar”, diz Berka. “Poderemos ter um novo ciclo de crescimento.”
CONSUMIDOR FUSTIGADO
Após dois anos lidando com inflação, retração do PIB, desemprego crescente e uma forte crise política, o consumidor brasileiro está com o pé no freio. A nova postura é justificada por maior racionalidade na hora das compras.
Entre as mudanças de hábitos de consumo está a maior preferência por marcas mais baratas. De acordo com Berka, isso se dá devido ao fato de que parte dos consumidores não deseja abandonar itens que passou a consumir nos tempos de bonança, como iorgurtes e outros itens supérfulos.
Para não retirar todas as mercadorias do carrinho, ele, então, elege as preferidas, mas escolhe das marcas mais em conta.
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Outra mudança foi o maior consumo de embalagens econômica. Um bom exemplo é o papel higiênico, item de alto consumo, que pode ser encontrado nos mercados em embalagens de até 24 unidades.
Neste caso, a oportunidade para a indústria e supermercado é criar promo packs – oferecer mais de uma unidade ou um produto complementar com leve desconto para fisgar o consumidor.
“É uma maneira de entregar ao cliente maior percepção de valor”, afirma Berka.
Outra mudança relevante tem a ver com a forma de consumir bebidas alcoólicas. O lar é o novo bar. O consumidor diminuiu a frequência de idas em bares e restaurantes e passou a consumir bebidas em casa, em confraternizações com amigos e familiares.
Há também uma mudança nos fatores que motivam o brasileiro a comprar. Uma pesquisa conduzida pelo Centro de Inteligência Padrão mostra que “atendimento” não é mais o fator primordial para uma marca ser respeitada pelo consumidor.
Hoje, a característica de destaque é “qualidade”, apontada por 26% dos entrevistados, seguida de preço e facilidade de pagamento, ambas com 29%. “Atendimento” foi mencionado por apenas 27% dos consultados – em 2016, a percentagem era de 57%.
IMAGENS: Thinkstock e Divulgação
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